Geral

28 de 01 de 2023, 08:22

Cultura

Para Manuela Azevedo (Clã), a ACERT é aquela casa especial

É o arranque da digressão dos Clã e o início da programação da ACERT. Quis o destino que os dois momentos se juntassem em Tondela. E das afinidades entre os músicos e a associação cultural surge o espetáculo deste sábado à noite. Um reencontro que a vocalista da banda, Manuela Azevedo, sabe que vai ser especial

Manuela Azevedo

Fotógrafo: João Paulo Wadhoomall

Começava por lhe perguntar que relação é esta entre Clã, Manuela Azevedo e ACERT.
É, realmente, uma relação antiga. Acho que desde o “Kazoo”, o nosso segundo disco que editamos em 1997… portanto já há muito tempo. Foi com essa digressão a primeira vez que visitámos a ACERT e nas várias visitas que fizemos tocámos sempre no verão e na no palco ao ar livre. Agora, apesar de já sermos clientes antigos, vai ser uma estreia porque vai ser a primeira vez que vamos tocar no auditório fechado. Nestas múltiplas visitas que temos feito, com as diferentes digressões e diferentes discos, temos sido sempre muito bem recebidos.
Temos levado memórias incríveis dessas noites e desses concertos, de um público muito atento, muito generoso, muito cúmplice e muito informado também sobre aquilo que está a ver e a ouvir. Um público que conhece o trabalho e as canções e que acompanham generosamente aquilo que fazemos. Por isso, é assim com uma grande expectativa de reencontro, com essa energia de público, que vamos a Tondela.

É o primeiro concerto deste ano. A escolha do palco da ACERT não foi por acaso?
Foi uma feliz coincidência termos sido convidados pela ACERT para este início do ano e arranque de programação desta estrutura. Para nós é maravilhoso começar neste neste local tão especial. A ACERT é uma casa de cultura, é uma casa que está habituada a estimular também o público com muitas propostas que vão do teatro à música, passando pela dança… a muitas provocações e muitas ideias novas que vão alimentando as pessoas que regularmente vão à ACERT. E, por ser uma casa, uma oficina, um laboratório de trabalho cultural acho que, também por isso, é a casa que recebe tão bem os artistas quando eles sobem a palco ou quando fazem uma residência lá ou quando ali levam um espetáculo. Para nós não é só essa coisa de começarmos num sítio … é termos boa memória, sabermos que é um local especial e que começa um novo ciclo da programação também com novas propostas e novos desafios para o público. É muito bom para nós fazermos parte desse arranque de um novo ano desafiante.

É importante ter este género de estruturas nos territórios do interior e conseguir uma programação local, mas também nacional e internacional?
Eu acho que cada vez mais tem que se trabalhar neste sentido de descentralizar o que se faz em Portugal em termos de ofertas culturais e de permitir que estas estruturas tenham as condições para poder desenvolver esse trabalho porque, para já, é uma questão de justiça elementar que todo o país possa ter igual acesso a todas as oportunidades, não só de usufruir da cultura mas também de a produzir. Acho que essa descentralização, essa possibilidade de trabalhar num outro território enriquece aquilo que se possa construir porque também há muito de inspiração que esse território traz da sua história e também das suas dificuldades que eu acho que alimenta quem e cria cultura e quem pensa cultura.

E 2023 vai ser um ano de estrada para os Clã?
Vai ser um ano de muitas aventuras. Nós ainda estamos com a digressão do “Véspera” na estrada. Será, se calhar, o ano de encerramento desse digressão porque, felizmente, já tivemos oportunidade, apesar das inconstância causadas pela gestão da pandemia, de estar em vários palcos, em várias cidades, mas ainda queríamos, neste ano, chegar a alguns pontos do país onde ainda não fomos.
Mas, estamos já a pensar no que é que iremos fazer no futuro. Por isso, estes próximos meses serão meses de pensamento, de uma reorganização interna para começarmos a criar condições de no meio da digressão conseguirmos também, paralelamente, ir trabalhando num projeto que ainda não sabemos exatamente o que será mas que está a ser desenhado nas nossas cabeças e nas nossas vontades.

Como é que se consegue reinventar uma banda, um coletivo, que ao fim de 31 anos, apesar das mudanças, mantém esta vontade de fazer de novo e avançar com projetos?
Eu acho que surge dessa necessidade de pensar em coisas novas para fazer, de nos apetecer desafiarmo-nos e descobrirmos coisas que ainda não fizemos. Acho que isso foi sempre o motor da banda, foi isso que fomos fazendo o disco para disco, mudando o que íamos fazendo, experimentando outros territórios. Aprendemos também com todos os parceiros que fomos encontrando pelo caminho, desde as parcerias que fomos fazendo com o Sérgio Godinho em palco, a todas as parcerias que temos na escrita. O facto de trabalharmos com letristas extraordinários, mas também de diferentes gerações e de diferentes olhares, traz-nos coisas novas para descobrirmos e isso alimenta essa vontade de nos atrevermos noutros territórios. Enquanto mantivermos esta necessidade de fazer coisas diferentes, mantemos a banda de boa saúde apesar de já serem 31 anos.
Também houve a mudança de dois elementos em 2019 e isso foi muito importante porque foi uma injeção de sangue novo. Quer o Pedro Santos, quer o Pedro Oliveira são dois músicos incríveis e com muita sede de descobrir.

Este espetáculo na ACERT é só “Véspera” ou será mais Clã?
É, necessariamente, “Véspera”, mas haverá mais canções da nossa história que passarão pelo palco até porque têm uma afinidade muito interessante para este reencontro na ACERT. Vamos também apresentar uma ou outra coisa diferente que já não tocamos há algum tempo mas que queremos levar para tornar a noite especial.