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Joaquim Alexandre Rodrigues
Fui colocado na escola secundária de Moura. Leciono apenas Filosofia, e, exceto numa turma, apenas aos cursos noturnos.
Sinto saudades da Fátima. Na verdade, vivo estes dias como se amarrado no fundo de um poço. Porque não ando bem. Como sempre acontece no deserto do amor. É quase esquizofrénica esta divisão da minha vida entre um ano vivido de ausências e uma semana de plenitude. Mas agora com uma diferença: dantes, a angústia era suavizada pela esperança. Acreditava que o tempo e a idade se estendiam sem limite. Doce ilusão! Os anos passam, a idade muda, e receio estar a perder os melhores anos de vida com a Fátima. Não sei que fazer e que pensar para superar esta angústia. Às vezes, tenho a ideia de que a vida é apenas esta rede de compromissos, deveres e contratempos, e nela somos esmagados sem remissão.
A tristeza espreita por todo o lado. É esta a minha perceção. Digo aos meus alunos que os homens nasceram para ser deuses, mas depois penso no significado da frase e parece-me vazia, abstrata, sem sentido. A nossa dimensão divina! Mas como vivê-la? É tudo tão pequeno e medíocre.
Por momentos brilha uma ideia, estremece uma imagem e imagino que seja um sinal de salvação. Mas de miragens não passam. Tudo marcado de fragilidade. Tudo irremediavelmente efémero.
Mesmo escrever este diário é um enigma. Para quê? Quem o lerá? Quem? Não passará também ele de um desejo ilusório de sobrevivência? Ou escrevo para me organizar interiormente? Desenhar um mapa das minhas emoções?
Cresce em mim o sentimento de que atravesso um deserto. Deserto de ideias, de amigos e emoções. Deserto. E tenho sede, e invoco a água ou a alegria ou a montanha. Tenho sede e não sei do caminho das fontes. Tenho sede. Estou em casa e sem saber em que ocupar a solidão. Mas é a solidão que nos ocupa. Por isso esta ausência a doer-me na vida. Leio, levanto-me, circulo, fumo, penso, aborreço-me. E regresso ao lar da escrita. Que me consola ou finjo que sim para esconjurar o desencanto.
Pela janela vejo a mancha de um incêndio ao longe. Mas sou eu o centro do meu próprio interesse. E se me aborreço é porque existo. A natureza, o mundo, se existem, existem para mim. É através da minha perceção que existem. Para mim.
Escrevo por nada, para nada.
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