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“Mandei pedir noutro dia/um alão a Pai Varela/pera ?a mia cadela,/e diss’el que mi o daria; e, per como mi o el dá,/eu bem cuido que verrá/quand’aquí veer Messía”. Estes são os primeiros versos de uma das cantigas que D. Pedro de Barcelos, também conhecido como Conde D. Pedro, escreveu enquanto autor de textos de escárnio e maldizer durante a época da Idade Média.
O interesse cultural no filho do rei D. Dinis e o facto de ter vivido vários anos no concelho de Lamego motivou o anúncio recente de que a Câmara Municipal e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto assinaram um acordo de colaboração de índole científica, educacional e formativa com vista ao estudo, valorização e divulgação da memória do Conde D. Pedro, que viveu em Lalim durante mais de 30 anos.
A vice-presidente da Câmara, Catarina Ribeiro, refere em declarações ao Jornal do Centro que o projeto “pretende, no fundo, prolongar a memória identitária do Conde D. Pedro no concelho de Lamego”.
“Um dos objetivos deste acordo e do próprio projeto é estreitar as relações de cooperação e intercâmbio entre o Município e a equipa científica do projeto, de modo a que ambas as portas possam beneficiar e tirar proveito de sinergias para valorizar e divulgar a memória do Conde D. Pedro”, explica.
O acordo foi assinado no âmbito do projeto “MELE – da memória escrita à leitura do espaço: Pedro de Barcelos e a identidade cultural do Norte de Portugal”. Trovador como o seu pai, o Conde D. Pedro foi poeta e “teve muito relevo na vida política e cultural do seu tempo”.
“Tem um legado cultural que é um dos mais importantes da Idade Média peninsular, porque foi compilador de cantigas de trovador, amor, amigo e escárnio e maldizer. Foi também autor, tendo deixado quatro cantigas de amor e seis de escárnio. Muita da obra foi escrita a partir de Lalim, no concelho de Lamego”, recorda Catarina Ribeiro.
“Um dos livros é o Livro de Linhagens, que é uma compilação das principais famílias nobres de Portugal, e teve também outra obra que foi a Crónica Geral de Espanha de 1344, e ambas as obras já foram alvo de vários acrescentos e foram também traduzidas várias vezes em castelhano. Portanto, é um legado que queremos honrar e perpetuar de uma das maiores figuras do passado de Lamego, mas também do futuro”, acrescenta.
Um conde que se afastou da corte para se dedicar às letras
D. Pedro Afonso terá nascido por volta de 1285 ou 1287, filho bastardo de D. Dinis. Ficou dono de vastas terras doadas pelo pai, exilou-se em Castela, afastou-se da corte, remeteu-se ao estudo e à literatura e acabou por viver e falecer mais tarde em Lalim, tendo sido sepultado no Mosteiro de S. João de Tarouca.
D. Pedro Afonso notabilizou-se por ter sido um congregador de saberes e um organizador da escrita. Foi em Lalim que engendrou e realizou a parte mais copiosa da sua obra, nomeadamente o “Livro das Cantigas”, que o conde deixou ao sobrinho Afonso XI no seu testamento.
D. Pedro Afonso terá sido criado, a partir de certa altura, na corte régia, mais concretamente na casa da rainha D. Isabel de Aragão. O documento mais antigo que o refere data de 1289, dando conta de um conjunto de doações que lhe são concedidas pelo pai e que se repetirão nos anos posteriores.
D. Pedro casa, nos primeiros anos do século XIV, com D. Branca Peres, enviuvando pouco depois, devido à morte prematura da esposa. Herdando os avultados bens da mulher, D. Pedro, já então largamente beneficiado por seu pai, transforma-se num dos homens mais ricos do reino de Portugal.
Em 1307, torna-se mordomo da infanta D. Beatriz, futura mulher de Afonso IV, seu irmão. Em finais do ano seguinte, casa-se novamente, desta vez com D. Maria Ximenes Coronel, num casamento negociado pela rainha D. Isabel. Por motivos algo obscuros, o casal desentende-se gravemente e, em 1316, separa-se de facto, decorrendo, a partir daí, um complicado processo de partilha de bens, que se arrasta por longos anos.
D. Pedro Afonso tornou-se Conde de Barcelos em 1314, tendo passado a ocupar, no ano seguinte, o cargo de alferes-mor do reino.
Mas, a partir de 1317-1318, quando estala o conflito entre D. Dinis e o infante D. Afonso, seu primogénito e herdeiro, D. Pedro parece ter tomado preferencialmente o partido do seu irmão, motivo pelo qual o rei lhe confisca todos os seus bens, levando-o igualmente a exilar-se em Castela, onde permanece até 1322.
No seu regresso a Portugal, retoma, contudo, a posse da maior parte do seu vasto património, muito certamente pela posição apaziguadora que passa a tomar no conflito. Com a morte de D. Dinis, em 1325, e a subida ao trono do seu irmão, o Conde D. Pedro parece ter optado por viver preferencialmente nos seus domínios de Lalim e Arouca, com a sua companheira, Teresa Anes de Toledo.
Desde então, tem mantido um círculo restrito de trovadores e jograis e levado a cabo um vasto trabalho cultural que resultou no “Livro de Linhagens” e na “Crónica Geral de Espanha de 1344”, o primeiro grande texto historiográfico português.
Em Lalim, o Conde D. Pedro avançou também com a compilação dos materiais de que resultará o “Livro das Cantigas”, considerada a última grande antologia da poesia trovadoresca da época. O manuscrito será copiado em Itália no século XVI, resultando na produção de duas cópias onde se pode encontrar a parte mais substancial das cantigas galego-portuguesas.
O Conde D. Pedro morreu em Lalim, nos primeiros meses de 1354.