Geral

08 de 01 de 2022, 08:06

Cultura

Novas Ações, Novos Tempo. A dança continua a ser contemporânea

Ciclo de dança no Teatro Viriato reinventa-se, chega com um novo nome, mas com a mesma herança de uma década

HIP

“Dar o corpo ao manifesto” é o mote da nova edição do encontro de dança contemporânea NANT do Teatro Viriato, que em 2022 celebra 10 anos de existência. Começa a 14 de janeiro e estende-se até dia 29. Aproveitando a data festiva, a herança de uma década, mas também os tempos transformadores a organização deste festival de dança contemporânea, a cargo do Teatro Viriato, manteve o acrónimo NANT mas rebaptizou agora este encontro de New Age, New Time, para Novas Ações, Novos Tempos. Vão ser 15 dias a pensar o corpo e o movimento na companhia de coreógrafos emergentes e consagrados, mantendo o foco principal que é o de celebrar a dança num encontro próximo entre artistas e públicos.

“O corpo feminino e masculino, o corpo não binário, o corpo belo, o corpo que adoece e envelhece, o corpo mútuo, o corpo duplo, o corpo norma e tradição, o corpo que rasga o sistema, o corpo domesticado, o corpo livre, o corpo língua, o corpo planeta, o corpo que dá o litro e se entrega à vida e ao movimento.” Todos eles são convocados a “dar o corpo ao manifesto”, reflectindo assim a multiplicidade dos novos tempos e das novas ações.
 
“Para existir é preciso respirar, é preciso ter corpo, é preciso ter movimento, e por isso abrimos 2022 oferecendo os nossos corpos múltiplos aos tempos vindouros, juntando-nos para celebrar o que um corpo pode em palco, o que um corpo pede, o que um corpo pulsa, o que um corpo dá, o que um corpo precisa, o que muitas vezes não é mais do que um outro corpo com quem se amantizar, pensar, trocar ideias, avançar na (sua? nossa?) história”, afirma Patrícia Portela, diretora artística do Teatro Viriato.


Programa

Pensada para todos os públicos, NANT inicia com “Bate Fado” (14 de janeiro), de Jonas & Lander, num diálogo entre a dança e o fado.
Com este espetáculo, os coreógrafos procuram recuperar e reinterpretar o ato de se bater o fado, uma espécie de sapateado enérgico e virtuoso que o Fado foi perdendo ao longo dos anos. Os coreógrafos trazem a palco um espetáculo grandioso que denota uma investigação aprofundada sobre a relação entre fado e dança a partir de registos e documentos do início do século e ilustrações de Rafael Bordado Pinheiro.

A reflexão entre o corpo que envelhece e que continua a criar é abordada no espetáculo “Framework” (15 de janeiro), de Mário Afonso e destinado aos mais jovens, famílias e escolas, a NANT propõe “As Estrelas lavam os teus pés” (19 e 20 de janeiro), de Sara Anjo e Madalena Palmeirim. Um espetáculo que propõe uma visão para a infância do universo intrigante e desafiador do pintor Hieronymus Bosch, através do seu quadro “Jardim das Delícias”. Com este ponto de partida, Sara Anjos sugere uma experiência onde a imaginação é o motor para a magia acontecer.
O virtuosismo e o ativismo da artista Piny sobem também ao nosso palco na performance “HIP. A pussy point of view” (19 janeiro), na qual o movimento da anca descreve um conjunto de referências que transformam a carne em matéria de opressão, desejo ou movimento político. Piny convida assim a embarcarmos num percurso por diversas culturas e as suas expressões de corpo, refletindo sobre identidade de género e discriminação.
Vai também ser dada a oportunidade de conhecer o processo de (des)ocupação do atelier da Re.AL, de João Fiadeiro, que durante 15 anos ocupou a mesma casa/laboratório artístico no centro de Lisboa, através do documentário “Nada pode ficar” (20 janeiro), de Maria João Guardão apresentado no IPDJ em parceria com o Cine Clube de Viseu.
Sofia Dias e Vítor Roriz apresentaram ao longo de dois anos, uma série de performances em espaços não convencionais que investigavam a relação de movimento com a voz, do movimento com o texto dito e cantado. Com a necessidade de transpor essa pesquisa para o palco de um teatro, surgiu o espetáculo “O que não acontece!” (22 de janeiro). Neste encontro com a dança, há também espaço para uma “comédia de enganos”, nomeadamente “Falsos Amigos” (26 de janeiro), de Miguel Pereira e o coreógrafo catalão Guillem Mont de Palol. Ambos partem do conceito de falsos amigos (palavras com grafia ou pronúncia parecidas, mas que possuem significados por vezes totalmente diferentes) e criam um discurso absurdo, delirante e divertido através das palavras, dos gestos e dos objetos. Terminamos com uma reflexão coreográfica sobre a nossa condição neste planeta com “O mundo é um susto” (29 janeiro), de Vera Mantero.

Atividades paralelas
Paralelamente, e numa parceria entre Cine Clube de Viseu e Teatro viriato pode-se assistir à projeção do filme “O homem que vendeu a sua pele” (13 janeiro), de Kaouther Ben Haria, sobre a história de um refugiado sírio que vendeu o seu corpo a um tatuador, passando a carregar às costas uma verdadeira obra de arte.
Há ainda conversas sobre os temas dos espetáculos no final dos mesmos com os artistas e que são moderadas pela jornalista Maria João Caetano e por Catarina Machado, autora do programa "O Grito e o Cochicho", na Rádio Estação Diária.
 
“Queremos que 2022 tenha muito corpo, muita presença, muito movimento, e muita proximidade entre públicos e artistas, entre ideias e concretizações, entre saúde humana e planeta global, entre novos tempos e novas ações. Abrir a temporada com corpos em movimento no palco do Teatro Viriato parece-nos o melhor dos augúrios. NANT é a nossa dança da chuva para colhermos o melhor de 2022”, refere Patrícia Portela.