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Diogo Pina Chiquelho
Aceitei o convite da jovem do castelo de Mourão para ir passar o sábado com ela afim de se beber um copo pelo meu aniversário, que ocorreu a meio da semana. É sempre um risco estar com ela. Mas também um prazer. Gosto dela, gosto da sua companhia, gosto de observar o seu amadurecimento. E desde o aniversário anterior que nos temos portado relativamente bem, apenas um ou outro desvario. A verdade é que desde o princípio que uma certa empatia circuitava entre nós. E, se por vezes, nessa altura, me arrependia de corresponder às suas solicitações, o motivo prendia-se mais com o meu sentimento de culpa do que com a ausência de prazer. Agora que aprendi a sofrear a herança inelutável do pecado e a sentir como ontológica a minha relação com a Fátima, isto é, como algo indelével, aventuro-me com mais segurança nestes desafios da vida. De qualquer modo, fui a Lisboa sem nenhuma fantasia a inebriar-me os sentidos. Achei razoável ir passar umas duas horas com a minha jovem do castelo.
Fui buscá-la a casa, nem subi, porque assim que toquei à campainha ela disse que descia. E fomos para o Bairro Alto embrulharmo-nos na multidão que circulava pelas ruas, de bar em bar, de parede em parede, de garrafas ou copos na mão, alegre, vistosa, a curtir a noite como se esta fosse a catedral dos novos tempos. Num deles, o mais famoso, não nos deixaram entrar, mas não nos importámos tendo em conta as figuras excêntricas que porfiavam por uma oportunidade de penetrar no santuário da moda. A jovem do castelo, mais adiante, perguntou-me se àquelas figuras corresponderia algum substância, se não seria tudo fogo de vista, moda, tudo efémero. Respondi-lhe que provavelmente seriam tão efémeros e superficiais como a própria vida. Todos nós achamos, cada um à sua maneira, que somos diferentes, especiais. Mas se calhar, somos a mesma merda, todos feitos desta matéria perecível. Ela disse que eu estava cáustico. Como resposta, desenhei no ar um gesto a envolver tudo aquilo e disse-lhe que aquele desespero em busca de diversão me punha triste, metafisicamente triste. Uns instantes depois, ela disse que sabia de um meio de me devolver um pouco da alegria. Entrou num bar, pedindo-me que esperasse, e saiu com um garrafa. E sugeriu que fossemos para o quarto dela bebê-la nas calmas, enquanto se lia e se conversava. Não hesitei. Apanhámos um táxi. E foi muito bom. Lemos a duas vozes alguns sonetos de Vinícius de Morais, bebemos, conversámos, fizemos amor e adormecemos. Oh!, não sei quanto amor cabe no coração de um homem. Mas de muitas maneiras e feitios é o amor. E a esta jovem do castelo cabe um pedaço do meu coração.
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Rita Mesquita Pinto
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Diogo Pina Chiquelho