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Jorge Marques
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Magda Matos
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José Carreira
Subiu a taxa de risco e a intensidade da pobreza entre as crianças, situando-se acima da média europeia. Um problema grave que deve ser encarado de frente. Com o elevador social inoperacional, tudo indica que a reprodução da pobreza continuará a ser uma triste realidade nacional. O código postal determina, em grande medida, o potencial percurso de cada um, nascer e crescer em Paradinha ou na Avenida 25 de Abril, não é exatamente a mesma coisa. Os pontos de partida de cada criança são diferentes. Crescer numa casa sem climatização, sem livros, sem privacidade, sem os bens essenciais básicos, no interior de um bairro social, num território urbano hostil, dificulta imenso a inversão da pobreza estrutural e geracional, numa espécie de herança maldita que se cola à “pele que serve de teto ao coração” (Luís Miguel Nava). É um orgulho termos uma Escola Secundária, a Alves Martins, que contribui para o contingente de candidatos aos cursos de medicina. Contudo, não devemos invisibilizar aqueles que não frequentam colégios privados, não podem investir em explicações, nos centros de estudos… Não é pobre quem quer, porque não estuda ou porque não quer trabalhar, 10% das pessoas que trabalham, em Portugal, são pobres. Portugal tem a maior percentagem de pobreza energética da União Europeia, com o chocante valor de 20%. Os pobres estão cada vez mais pobres, há cada vez mais crianças pobres. Para estas crianças a escola tem uma importância superlativa, é onde têm acesso a uma refeição quente, talvez a única, e às ferramentas que poderão permitir-lhes sonhar com uma vida melhor, sem privações, com direitos e um futuro no horizonte. Também para estas crianças, as atividades de enriquecimento curricular e a componente de apoio à família são preciosas. É preciso empatizar e educar e não apenas vigiar e ocupar, sem critérios pedagógicos e didáticos que contribuam para o desenvolvimento pleno. As bolsas de pobreza, dos territórios urbanos, continuam a ser uma realidade abstrata para grande parte da população, enviesada por um processo de contínua desumanização. Em países como a Finlândia, Holanda, Austrália, Dinamarca, Nova Zelândia e Dinamarca; as transferências para os mais pobres ficam acima dos 30% e para os mais ricos nunca ultrapassam os 15%. Em Portugal, as transferências públicas medidas em dinheiro para indivíduos em idade ativa, vai 25% para os mais ricos e apenas um pouco menos de 15% os mais pobres (Relatório Society at a Glance de 2024 da OCDE). Combater as desigualdades e promover a equidade são bandeiras que todos devemos empunhar. O relatório da Nova SBE, “Portugal, Balanço Social 2023”, revela que sem apoios sociais, haveria 493 mil crianças em pobreza, cerca de 30%. As crianças continuam a ser um dos grupos da população mais vulnerável a situações de pobreza e exclusão social. À privação alimentar, soma-se a habitacional e a energética, elementos que retroalimentam os mecanismos de transmissão intergeracional de pobreza.
Em Viseu, estamos muito longe da agressividade vivida nos bairros, das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, considerados mais problemáticos, os tais nomeados de zonas urbanas sensíveis (ZUS) onde a polícia tem permissão para atuar de forma mais dura. Este facto não nos deve descansar e fazer desligar dos focos de instabilidade que caracterizam a vida de algumas crianças que vivem no nosso território, em condições precárias e expostas a riscos diversos. Não vivemos a crise humanitária da vizinha Espanha, só as Canárias acolhem perto de seis mil menores que chegaram às ilhas sozinhos em embarcações precárias oriundas de África. Milhões de crianças estão em movimento: fogem da violência, do conflito, de desastres ambientais e da pobreza, em busca de uma vida melhor. Em particular, um número alarmante de crianças está em movimento sozinha. Muitos dos fluxos migratórios constituem uma migração familiar. Em Portugal, já existem escolas nas quais 30%, 40%, ou até mesmo 50%, dos alunos são de origem estrangeira. Estes dados trazem consigo enormes desafios ao nosso sistema educativo, às escolas e a toda a comunidade educativa. Impõem-se, portanto, outras prioridades políticas que contribuam para a integração das crianças e jovens migrantes nas escolas portuguesas, um aspeto fundamental na socialização das próprias famílias. A aprendizagem da língua portuguesa tem que ser a “porta de entrada” na comunidade.
Assistimos, mesmo por parte de atores com responsabilidades acrescidas, a narrativas de culpabilização das pessoas por se encontrarem em situação de pobreza e a estereótipos que as desvalorizam e põem em causa o acesso aos seus direitos.“Não ocorre à generalidade dos privilegiados que estes pobres que geram pobres, geração atrás de geração, são o fruto da sociedade que construímos.” (Paulo Baldaia, Expresso). É necessário promover uma narrativa de inclusão, investir numa maior sensibilização pública sobre o tema da pobreza, do que é viver em situação de pobreza e de como se deve combater o fenómeno multidimensional que requer uma resposta integrada multinível. A Netflix tem uma nova série que ajuda a perceber o que significa nascer, crescer e viver pobre, inspirada no massacre da Candelária, 23 de julho 1993, um crime que tirou a vida de oito crianças e adolescentes. A minissérie tem quatro episódios que contam a história de quatro crianças em situação de rua: Jesus, Douglas, Sete e Pipoca.
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Jorge Marques
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Pedro Escada