Autor

Joaquim Alexandre Rodrigues

26 de 11 de 2022, 08:07

Colunistas

Conversas discretas

Às vezes, é melhor que a "transparência" ceda o seu lugar à "discrição"

1. O Grupo dos 20 é o órgão principal da globalização. Quando foi formado, em 1999, reunia os ministros das finanças e os governadores dos bancos centrais das 19 maiores economias, a que se juntava a UE.
Nove anos depois, em 2008, as reuniões anuais do G20 passaram a contar com os chefes de estado e de governo, ganharam peso político, são um utilíssimo fórum onde os líderes mais poderosos do planeta falam olhos nos olhos e, em encontros mediatizados e em encontros discretos, tomam decisões com impacto nas nossas vidas.

2. A reunião do G20 em Setembro de 2013, em S. Petersburgo, esteve marcada por um acontecimento dramático: o presidente sírio Bashar al-Assad tinha bombardeado, em Ghouta, o seu próprio povo com gás sarin, causando 1400 mortos, muitos deles crianças. Durante os trabalhos, Barack Obama chamou Vladimir Putin de lado e explicou-lhe que só havia um caminho: a Síria tinha que destruir o seu arsenal químico. Assim se fez, todas aquelas armas foram inactivadas com supervisão internacional.
Aquela conversa discreta entre Obama e Putin no G20, que não foi noticiada, trouxe um benefício para o mundo: aquele armamento perigosíssimo não caiu nas mãos dos terroristas do Estado Islâmico.

3. No G20 da semana passada, na Indonésia, o primeiro depois da peste, foi muito bom Joe Biden e Xi Jinping terem falado um com o outro, diminuindo tensões, foi bom no que disseram em frente às câmaras e no que acertaram com as câmaras e os microfones desligados.
Para além deste G2 particular Joe/Xi que centralizou as atenções mundiais, houve uma cena muito comentada e que fez as delícias das redes sociais. O líder chinês ficou irritado com Justin Trudeau, o primeiro-ministro canadiano, e interpelou-o.
Xi: «Tudo o que discutimos apareceu nos jornais. Isso não está bem e não foi assim que a nossa conversa foi conduzida, pois não? Se houver sinceridade da sua parte...»
Justin: «No Canadá, acreditamos no diálogo livre, aberto e franco, e é isso que continuaremos a ter, a procurar trabalhar juntos de forma construtiva, mas haverá coisas em que discordamos...»
Xi: «Vamos criar as condições primeiro!»
A seguir, Jinping sorriu, apertou a mão a Trudeau e afastou-se resmungando qualquer coisa. O líder chinês tem razão — é preciso discrição para se obterem resultados.