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As doenças hepáticas em idade pediátrica são relativamente raras, mas podem afetar crianças e surgir logo desde o nascimento. Os dados disponíveis apontam para 15.000 crianças hospitalizadas, todos os anos, nos EUA, por doença hepática. Na Europa, esta informação não está disponível até à data.
As doenças que envolvem o fígado são, muitas vezes, subdiagnosticadas ou diagnosticadas tardiamente. Mas o seu reconhecimento é fundamental pois algumas podem evoluir para doenças crónicas, tumores e cirrose. Sim, as crianças também podem ter cirrose. Cirrose corresponde à fase terminal de uma doença que envolve o fígado, seja qual for a causa subjacente. Ao contrário do que se possa pensar, a cirrose não é só de causa alcoólica.
Estas doenças podem ser assintomáticas e evoluir silenciosamente ou ter sintomas inespecíficos que se confundem com os de outras doenças – cansaço, perda de apetite, dor abdominal, vómitos. Outras vezes, apresentam-se com sinais mais específicos como a icterícia (cor amarela da pele e olhos), prurido, urina escura, fezes descoradas, aumento do tamanho do fígado e do baço, ascite (líquido na barriga) ou hemorragia gastrointestinal.
São exemplos de algumas doenças hepáticas as seguintes:
1. Esteato-hepatite não alcoólica (Non-alcoholic steatohepatitis – NASH). É a principal causa de doença hepática crónica pediátrica e um problema crescente de saúde pública como consequência da epidemia mundial de obesidade em crianças. A prevalência estimada é de 3-10% na população pediátrica e 35% em crianças obesas.
2. Hepatite viral crónica. Causada pelos vírus da hepatite B ou C, é, na grande maioria dos casos, benigna na infância, mas pode causar cirrose e tumores. A vacinação universal contra a hepatite B e a recente aprovação de medicamentos antivirais para doentes pediátricos irão alterar a prevalência dessas doenças nos próximos anos.
3. Hepatite autoimune. É uma doença inflamatória progressiva causada pela presença de anticorpos que atacam o próprio fígado. Na última década, a prevalência aumentou de 3% para 12% na população pediátrica, em concordância com o aumento conhecido de outras patologias autoimunes.
4. Défice de alfa 1 antitripsina (proteína produzida maioritariamente no fígado, que protege os tecidos das lesões associadas aos processos inflamatórios). Doença genética com uma prevalência de 1:2500, sendo mais prevalente no norte e centro do nosso país.
5. Doença de Wilson. Doença rara e também uma causa de esteatose hepática (fígado gordo). Resulta de mutações genéticas que causam acumulação de cobre no corpo, especialmente no fígado e no cérebro.
6. Outras doenças metabólicas
7. Atresia das vias biliares. Uma condição rara em que os canais biliares não se desenvolvem adequadamente.
É importante que os pais estejam cientes de que as crianças também podem desenvolver doenças hepáticas. O diagnóstico precoce e a terapêutica adequada podem alterar a história natural da doença e ter um impacto positivo no prognóstico.
Susana Nobre, Pediatra no Hospital CUF Viseu e Hospital CUF Coimbra
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