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Diálogo & Decisão

 Diálogo & Decisão
27.04.24
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 Diálogo & Decisão

por
Jorge Marques

Não é o conceito ou a ideia de mudança que são novos ou milagreiros, a mudança sempre existiu. O que é novo é a velocidade e forma com que ocorrem essas mudanças. É isso que nos confunde! Por isso a solução não passa pelo uso e manipulação das palavras ou por lhes dar significados diferentes daquilo que elas são. A solução está na criação de mecanismos e instrumentos que nos permitam antecipar e responder a essas inesperadas mudanças. Há riscos que são desnecessários quando damos saltos no desconhecido. Na maior parte dos casos bastaria regressar conscientemente ao significado original das palavras que desvirtuámos ao longo do tempo.
Isto vem a propósito de uma polémica que se instalou na nossa democracia, que tenderá a repetir-se e a agravar-se. Tem a ver com o entendimento e prática do Diálogo! Talvez seja um conceito demasiado usado, banalizado e desvirtuado? Talvez o queiram reciclar? Mas não há nada melhor do que ir à raiz das coisas, à sua pureza original. A palavra Diálogo vem do grego antigo (dia-logos) e quer dizer “livre fluir das ideias entre as pessoas”. A palavra que lhe opomos é Decisão, essa vem do latim (de caere) e quer dizer “parar de cortar” ou “deixar fluir”. Como se vê são gémeas! Recordo que já nas discussões políticas do tempo de Guterres era frequente acusá-lo: “Já basta de diálogo, precisamos de decisões”! Na verdade, Diálogo e Decisão tem uma sequência lógica e natural. Quer dizer que no diálogo se devem deixar fluir as ideias entre as partes, porque as decisões fluirão naturalmente nesse diálogo.
A questão que parece esconder-se por detrás da confusão destes dois conceitos não parece ser por acaso. O que se pretende substituir é o Diálogo/Decisão por Imposição/Arbitrariedade. É a mesma confusão com a liderança, quando lhe atribuem o significado de mandar em vez de influenciar e servir. Este é o ponto fraco da nossa democracia e que ainda não foi resolvido. Esta é a verdadeira essência da democracia que falta conquistar e cuja responsabilidade é sobretudo dos partidos políticos.
A importância desta opção não tem nada a ver com tática ou estratégia, mas é um objetivo estratégico. Mas se conseguir produzir uma boa prática permanente, então pode ser considerada uma reforma estrutural que evita as más decisões e a perda de Tempo. Também não se pode confundir Diálogo/Decisão com conversa ou comunicação de sentido único. A finalidade maior do Diálogo é a Decisão e não a defesa pública dos pontos de vista. O desafio é que com ideias diferentes se chegue às melhores soluções.
Quis-me parecer recentemente nessa confusão, que se foge do Diálogo autêntico, quando é claro que com a configuração do atual Parlamento, tudo aponta para a necessidade de um diálogo permanente. E também porque Decisão precisa pelo menos de duas alternativas. As justificações de urgência, dos dramas existenciais, da incapacidade de partilhar o poder, do estatuto do eu é que mando são falsas. Não se lidera nada sem saber usar o Diálogo/Decisão! Ou então voltaremos ao tempo do meu Liceu de Viseu, anos 60, onde nas paredes dos corredores havia a frase de um iluminado que dizia: “Se soubesses o que custa mandar, gostarias de obedecer toda a vida”. Isso já nos anos 60 era mentira, hoje já só nos pode fazer sorrir.
A política e os governos têm que sair da velha inteligência administrativa e passar à biologia humana, ao que somos verdadeiramente. Quer dizer que temos que perceber porque se decide de uma maneira e não da outra, de abandonar as suposições e o falso talento que só serve para enganar o parceiro. Nem confundir os grandes decisores com os anunciantes de decisões, algumas das quais nunca vão acontecer. As melhores decisões exigem os dois lados do cérebro, o esquerdo e o direito, o racional e o emocional. A razão sem emoção é impotente. Nem se pode confundir o autodomínio com a não decisão, para ver o que acontece, para não se comprometer ou ficar-se à espera que a crise passe.
Na nova ciência da Decisão não há sabedoria por decreto ou porque sempre foi assim. Ela responde ao funcionamento do nosso cérebro. O Efeito de Placebo com os falsos remédios é um engano. O mesmo acontece com o Efeito de Âncora que faz dos produtos em saldo e desconto uma maravilha. No Jogo da Bolsa não há algoritmos, racionalidade. O que existe é a aversão à perda e por isso muitas vezes sacrifica-se o lucro à segurança. As informações negativas têm um peso enorme no nosso cérebro, mas não se resolvem escondendo-as. Há uma ideia perigosa que se começa a construir, aquela de que criando grandes quantidades de informação e de análise, isso limita o pensamento e a compreensão, mesmo nas pessoas informadas.
A ciência da Tomada de Decisão é ainda nova, porque também só agora é que se começa a perceber como é que o cérebro toma as decisões. Começa a saber-se que não temos andado pelo melhor caminho. Tem faltado o início desse processo de Decisão e que se chama Diálogo! Não nos ensinaram isso desde crianças e nem faz parte da nossa cultura! Nem aprendemos a distinguir o simples do difícil, o velho do novo problema, o aceitar da incerteza como nova realidade, o confiar no que somos e sabemos, no refletir e avaliar. Quem sabe se um dia os governos não se organizam desta forma, uns ministros e secretários estão a resolver problemas antigos, outros os problemas de agora, outros à procura de oportunidades futuras? Tudo à volta do Senhor Tempo! Passado, Presente e Futuro, tudo em simultâneo ou como dizia Einstein: “a diferença entre passado, presente e futuro é uma ilusão”. É isto o governar em política e ter em conta estes três momentos do Tempo em simultâneo, que é como quem diz, a Velhice, Maturidade e Juventude dos cidadãos. É nisto que todo o político deve estar empenhado, no governo ou na oposição…

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