Autor

Rebelo Martinho

16 de 01 de 2023, 11:13

Colunistas

Porque não fecham o país?

Tudo o que tem acontecido até hoje, contando com o pedido de demissão do assessor do PM, condenado em tribunal, e as suspeitas sobre a secretária de estado da Protecção Civil, provam e comprovam que este XXIII executivo não é de boa colheita.

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Não concordo.
Percebo a beatífica intenção do presidenciável Augusto Santo Silva, mas não concordo.
"As sucessivas demissões não corroem a confiança dos portugueses, mas desgastam o governo", alvitra o putativo candidato às eleições presidenciais.
Tem um notável percurso académico, não há mácula que se lhe aponte, é um jurássico em experiência governativa, conhece, talvez como poucos, a máquina da administração pública, tem uma bem oleada rede de contactos internacionais, e gosta de "malhar na direita", coisa de que a esquerda não desgosta, e não esquecerá na hora de ter de escolher, quiçá, desistir, se for caso disso. Mas como atrás de tempo, tempo virá, a seu tempo se verá.
Agora, recuando às afirmações do professor Santos Silva, nada de mais desfasadas da realidade.
Um povo que vê renúncias, incompatibilidades, demissões, exercícios governativos supersónicos, suspeições, esqueletos fora do armário, apetites vorazes pelo sector privado, violando grosseiramente a lei, só pode diminuir a confiança em quem o governa, por mais que uma árvore não faça a floresta.
Acontece, porém, que uma só maçã podre pode muito bem contaminar o cabaz da fruta e fazer desconfiar da produção do pomar.
Tudo o que tem acontecido até hoje, contando com o pedido de demissão do assessor do PM, condenado em tribunal, e as suspeitas sobre a secretária de estado da Protecção Civil, provam e comprovam que este XXIII executivo não é de boa colheita.
A cepa está comida pela filoxera, que em tempos dizimou o Douro e fez emergir D. Antónia.
E é fraco, quando tinha todas as condições para ser forte.
Relaxou com a maior absoluta, tomando-a como um escudo protector, e tratou dos assuntos sérios com a negligência de quem lida com matérias de intendência. Foi descuidado nas escolhas feitas, pouco rigoroso no escrutínio imperioso, quiçá, julgando estar acima de qualquer controlo.
Acresce que as justificações para esta babilónia de substituições foram, e são, titubeantes e atabalhoadas.
É patente e notório o nervosismo do PM, homem sem sentido de humor, e o seu sorriso forçado, quando confrontado com perguntas incómodas dos jornalistas.
Sabe, e sabemos, que caminha sobre brasas, e já lhe disseram que o povo ouve, lê, avalia, e não perdoa.
Saiba o Professor Santos Silva, que a credibilidade e a confiança no governo está ferida de morte, porque são casos a mais, e que só podem mostrar uma de duas coisas, nenhuma delas recomendável a um executivo a sério e responsável: negligência ou incompetência.
Quanto ao desgaste, é mais do que evidente, e mal seria que o não fosse, perante esta debandada geral.
Ficam os áulicos, os cortesãos e os palacianos, que nem um tremor de terra os arredará dos tapetes de Arraiolos e dos cortinados de organdi e caxemira.
Nota-se o cansaço, o ar tristonho, a irritação, a falta de paciência, o desconforto, sinais de antecipação do fim de ciclo.
Não há impulso, falta iniciativa, carece a convicção, e a cada dia que passa o governo desmorona-se, desfazendo-se por dentro, derretendo por fora, e esmorece a esperança num golpe de asa que inverta o supliciante e penoso caminho que ainda tem pela frente.
Ainda se ao menos aprendesse com o camarada e congénere espanhol que, implementando a descida dos impostos, vê a inflação baixar ao nível mais suave da UE, sem contar ainda com a mexida no IVA…
Para o Dr. António, mais importante do que estratégia e visão, é o trabalho de contabilista, de merceeiro das contas.
Auguro que o governo não cumpra a legislatura face à sua tendência autofágica, destruindo-se a ele próprio própria, tropeçando nos seus erros, explicáveis apenas pela ligeireza com que recruta a soldadagem e pela presunção errónea de intocabilidade.
Se esta bagunça ridícula continuar, se esta caldeirada de asneiras não tiver fim, alguém que encerre temporariamente o país, proceda a acções de higiene e desratização, reabrindo oportunamente, sem data marcada.
O cidadão, sem esforço, aguarda esperançoso.