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Igor e Júlia. Ele, ucraniano. Ela, russa. Os dois, juntamente com as respetivas famílias, estão a viver há cerca de quatro semanas debaixo do mesmo teto numa aldeia do concelho de Vouzela. Ele fugiu da guerra, ela ajuda quem procura a paz.
Nesta agora grande família não há conflitos nem blocos. “Aqui, não há guerra”, diz Igor. “Completamente, não há guerra”, reforça Júlia.
Se no cenário internacional há antagonismo, quando se olham para estes dois estrangeiros que falam a mesma língua parece que guerra é uma palavra que não existe, principalmente num local “tão mágico e magnífico como este”, contam à reportagem do Jornal do Centro.
Em plena serra da Arada, junto ao campismo da Fraguinha, Igor e Júlia juntaram-se a Shan (do Sri Lanka) e montaram uma banquinha de alimentação para o festival que estava a decorrer naquele espaço. “Este é um local maravilhoso”, diz Igor, enquanto olha à volta. Muito diferente do cenário que deixou para trás.
“A casa dos meus pais foi destruída pelas bombas. Peguei neles e fugimos através da fronteira com a Moldávia”, conta o ucraniano. Quando saíram tinham apenas a certeza que queria chegar a Portugal. A razão é simples: “Para nós Portugal é como ter saído de casa para casa”. Isto porque, a família de Igor esteve durante três anos em Angola e o pai é tradutor de português. “Eu também me apaixonei pela língua e quero conhecer mais”, frisa ainda.
E como acabou em casa de uma russa? Simples. Júlia contou que tem uma amiga em Lisboa que ajuda refugiados. “Ela ligou-me a perguntar se podíamos receber uma família ucraniana e eu nem hesitei e agora, em vez de três (o marido e a filha) somos sete. Até veio dar uma grande ajuda”, afirma entusiasmada.
E na mesma barraca, não é só a companhia que se partilha e a comida é motivo de analogia. “Ucraniana ou russa, a comida é igual. Nós somos iguais, independentemente da questão política. Pensamos numa só língua. Eu, por exemplo, vivo numa parte da ucraniana onde se fala russa. Uma coisa é certa, de um lado ou de outro, não vamos deixar que esta gente doida se meta na nossa cabeça”, sustenta Igor.
Júlia concorda. “Somos pessoas e temos de viver todos juntos”, exemplifica.
E se a russa já está há sete anos em Portugal, Igor ainda não sabe muito bem como vai ser o futuro. Para já, é aqui, na zona de Lafões que o ucraniano quer ficar e onde deixa uma promessa: “daqui a um ano estou a falar correctamente português”.