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Felisberto Figueiredo
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João Brás
Concluídas as obras de requalificação no ano passado, o Mercado 2 de maio, em Viseu, era um projeto aguardado com expetativas, tanto pelos habitantes da cidade como pelos comerciantes.
O espaço, no coração da cidade, foi projetado para ser uma praça de restauração, com o objetivo de levar vida ao centro da cidade. A ideia de transformação do espaço, que tinha até então a assinatura do arquiteto Siza Vieira , foi definida há quase uma década, na liderança do então presidente Almeida Henriques.
Depois das transformações, os comerciantes que tão bem conhecem o local têm opiniões distintas sobra a renovação. Apesar do projeto ser cheio de boas intenções, alguns profissionais consideram que não passaram disso. Apontam falhas no dinamismo do espaço, limitações no horário de funcionamento e deixam críticas à estrutura física.
A desilusão da prata da casa
Para os comerciantes mais antigos, que acompanharam a transformação do mercado de perto, o resultado está longe do prometido. Uma lojista que se encontra no local há mais de 40 anos afirma que o novo espaço não está em conformidade com as condições climatéricas, mesmo com a cobertura. “No verão é uma autêntica estufa. No inverno, o problema é o vento e a chuva. Está frio na praça.”
A lojista recorda os tempos de maior movimento e lembra ainda com saudade o antigo mercado tradicional, acreditando que uma estrutura restaurada, com foco nas bancas de produtos locais, teria sido a melhor aposta para o espaço. “Todas as cidades têm mercados bonitos restaurados, que as pessoas vão visitar, aqui temos uma espécie de tenda, nada atrativa”, conta, referindo-se ao mercado municipal instalado junto ao prédio da Segurança Social.
A comerciante lamenta a decadência das lojas de rua, ameaçadas pelos grandes centros comerciais, afirmando que a falta de atividade no mercado não ajuda. “Há dias em que esta rua (conhecida como a Rua do Comércio), uma das mais conhecidas da cidade, parece uma aldeia, não se vê uma alma”,
O teto para os jovens
Para alguns estabelecimentos, o Mercado 2 de Maio foi visto com esperança de reavivar o negócio. Samir, funcionário de um café que reabriu no final das obras, está satisfeito com o novo espaço, mas reconhece pontos negativos.
“Eu gosto muito do ambiente do mercado. É sossegado e agradável. No verão, a nível de fluxo é melhor, mas o calor não ajuda…fica muito abafado por causa do teto. No inverno, também chove na praça, dependendo do vento”, descreve.
O funcionário acredita que o espaço necessita de atrair mais público jovem. “No Europeu (Campeonato), com os jogos, tivemos bastantes jovens, mas desde então sinto que falta animação direcionada para o público mais novo”.
O sonho por água a baixo
Susana Freitas abriu um pequeno negócio de restauração, realizando um sonho guardado na gaveta há alguns anos. A realidade não correspondeu ao que idealizou. Para a comerciante, o grande problema é a falta de dinamização e divulgação do espaço.
“Quando começaram as obras venderam-nos uma ideia bastante apelativa, mas não passou disso. Não há dinamização, não há divulgação e acima de tudo não há esforço”, diz, afirmando que a divulgação dos eventos realizados não é suficiente para atrair público.
Para a comerciante, o espaço tinha tudo para ser bem aproveitado, mas “não há ninguém, seja durante a semana, seja ao fim de semana, isto está sempre às moscas, sinto que nas aldeias há mais vida”, frisa.
O cenário piora nos meses de inverno quando a chuva e o vento torna desagradável a experiência de estar na esplanada. “Em dias de chuva, quem se senta nas mesas tem chuva a cair”, conta, apontando os problemas estruturais do mercado.
“Em relação às chuvas, não se pode fazer nada, as obras já tão feitas”, lamenta.
A empresária desabafa, com tristeza, que, a continuar assim, não sabe quanto tempo mais estará aberta, apelando que haja melhorias no calendário de eventos e na divulgação, para que o investimento que fez tenha algum retorno.
As limitações no horário
Não só de cafés, lojas e restaurantes se compõe o mercado. Um bar, no patamar de cima, funcionava até às 2h00 da manhã antes das obras de requalificação. Atualmente, o horário foi reduzido para a meia-noite.
“O bar antes corria bem melhor. Agora à meia-noite ou antes, já tenho os seguranças a mandar os clientes embora. Para um bar, esse horário não faz sentido”, conta a proprietária.
Para a responsável do espaço, que também conta com a exposição de obras de artesanato, a única justificação para o negócio não estar a correr bem é a limitação de horário por parte da Câmara de Viseu.
“O meu projeto faz sentido, eu tenho noção disso. Tenho a certeza que podia correr bem se não me estivessem a cortas as pernas. É inadmissível”, afirma, justificando que com estes limites fica impossível trabalhar.
A localização é outro ponto que não está a favor do espaço. Situado no andar de cima do mercado, torna-se menos visível para a clientela, principalmente quando são realizados eventos.
“Estando na parte de cima, é muito mais escondido para quem aqui entra. Ainda para mais, a maioria dos eventos são feitos no patamar de baixo. Nós aqui de cima somos esquecidos”, conta, apelando que a organização de eventos devia ser melhor distribuída, assim como a divulgação dos eventos com, por exemplo, panfletos em vários locais da cidade.
Clientes apreciam tranquilidade, mas sentem falta de agitação cultural
Do lado de quem procura o espaço para passar bons momentos, há quem goste da calma do Mercado e o procure exatamente pelo sossego que transmite.
“Mudei-me de Lisboa para Viseu há pouco tempo. Para mim não haver muitas enchentes é positivo”, afirma uma cliente assídua do espaço, que encontrou em Viseu e no Mercado a calma que não tinha na capital.
Apesar da tranquilidade, confessa que, por vezes, as idas ao mercado se tornam monótonas. “Gostava que houvesse aqui coisas diferentes de vez em quando, música clássicas ou algum tipo de atividades que chamasse mais pessoas”, confessa.
Quanto às queixas dos funcionários pela falta de clientes, esta freguesa regular do mercado acredita que a culpa não é apenas da falta de atividades, divulgação ou horário condicionado, mas também da crise que o país atravessa.
“Não vejo muitas pessoas, é verdade, mas sinceramente acho que é por estarmos em crise. As pessoas queixam-se da falta de pessoas, mas também há falta de dinheiro”.
A resposta da autarquia
Em resposta às críticas dos comerciantes, a autarquia explica que o Mercado 2 de Maio foi projetado para ser um espaço amplo, mas reconhece que os dois tetos, com diferentes alturas, é o motivo da chuva cair nas esplanadas. A solução encontrada para o problema foi a instalação de uma lona, algo que inicialmente não estava previsto.
Quanto ao aquecimento, a autarquia esclarece que “ainda não esta previsto o aquecimento, mas a orientação está dada. Estamos a ver qual a melhor opção de sistema de aquecedor exterior”.
Os horários de funcionamento, só mudam se a responsabilidade da segurança também mudar, garante Fernando Ruas. Caso os comerciantes assumam a segurança do espaço, a autarquia garante flexibilidade.
“Por mim, pode fechar tarde se quiserem. Desde que tenha vigilância, digam-nos a hora que querem fechar, que nós damos autorização”, afirma o autarca.
De polémica em polémica
O Mercado 2 de Maio, depois das obras completas, começou a abrir na altura do Natal do ano passado. Na altura, o presidente da Câmara, Fernando Ruas, dizia que queria que aquele espaço fosse como uma praça da restauração e que o novo mercado era um “Rolls-Royce”. “Não o comprava, mas penso que lhe vamos dar um bom aproveitamento”, sublinhou também na altura.
A requalificação do Mercado 2 de Maio foi um projeto de Almeida Henriques (PSD), antecessor de Fernando Ruas, que, no início de 2021, motivou a contestação de dirigentes culturais, historiadores e arquitetos.
Numa carta aberta, nomes como Eduardo Souto de Moura, João Luís Carrilho da Graça, José Mateus, Nuno Sampaio, André Tavares e Francisco Keil Amaral exigiram a Almeida Henriques a revogação da decisão de executar o projeto de alteração e cobertura do Mercado 2 de Maio.
Os signatários consideravam que o projeto de cobertura constituía “um grave e inadmissível atentado patrimonial e urbanístico”, referindo que, “num desrespeito despudorado pelo trabalho autoral e pelo património da cidade”, o executivo camarário “ignorou os arquitetos Álvaro Siza e António Madureira, autores do projeto executado nos anos 90 do século XX”.
O “primeiro” Mercado 2 de Maio foi inaugurado em maio de 1879 e sofreu alterações em 1914, nas décadas de 20, 40, 70 e 90. A mais polémica ocorreu entre 2000 e 2002, quando deixou de ter a utilização de mercado municipal.
A obra que terminou em 2023 – que contemplou a cobertura para utilização 12 meses por ano, a reabilitação de lojas e respetivos telhados e a instalação de sistema de climatização – representava inicialmente um investimento global de 4,3 milhões de euros, mas aumentou para cerca de oito milhões.
A cobertura do Mercado é constituída por painéis fotovoltaicos que ainda não estão ligados a nenhum sistema. O tema levou já, por duas vezes, os vereadores do partido socialista a questionarem o executivo sobre o facto de quase um ano depois os painéis não estarem a ser funcionais. Numa das últimas intervenções, o presidente da Câmara de Viseu disse que a ligação dependia de entidades externas e que o processo para agilização estava a decorre.