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Fragmentos de um Diário – 15 de Novembro de 1984

 Fragmentos de um Diário – 15 de Novembro de 1984 - Jornal do Centro
22.07.23
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Tocaram-me à campainha. Era o Alexandre. Um colega meu, com quem muito tenho convivido. Ele e a mulher são impecáveis. Jantamos por vezes juntos, falamos de literatura e outras coisas, imaginamos projetos sempre adiados. Ele esteve exilado na Bélgica. A família é de Leiria. Com o segundo casamento, partiu para Moçambique com a mulher, a Isabel. Mas sofreu um acidente, que lhe fraturou um braço, e de que ainda não recuperou. Aprendi a jogar xadrez de propósito para podermos passar uns tempos agradáveis. E assim tem sido. Até ao momento em que o discípulo começou a ganhar ao mestre. Ele zanga-se e leva a derrota muito a sério.
São quase vinte e duas horas. Ouço música. E penso nesta espécie de ansiedade que algures em mim existe e que não sei identificar.

15 de Fevereiro de 1985

Tenho refletido em problemas políticos. E abordado o assunto com o Alexandre. A perspetiva de esquerda que eu de algum modo tinha sobre a questão económica e social começa a esvaziar-se um pouco nos seus princípios.  Não ponho agora de lado como desprezível a tese liberal. Percebo que a liberdade não se cinja ao problema da representação política e partidária mas se alargue ao âmbito económico e social. O princípio base deve deslocar-se do social-coletivo para o individual. Assim, a sociedade tanto melhor cumprirá a natureza humana não na medida em que nos promova a funcionários de um Estado omnipotente, mas permita a realização multidimensional do homem. O Estado não desaparece, mas a sua função será sobretudo reguladora. Mas eis a questão: o meu ceticismo prende-se com a bondade da natureza humana.
        Ouço Mozart. Um sentimento nostálgico invade-me. A serenidade tão perto. Um pouco mais nem sei de quê e conquistava-a. Acho que começo a ver mais claro nas coisas. Maturidade? Sinto-me mais aberto à diversidade, aceito melhor a pluralidade. O que me falta é aceitar o mistério, compreender que Deus se manifesta no incompreensível. Devo despojar-me dos vícios da razão, deixar emergir a simplicidade.
A Fátima saúda-me o propósito. Mas apela a que não me afaste do concreto, do natural, do corpo das coisas. Que não desaprenda Alberto Caeiro. Eu obedeço. Leio-o. E releio. E entendo o que o meu amor me quer dizer.

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