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Os castanheiros do Souto da Lapa estão debaixo de várias ameaças, como a doença da tinta e o cancro, e as novas árvores plantadas são alvo de animais, como o javali e a cabra brava, alertaram os produtores.
“Só este souto de 15 hectares tinha cerca de 700 castanheiros. Infelizmente, estão a secar e a ficar doentes, e tive de os cortar. Se cá tiver 300 a dar castanha é muito. Há mais de 20 anos produzia cerca de 20 toneladas, agora, se tiver metade, já não é mau”, contou à agência Lusa Mário Pereira.
Este produtor de Penela da Beira, concelho de Penedono, no norte do distrito de Viseu, adiantou que os castanheiros estão a morrer por vários fatores, desde a doença da tinta, cancro ou mesmo a secar”.
“Tenho 88 anos e continuo a vir aos soutos todos os dias, mas há coisas que já pago para fazerem, como lavrar a terra, por exemplo. E, se não houver cuidado, a lavra pode danificar as raízes e isso, claro, vai matar a árvore”, disse.
Nos últimos anos, contou, tem plantado novos castanheiros, para substituir as perdas, “mas nem têm tempo de crescer”.
“O javali come tudo e lá se vai o castanheiro, mas não é o único, a cabra brava rói o tronco todo em volta, até ao centro, e acaba por o matar”.
Também o produtor Fernando Pereira fez as mesmas queixas e até disse que “há uns tubos próprios para colocar nas árvores, para os animais não comerem, mas não morrem de uma forma, morrem de outra, porque com o tubo ela não respira e não cresce”.
A morte da árvore tem provocado, a estes dois produtores, “quebras de produção na ordem dos 50% ou mais e os castanheiros ainda demoram uns cinco anos para começarem a dar fruto, mas são precisos 10 para atingirem uma boa produção”.
A Cooperativa Agrícola de Penela da Beira agrega cerca de 1.000 produtores associados, não só de castanha, “embora seja o forte” do negócio, na sua maioria do concelho de Penedono e do de Sernancelhe, disse o presidente, Aires António Macieira.
Questionado sobre estas ameaças e o futuro da castanha, admitiu que “há sempre uma incógnita, que é a do clima e é o maior aliado e adversário, é um fruto sensível que vai sempre depender do clima e as alterações que têm acontecido não são boas”.
Depois, há outros fatores, como “o envelhecimento dos produtores que já não têm capacidade de acompanhar os soutos, porque eles para produzirem e darem bons frutos não podem ser só visitados na altura da apanha, têm de ser acompanhados ao longo do ano”.
“Sempre ouvi que os soutos querem ver os donos todos os dias. E isso não está a acontecer, não só pela idade dos donos, como pela falta de mão de obra e pela ausência do conhecimento que é necessário para o fazer”, justificou.
Em relação à passagem do conhecimento, o presidente adiantou que a cooperativa “também tem essa função de ajudar e apoiar, mas as pessoas também têm de ser recetivas a isso e aceitar que, por exemplo, não deve lavrar os soutos porque é prejudicial”.
“Não só porque pode danificar as raízes, como também, no caso de um estar com a doença da tinta, ao revolver a terra vai espalhar e contaminar os castanheiros ao lado. O melhor é relvar, até porque facilita na apanha”, avisou.
Quanto ao ataque dos animais, “não há muito que se possa fazer, são animais selvagens”, no entanto, “há na cooperativa uns tubos próprios, com cerca de um metro de altura, para proteger a árvore, mas isso requer também manutenção constante”.