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Rui Leitão vai deixar a 10 de janeiro próximo o comando dos Bombeiros Voluntários de Viseu. Dois anos à frente desta corporação, em conversa com o Jornal do Centro fala dos desafios que teve e das mágoas que leva. Diz que os bombeiros têm um dos braços mais comprido do que o outro por andarem sempre de mão estendida a pedir apoios e que ainda há falta de respeito institucional.
Ironiza com o facto dos bombeiros ao irem para quartel estão a pagar para fazer serviço voluntário. Treino e formação são as palavras de ordem. Uma entrevista que pode ouvir 22 na íntegra e da qual aqui também ficam alguns excertos. Uma conversa que não é só de balanço, mas de reflexão do que é necessário para que o socorro nunca falte.
Que balanço faz deste dois anos à frente do comando?
Foi um desafio bastante exigente que permitiu fazer um trabalho determinante. Tenho comigo um excelente grupo de bombeiros que me acompanharam nestes dois anos de trabalho intenso de melhoria, de reformulação, formação e ao mesmo tempo um corpo de bombeiros mais capaz e mais moderno.
Quais as maiores dificuldades?
Recrutamento. Estamos a falar de Viseu, uma cidade no centro do país, mas o recrutamento é difícil. Nos dois últimos dois anos foi possível fazer três escolas de estagiários e uma quarta que vai arrancar em janeiro, mas isto não chega. Viseu além de ser a melhor cidade para viver, também te de ser a melhor cidade para socorrer e a missão é cada vez mais complexa e temos de preparar, formar e treino contínuo para estar à altura do desafio.
A frota é velha, está cansada e precisamos de viaturas seguras. A aquisição de novas viaturas são encargos muito elevados para as associações humanitárias e apesar de durante estes dois anos termos parceiros para aquisição de equipamentos ou melhorias no quartel, isso não chega. De uma vez por todas, esta questão dos bombeiros tem de alterar e não podemos andar de mão estendida para prestar um serviço público à comunidade.
Para isso mudar é preciso que as entidades e sociedade civil olhem para os bombeiros de forma diferente?
Eu não diria a sociedade civil, diria que o poder político tem de olhar para os bombeiros voluntários como uma peça fundamental na equação. Se formos por patamares, o responsável da proteção civil de cada município é o presidente da câmara e depois os dirigentes distritais e nacionais, mas quando a coisa corre mal, de certeza, que não vão tirar qualquer conclusão a um dirigente. Vai cair sempre em cima de quem foi e quem foi fez o melhor que sabia e que conseguia. É o exemplo de Pedrógão, um comandante de um corpo de bombeiros voluntário que desempenhou o melhor que sabia e podia e sentou-se no banco dos réus.
Fala-se da falta de qualificação dos bombeiros. Isto é assim?
Quem escreve, escreve o que quer. Quem faz, faz o que quer. Como em qualquer instituição não podemos generalizar. Em todo o lado há bons e maus profissionais.
O que ficou por fazer nestes dois anos de comando?
Saio com a mágoa de não ter conseguido o que efetivamente o corpo dos Bombeiros Voluntários de Viseu merece que é o respeito institucional. Outra das mágoas que levo foi a de não conseguir aumentar a operacionalidade da corporação no que se refere às equipas de intervenção permanente e isso iria permitir que o quartel que temos na cidade pudesse ter uma equipa de bombeiros mais próxima da população, numa zona de risco que é a zona histórica onde há movimento constante a qualquer hora do dia. A equipa no quartel da cidade iria permitir um socorro mais rápido e eficaz. Lembro que estamos a sete quilómetros do centro da cidade e somos a instituição que mais faz socorro pré-hospitalar no concelho. Fazemos em média 400 emergências por mês. O concelho de Viseu é o que tem mais ocorrências no distrito e tem apenas uma equipa de intervenção permanente. É certo que o concelho tem outro corpo de bombeiros com quem trabalhamos – os Sapadores – e nenhuma das duas instituições é indispensável, mas mais houvessem. Quando cheguei a Viseu fazíamos cerca de 200 emergências médicas, agora 400 e em termos de ambulâncias são as mesmas. Se tivéssemos mais recursos poderíamos fazer mais. Olhando aqui à volta há concelhos mais pequenos, com menos atividade operacional, que já têm duas equipas, por exemplo.
Porque não está a equipa no quartel?
Quem não aprova deve ter um fundamento para isso. Quem pede acha que está a pedir pouco, quem dá acha que está a dar muito. Mas estamos a falar de apoio e socorro às populações. Quando cheguei a Viseu havia situações em que as pessoas estavam 30/40 minutos à espera de ambulância por falta de meios. Ao longo destes dois anos conseguimos diminuir qualquer coisa, mas isso não deixou de acontecer porque não conseguimos abranger todas as solicitações. Viseu tem muita ocorrência de emergência pré-hospitalar, Viseu tem muitos acidentes, tem muitos atropelamentos e deixa-nos aqui de mãos e pés atados quando o CODU nos liga para o quartel a perguntar se temos ambulância e dizemos não temos…
Os meios não estão bem dimensionados?
O nosso concelho é grande e com uma população idosa e com inúmeras instituições de lar e muitos idosos a viverem sozinhos. Estas situações que têm acontecido no concelho têm sido alertadas em vários fóruns.
Eu todos os dias exijo mais e mais aos meus bombeiros. Estamos a chegar a uma altura em que os bombeiros para irem ao quartel já estão a pagar para fazer serviço voluntário.
Dou um exemplo: Tem havido vários avisos de mau tempo e mal nós recebemos esse comunicado a primeira coisa que fazemos é mandar para a companhia e logo a seguir sai uma mensagem a solicitar disponibilidade. Ora, nós com 15 dias seguidos, como já aconteceu, de alerta não há nenhum sistema que aguente e a única coisa que tenho para dar aos meus homens é a direção que se disponibiliza a pagar as refeições.
O modelo que orienta os bombeiros voluntários tem de ser visto, revisto, pensado porque aquilo que os bombeiros faziam há 30 anos não é o que fazem hoje.
Como se faz mais com menos?
Eu tive a oportunidade de apresentar os dados estatísticos dos fogos rurais do meu corpo de bombeiros com as intervenções dentro e fora do concelho, com o número dos meios que conseguimos empenhar sem nuca desguarnecer o concelho… como se faz?… são os milagres da multiplicação dos recursos que temos.
Então a solução é continuar a fazer os milagres?
Mas não vamos continuar a fazer os milagres porque até os pozinhos mágicos começam a escassear. E começa a entrar o cansaço da rotina. Eu não posso estar constantemente a pedir disponibilidade aos meus bombeiros…
Há pouco falou da falta de respeito institucional, era por situações destas?
Ninguém tem noção, ninguém dá valor ao que estes homens valem. E não é só aqui. E não é uma homenagem que vai fazer com que uma pessoa se multiplique em três ou quatro.
Pergunto agora se sai por discórdias internas. Como foi encarada a sua saída por parte dos bombeiros que comanda?
Há sempre várias formas de ver isto. Quando há eleições nos corpos de bombeiros o que se diz é que a nova direção quer ter um comandante deles. Isto não é bem assim e o atual presidente até disse ao Jornal do Centro que este comando fazia parte do seu projeto. A minha saída deve-se apenas porque foi feito um convite. Temos de entender que a água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte. Há aqui muito trabalho para fazer, sim, mas muito daquele trabalho que nós temos planeado tem de ser alimentado e não é alimentado pelos bombeiros que esse estão com a força toda, mas alguém tem de ver isto de uma forma mais generalista e não umbiguista.