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Uma criança de 12 anos foi alvo de racismo este fim de semana. Tudo aconteceu em Tarouca, num jogo de futebol, que pôs frente a frente os sub14 do Sport Clube de Tarouca e do Grupo Desportivo de Oliveira de Frades. O confronto dizia respeito à Taça de Ouro organizada pela Associação de Futebol de Viseu.
O insulto racista veio da bancada. Ao que o Jornal do Centro conseguiu apurar, o adepto chamou “preto de m****” à criança. A criança, reforce-se, tem 12 anos. O homem acabou proibido de entrar em recintos desportivos. A criança acabou a chorar junto ao banco de suplentes.
O adepto de 54 anos foi identificado pela Guarda Nacional Republicana e numa medida cautelar, fica impedido de entrar em recintos desportivos até final do processo de contraordenação.
Se for condenado, estará sujeito a uma multa entre os mil e os dez mil euros. A isso pode juntar-se o facto de ficar fora dos recintos desportivos até dois anos. Se não ficar longe dos estádios, pode acabar detido pela polícia.
Numa reação ao caso, o presidente do Grupo Desportivo de Oliveira de Frades, clube onde joga a criança insultada, acredita que uma penalização exemplar pode servir como ponto de partida para impedir novos casos.
“Quando há uma situação como esta, penso que nunca mais deveria entrar num campo desportivo. Se dois ou três apanharem penas mais altas, mais vão começar a aprender. Não podemos ter gente desta no desporto. É mau demais. Quem não consegue estar no desporto, não apareça. Que fique em casa”, defende Tiago Ferreira.
O dirigente avança que os clubes devem dar formação aos pais. “Se pudermos dar algumas formações de ética no desporto e racismo, como temos feito no nosso clube. Alguns pais precisam, mesmo”, explica.
Sobre este episódio, o presidente do Oliveira de Frades avançou que “a criança saiu triste, mas os colegas apoiaram-na muito e abraçaram-na”. “Ele sabe que o protegemos”, vinca. “As pessoas têm de perceber a igualdade. Cada um é como é. O mais importante é a nossa postura”, reforça.
Aos pais, o responsável apela a que não permitam que estes casos se repitam. “Os pais não devem deixar que isto passe. Se um adulto é mau, imagine-se uma criança. Os pais têm de ter mais controlo. Vão para cima das crianças, discutem, são agressivos. As crianças só querem divertir-se”, assinala.
Também Luís Correia, presidente do Sport Clube de Tarouca se mostrou chocado com o que aconteceu. “Não toleramos estas atitudes, nem comportamentos deste tipo. Sempre respeitámos todos os atletas e instituições. Somos um clube com oito anos, estamos certificados como escola de futebol e temos feito sensibilização para combatermos estes atos, junto dos atletas”, disse ao Jornal do Centro.
Numa reação ao que aconteceu este domingo, 26 de março, em Tarouca, o presidente do clube da casa defende que quem “fizer estes atos tem de pagar por eles” e remete as decisões futuras para as autoridades, vincando que o Sport Clube de Tarouca condena o que aconteceu.
Do lado da Associação de Futebol de Viseu (AFV), existe também a mesma postura de condenação ao que se ouviu nas bancadas do Estádio Municipal de Tarouca. “Condeno os atos de racismo. Fico triste com isto nos dias de hoje. Apenas gostava que não voltassem a acontecer. Acredito que a penalização sirva de exemplo”, frisa José Carlos Lopes, presidente da AFV.
O líder máximo do futebol distrital, esclarece ao Jornal do Centro que “a Associação tem colaborado em ações de formação sobre ética e integridade com os clubes”. “Fazemos essas ações junto de dirigentes e atletas. O problema aqui são os adeptos”, explica.
Em choque também está Vítor Santos, embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto. “Hoje em dia falta-se ao respeito com muita facilidade. Esta pessoa demonstrou o que há de mais baixo no ser humano”, começa por referir.
Ao Jornal do Centro, Vítor Santos refere-se a este episódio como um “insulto básico”. “Ele sabe que vai ferir. Quando falamos de características físicas, sabemos que vamos magoar. E a ideia é essa: desestabilizar”.
O embaixador da ética frisa que episódios como este sempre existiram. O que mudou foi quem é que assiste aos jogos de futebol de formação. “Antes eram adeptos, muitas vezes alcoolizados, pessoas que não tinham grande literacia. O insulto era clubista. Neste momento, não. Os adeptos do desporto de formação são, na grande maioria, pais ou familiares das crianças e jovens”, detalha.
Vítor Santos acrescenta que estes pais que “têm o dever de proteger” os filhos, muitas vezes adotam uma postura de ataque.
Em pouco mais de um mês, este é o segundo caso em que são ouvidos insultos racistas no futebol de formação. Cracks Clube de Lamego queixa-se de racismo em jogo com Cinfães. Adversário nega acusações, o Cracks Clube de Lamego queixa-se de ter sido alvo de comentários racistas durante o jogo de sub-16 que opôs a formação lamecense ao Clube Desportivo de Cinfães. Os ataques verbais terão sido direcionados a um jogador e praticados por atletas e adeptos da formação cinfanense. O Cracks Clube de Lamego chegou a avançar com uma participação à Associação de Futebol de Viseu.
Também já este ano, um homem de 43 anos insultou um árbitro durante um jogo da Divisão de Honra da Associação de Futebol de Viseu e ficou impedido de entrar em estádios de futebol. Homem insulta árbitro em Lamego e está proibido de entrar em estádios no jogo que opôs o Sporting de Lamego e o Nespereira, a contar para a 18ª jornada da Série Norte da Divisão de Honra.
A Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto referiu também que durante todo o ano passado, mais de 320 pessoas foram impedidas de entrar em recintos desportivos em Portugal, por terem tido um comportamento incorreto. Violência no Desporto: 323 adeptos proibidos de entrar em recintos desportivos em 2022.
A grande maioria das interdições, 299, foi motivada por posse/uso de artefactos pirotécnicos, sendo as restantes por prática de atos ou o incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância (14), arremesso de objetos (nove) e prática de atos ou o incitamento à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância por parte de agente desportivo (um).
O número de medidas de interdição que entrou em vigor em 2022 é bastante superior às 187 decretadas em 2021, ano que ainda foi marcado pela realização de competições à porta fechada, durante algum período de tempo, devido à pandemia de covid-19.