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Hoje passei o dia sozinho. Não falei com ninguém. Agora, é quase noite. E aqui estou. A solidão é redonda e envolvente. E o desencanto. Não sei do caminho. Do caminho para a santidade. Talvez pelos obscuros caminhos do corpo. A vida é diferente do sonho. E da teoria. Às vezes é tecida de sonhos. Mas só às vezes. Será o sonho a carne da vida?
É quase noite e as sombras caem das paredes da casa. Busco no seu desenho imagens do meu amor, uma figuração do seu corpo. Busco o consolo de memórias do verão passado. Mas é porque as evoco que reforço os nós da melancolia. Que me entrelaçam por dentro, me estrangulam. E, no entanto, há momentos de gozo melancólico, de regozijo no sofrimento, um lamber enternecido das próprias feridas. Às vezes, encolho-me num masoquismo de melancolia. São instantes bons, estes de solidão com a própria angústia. Se me batem à porta, não atendo. Se me comprometera em aparecer, não apareço. Se tenho deveres a cumprir, não os cumpro. Comprazo-me nesta tristeza minha, que me consola, me justifica e me aproxima do meu amor. Sou assim, feito deste cristal de lágrimas que oculto do mundo.
5 de Novembro de 1983
Liguei para casa da jovem do castelo. Atendeu-me. Disse-lhe que tinha sido colocado em Moura. Mal me deixou continuar. Respondeu que vinha de imediato. Agora aguardo. Menos de uma hora de viagem. O que é que eu fiz? Porquê? Se isto não é leviandade, o que é? E, no entanto, apesar do sentimento de culpa, estou excitadíssimo.
Ela chegou ainda antes do almoço. Trata-me sempre por «meu amor». Não nego que foi uma alegria revê-la. Reconhecia que era temporária, efémera, mas mesmo assim uma alegria. Enfiados na cama, esquecemos o almoço, não nos importámos com a fome, num transporte de sensualidade que durou até nos cansarmos. Comove-me a entrega dos outros, a sua generosidade, o seu amor por mim. Todos gostamos de ser amados, admirados. Cada um usa estratégias diferentes, uns o poder, outros a beleza, alguns o dinheiro, muitos o talento. Mas o objetivo é o mesmo. Por isso, me contagia a sua alegria de estar comigo. Sobretudo, porque me parece gratuita, sem expetativa de uma recompensa ou promessa.
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