joao azevedo
Autárquicas Novo presidente da Câmara de Viseu rejeita acordos para gerir concelho e aposta em diálogo
Delegado à mesa de voto consulta a lista de eleitores para a Câmara Municipal do Porto, 12 de outubro de 2025. Decorrem este domingo as eleições autárquicas em Portugal onde mais de 9,3 milhões de eleitores podem votar. Os eleitores vão escolher os órgãos dirigentes das 308 Câmaras Municipais, 308 Assembleias Municipais e 3.221 Assembleias de Freguesia, pelo que há três boletins de voto. MANUEL FERNANDO ARAÚJO/LUSA
Casas Bairro Municipal Viseu 3
casa-habitacao-chave-na-mao - 1024x1024
herdade santiago

No coração do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros, há…

21.08.25

Reza a lenda que foi um árabe, há mais de mil anos,…

14.08.25

Seguimos caminho por Guimarães, berço de Portugal e guardiã de memórias antigas….

07.08.25
jose-damiao-tarouca-232
ps campanha
camapnha10
roteiro-caramulo-850x514
RESISTÊNCIA
mercado 2 de maio 1
Home » Notícias » Colunistas » Eleições concluídas – e agora, Viseu?

Eleições concluídas – e agora, Viseu?

 Eleições concluídas – e agora, Viseu?
15.10.25
partilhar
 Eleições concluídas – e agora, Viseu?

por
Alfredo Simões

Depois do ciclo eleitoral denso, a que acresce a próxima eleição para Presidente da República, a par de todas as tarefas diárias de gestão, é tempo para os governantes pensarem o país e cada território numa perspetiva de longo prazo. Neste exercício, é importante que os cidadãos e as suas organizações tomem a iniciativa e ou sejam chamados a participar ativamente na construção de ideias e de projetos, na definição de uma visão para o futuro da comunidade. O nível municipal será o mais relevante para a mobilização das populações e para a concretização dessa participação.

Que desafios enfrenta o nosso País, o nosso Concelho ou a nossa cidade?

Será possível continuarmos a adiar respostas a problemas que estão a minar o território nacional e a dividi-lo em duas parcelas que tendem a distanciar-se: o Interior cada vez mais vazio – de pessoas, de serviços, … – e o Litoral/Lisboa aonde tudo parece confluir e a concentrar-se? 

A nossa cidade, o nosso concelho, o nosso País estão a acompanhar o ritmo de desenvolvimento do que podemos designar por digitalização e que está a comandar a ação política e a economia em todo o mundo?

Em que medida as alterações climáticas estão ou não a influenciar as medidas de política? Os fogos dos últimos verões são uma resposta – no sentido nefasto – a esta pergunta? Em que medida as cidades desempenham um papel especial nesta luta pela sustentabilidade do planeta que é o mesmo que dizer da humanidade?

Estamos a fazer tudo para preservarmos a liberdade e a democracia que nos ajudem a construir o nosso futuro comum num contexto em que forças negras de negação daqueles valores parecem estar cada vez mais fortes?

Sabendo-se que razões de base para as desigualdades dos rendimentos, das condições de saúde, de oportunidades de emprego, entre muitas outras, poderão ser prevenidas e mitigadas com intervenções precoces junto das crianças, em que medida seremos capazes de integrar, à escala municipal (ou outra escala subnacional), medidas de política nacional com as politicas locais?

Precisamos de respostas ousadas a estas (e certamente muitas outras) perguntas que nos permitam impulsionar o crescimento económico e social geradores de bem-estar para todos os visienses e, naturalmente, para todos os portugueses. E isto só será possível com a participação ativa e o compromisso empenhado de todos com os grandes desígnios que ambicionemos para o País, para o concelho e para a cidade. Para o nosso território. Temos um ciclo novo da vida em comunidade a iniciar, é a melhor oportunidade para olharmos para Viseu, não apenas nas ações imediatas e de curto prazo, mas com os olhos postos no futuro. 

Precisamos de olhar para Viseu a uma década de distância.

território de Viseu (designação de Jorge Gaspar em “As Regiões Portuguesas”, 1993) precisa que a evolução da sua economia e, afinal, das demais atividades que se desenrolam no território, sejam estudadas, para que haja boas decisões ao nível do planeamento local (leia-se local também como intermunicipal). É importante que se perceba qual o caminho que a economia e cada um dos seus setores está a tomar, qual a evolução do peso relativo de cada um, qual o contributo líquido de cada setor para a criação de valor acrescentado e de emprego no território; em que medida intervenções locais poderão ter sucesso no crescimento da nossa economia; etc. Responder a estas questões implica que o território de Viseu ultrapasse uma das suas dificuldades atuais: alguma fragilidade na ligação entre as intervenções das empresas/economia, do ensino superior e da administração pública. E esta fragilidade decorrerá da ausência de um desígnio, de uma intenção partilhada por todos à volta de uma ideia para a ação. 

Nos anos 80/90, numa altura em que especialmente os setores de ensino superior (ainda em fase embrionária) e da administração local (com muito poucas competências atribuídas) mostravam algumas fragilidades e o investimento e a economia local estavam particularmente vibrantes, o território uniu-se, os agentes locais sentiram a necessidade de colaborarem, de pensarem em conjunto o futuro da Região. Recordo a realização de vários trabalhos sob a iniciativa da AIRV ou a criação de um Conselho Estratégico no seio desta Associação empresarial. Entretanto, com o passar dos anos, a administração local ganhou mais competências, o ensino superior ganhou peso e diversificou a sua atividade e o movimento associativo empresarial procurou ganhar mais eficácia e reforçou-se a nível regional e nacional perdendo, lentamente, alguma capacidade de intervenção local (e, provavelmente, não só a nível local). Ao longo de todo este processo, que já leva algumas décadas e não é apenas caraterístico do território de Viseu, o poder político e o ensino superior local ganharam força, o movimento associativo empresarial perdeu força. Mas, a principal perda a que se tem assistido é funcional: a perda da força que advém de agentes e setores distintos pensarem em conjunto, de forma integrada, o futuro do território

É verdade que o papel dos atores políticos (e, em particular, das autarquias locais) é importante, mas isso não deve fazer abdicar os restantes agentes de olharem para o futuro do território, discutirem e definirem uma estratégia que seja do território de Viseu e não apenas a estratégia das Câmaras, das empresas, do ensino superior, das associações, … O contributo de cada setor, por si, é relevante, mas será determinante se for integrado nos restantes contributos e, em conjunto, desenharem e construírem o futuro de Viseu.

Em resposta às preocupações enunciadas anteriormente poderá sintetizar-se que Viseu precisa de:

  1. Um Centro de Conhecimento e de Estudo para um território informado.
  2. Uma estratégia que nos aponte o destino e o caminho de Viseu para lá dos anos 30.
  3. Uma metodologia de intervenção territorial baseada:
    1. Num movimento intenso e integrado de participação ativa dos visienses (informados e participativos) e de todos os agentes locais;
    2. Numa forte articulação de politicas públicas nacionais e locais capazes de mobilizarem mais recursos, gerarem maior eficiência e menos desigualdades.

Os estabelecimentos de ensino superior, as autarquias locais e, em particular, a sua plataforma de cooperação, a Comunidade Intermunicipal, deverão assumir a criação, o crescimento e a fixação das competências de planeamento estratégico e colocá-las ao serviço do desenvolvimento da região como uma prioridade para a década. Estaremos, desta forma, a qualificar o território de Viseu. 

Com estas competências no território será possível fazer algo que não abunda na Região: o estudo dos seus processos de desenvolvimento na economia e na sociedade. Onde estão os estudos realizados sobre a realidade de Viseu e partilhados e discutidos no seio da comunidade visiense? Que entidades se sentiram à vontade para solicitar a promoção de parcerias com os estabelecimentos de ensino superior para a realização de estudos que ajudem a tomada de decisão tendo em vista o desenvolvimento de um setor, da cidade ou da região? Que estudos foram realizados em Viseu e que tenham estado na base da discussão sobre orientações e objetivos para o futuro? As melhores decisões são as decisões informadas… Naturalmente, não vivemos num deserto de estudos e de trabalhos de investigação sobre estas realidades. Mas, falta-lhes coerência e intenção no quadro de uma estratégia mais geral para o território. Quando se aproximar um novo quadro comunitário, a CIM vai ter de fazer a leitura da atual estratégia de desenvolvimento da região de Viseu Dão Lafões e da sua aplicação, e também de preparar a nova estratégia para a próxima década. Estamos, por isso, no momento de a Região começar a pensar como poderá desenvolver e fixar essas competências de planeamento estratégico no território.

Deixo a seguir algumas notas que poderão ajudar a definir desígnios e objetivos, linhas de ação, tendo em conta que o determinante é o conhecimento, a capacidade de inovar, a preocupação com a qualidade de vida das pessoas, o uso adequado dos recursos ao nosso dispor.

Agora, Viseu, é hora de nos organizarmos, de reforçarmos a coesão da nossa sociedade, de discutirmos tudo, mas todos apontando para a qualificação da nossa cidade, do nosso concelho, da nossa Região e do nosso País.

Viseu – território de ciência e de inovação. Refletir sobre o papel dos estabelecimentos de ensino superior de Viseu; sobre exemplos como o Star Institute e outras iniciativas que vão surgindo na região. Não proponho a criação de um Sillicon Valley, mas tão só a criação de novas condições e o up-grading das existentes para sermos capazes de nos relacionarmos, de darmos continuidade aos (alguns) resultados dos sillicon valleys deste mundo. Viseu precisa de ter um objetivo para o seu futuro nestes domínios da ciência e das tecnologias ao serviço do seu crescimento, mas também do combate às desigualdades territoriais entre Interior e Litoral. Uma condição de base será o fortalecimento do ensino superior, em Viseu, seja pelo crescimento do número de alunos que forma ou dos indicadores que medem internacionalmente a atividade e a qualidade científicas, mas especialmente pelas spin off que cria, isoladamente ou em resultado de colaboração com parceiros empresariais, e pelo impacto dos projetos com a comunidade local, etc. Já em apontamentos anteriores no JC se indicaram exemplos de domínios de intervenção, para além do setor automóvel: agro-alimentar, saúde, …

Viseu – cidade das Artes e da Cultura. Ao contrário da tendência social geral para desvalorizar as artes e a cultura (em caso de dificuldades são os primeiros setores a conhecerem cortes nos financiamentos), é importante que estejam no centro de uma qualquer estratégia de desenvolvimento (assunto tratado em artigo anterior no JC) da cidade e da Região (no quadro de uma Rede cultural). Dessa forma, estaremos a preservar e a desenvolver as bases criativas para a inovação e a inclusão de todos os domínios da vida local, mas também a gerar importantes multiplicadores económicos com capacidade de impactarem com os mais diversos setores da vida económica e social. Artes e Cultura não é apenas mais um setor, é um domínio da vida em sociedade que está na base da abertura a novas ideias de progresso e de solidariedade. Por isso, precisamos, nós todos, de fazer mais e melhor. Tomemos apenas um exemplo: cada museu da região de Viseu recebe, em média, um pouco mais de 8 mil visitantes/ano, na região Centro a média é de mais de 18 mil e a média nacional é de 42 mil. Será que não deveremos entender as razões destas disparidades e definir os caminhos a seguir para melhor nos compararmos com as demais regiões? Não deveríamos ter um indicador, à vista de todos, sobre o valor da produção neste domínio das Artes e Cultura?

Viseu – território de empreendedores. É importante conhecermos a história das principais empresas nascidas e sedeadas em Viseu: as condições iniciais, mas também a ambição inerente à sua criação e desenvolvimento (Exemplos como Visabeira, JLS, ControlVet, Martifer, …). Promover o empreendedorismo e associar esta iniciativa ao “território de ciência e inovação” e à “cidade das Artes e da Cultura”, alargar a outros setores – desporto, intervenção social, etc. -, escalar e integrar os objetivos definidos para as iniciativas em curso que têm sido protagonizadas pela CIM, pelo IPV, etc. Não será possível a região ter uma taxa de natalidade de empresas (13,4%) ao nível da taxa nacional (16,2%)? Não será possível a região trabalhar para que a taxa de natalidade de empresas em alta e média-alta tecnologia em vez dos atuais 2,5% atinja a média nacional de 3,7%?

Viseu – cidade e território competitivos. Continuar a melhorar os níveis de qualidade de vida, criar condições para a atração de investimento exterior à região – é importante que seja robustecido o softpower local (e não apenas as competências formais) e aquilo que poderemos designar por paradiplomacia e colocar ambos ao serviço da atração dos focos orientados a partir do exterior, sejam o turismo ou o investimento ou a mão de obra necessária. Uma estratégia local para a internacionalização do território de Viseu ajudará. 

Viseu – património que cria riqueza. Em toda a região é visível o património edificado, abandonado e a degradar-se, que não está a servir para nada, nem para habitação, nem para acolher serviços, nem para usufruto cultural, recreativo, etc. Não sei se existe algum levantamento destas situações. Se não houver, valerá a pena fazê-lo e, perante as realidades encontradas, avaliar o modo de transformar este património que não cria nem bem-estar imediato nem riqueza em algo útil para as comunidades locais. (Veja-se, em edição anterior do JC, o exemplo da criação de um Campus Universitário no Centro Histórico de Viseu). Mas também o património natural pode ser objeto de outro olhar de modo a ampliar o nosso contributo para a preservação da biodiversidade e a sustentabilidade do planeta, um olhar que valorize o seu contributo para a formação humana e para o nosso bem-estar (Um Museu Botânico em Viseu poderá ser um bom exemplo). Mas não podemos esquecer o património rural circundante que poderá enriquecer-nos seja com uma política local de desenvolvimento rural (para a qual os recursos são sempre escassos), seja a partir de uma integração do nossomundo rural e do nosso mundo urbano a partir de intervenções simultâneas na cidade (o exemplo do mercado dos produtores) e no campo (a necessidade de organizar os produtores locais, papel que pode competir às Juntas de freguesia) auxiliadas por transportes e comunicações ajustados, dispersão de serviços, etc. Deveremos pensar numa estratégia que vise a criação de mais riqueza e mais qualidade de vida nas nossas aldeias.

Viseu – o urbano e o urbanismo em mudança. À semelhança do resto do País, a população residente em centros urbanos, e em particular na cidade de Viseu, é cada vez em maior número comparativamente com a população rural circundante. Isto vai continuar. Também por isso, as cidades estão a mudar. As pessoas têm outras necessidades, preferem outras formas para a sua satisfação. As funções urbanas também mudam de conteúdo e até do lugar que ocupam no espaço urbano. Atente-se nas lojas comerciais (ou os cinemas) que há muitos anos estão a sair do miolo das cidades e a concentrarem-se em grandes superfícies localizadas nas periferias. Mas movimentos semelhantes estão a acontecer com os serviços como, por exemplo, dos médicos, os consultórios espalhados pela cidade tendem a concentrar-se em grandes superfícies especializadas. Idem para muitos serviços às empresas. A digitalização está a promover a redução de pessoal nas agencias bancárias e em muitos serviços com a consequente redução de movimento pedonal no centro das cidades. Estas necessitam, por isso, de se reinventarem permanentemente, de encontrarem novas ocupações para os ‘velhos’ espaços urbanos e criarem novos lugares com outras vizinhanças. Tudo isto obriga a repensar o planeamento da cidade – e não há cidade sem comércio nem serviços para as pessoas. (Com as devidas distâncias, observe-se Amesterdão e a organização da participação dos agentes locais no planeamento da cidade – https://amsterdamsmartcity.com)

Viseu – território ainda com melhor qualidade de vida. Podemos pensar em objetivos de “Viseu a 100% – lugar de excelência no País”: um território em que todas as crianças frequentam uma creche, todos os jovens completam o ensino secundário. Ou que toda a população é vacinada ou em que os cuidados pré-natais e pós-parto e o acompanhamento dos bebés e crianças estão assegurados a 100%. Todas as pessoas mais velhas têm garantidos os serviços médicos ou assistenciais necessários. Ou em que todos os visienses visitaram um Museu, assistiram a um concerto musical, assistiram a um espetáculo de teatro pelo menos uma vez por ano. As associações locais, as Câmaras, as Juntas de Freguesia têm uma importante palavra a dizer nestas intervenções e na aspiração de “Viseu a 100%”. Com mais organização e integração de serviços certamente que para atingirmos “Viseu a 100%” não serão necessários muito mais recursos.

Viseu – território com maior taxa de participação no movimento associativo (cultural, recreativo, desportivo, ação social, …). Não se trata de um mero simbolismo ou uma corrida ao Guiness. O importante é sermos capazes de ultrapassar alguma dificuldade que os portugueses, e os visienses não fogem a esta realidade, têm de se associar, de participar, de colaborar entre si, de discutir ideias, de apresentar projetos e trabalhar pela sua concretização. O movimento associativo pode ser um bom instrumento para tal. Como escreveu o prof. Luís Valente de Oliveira no prefácio à obra “Três Séculos de Economia Portuguesa” (editora Guerra e Paz): “… devemos dedicar também algum tempo a procurar respostas possíveis ao que fazer aos portugueses, eles próprios, para serem gente do seu tempo, assumindo as responsabilidades correspondentes e contribuindo de modo mais determinante para a evolução do seu país”. 

Nem mais! 

Também o território de Viseu precisa de viseenses assim! E precisa da mobilização do ensino superior, das empresas, dos organismos culturais e associativos para, em conjunto com os órgãos autárquicos acabados de eleger, colocarem as competências de cada um ao serviço de uma ideia, de um grande desígnio para o desenvolvimento de Viseu. O futuro precisa de contar com todos estes agentes e, em primeiro lugar, com efetivas lideranças do mundo da política, do mundo académico, do mundo empresarial e do mundo associativo do Território de Viseu

E agora, Viseu? É preciso deitar mãos à obra!

 Eleições concluídas – e agora, Viseu?

Jornal do Centro

pub
 Eleições concluídas – e agora, Viseu?

Colunistas

Procurar