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23 de 06 de 2022, 19:13

Diário

Água continua a gerar polémica em Viseu. Tema 'aqueceu' reunião de câmara

Presidente da Câmara diz que Viseu vai entrar nas Água do Douro e Paiva, mesmo que os outros municípios não queiram. Preço vai subir

REUNIAO CAMARA 23 JUN 22

Fotógrafo: Jornal do Centro

Continua a polémica em Viseu em torno da água e o pedido de adesão do município à empresa Águas do Douro e Paiva. O vereador do PS no município João Azevedo acusa Fernando Ruas, presidente da autarquia, de não ter resolvido o problema da falta de água no concelho nos mais de 20 anos em que esteve à frente da autarquia.

“Para não tentarmos inverter a história, todos nós quisemos resolver o problema, mas há aqui várias partes da “timeline” da história. Portanto, o senhor teve até 2013 na Câmara de Viseu, eu esteve entre 2009 e 2013 consigo, nada fizemos e o senhor já tinha estado 20 anos para trás”, atirou o vereador, enquanto Fernando Ruas dizia que João Azevedo já estava “a abusar”.

A crítica foi feita na reunião do executivo municipal que aconteceu esta quinta-feira, onde o socialista recordou o processo de constituição da empresa intermunicipal Águas de Viseu, que foi criada para enfrentar a seca e que Fernando Ruas colocou agora de lado. O reparo de João Azevedo não caiu bem ao presidente da autarquia, que não escondeu a irritação e o debate subiu de tom.

Já depois da reunião e em declarações aos jornalistas João Azevedo disse que o tema da água tem que ser bem discutido na praça pública. “Tem que haver um debate público sobre esta matéria, é preciso ver o tarifário que é aplicado neste pré-anunciado, e que ainda não está decidido. E é também preciso questionar os outros presidentes de Câmara que é mesmo verdade que disseram que iam aceitar e que agora não aceitem”, disse.

João Azevedo falou ainda da barragem de Fagilde. “Queremos que se explique como é que se faz uma obra numa conduta que traz água do Douro e Paiva para Viseu, onde é que está, qual é o ponto de ligação. Mas o mais importante disto tudo é que a nova barragem de Fagilde seja efetuada", frisou o vereador socialista, lembrando que "havia o pressuposto da criação da empresa intermunicipal".

Também aos jornalistas, o presidente da Câmara, Fernando Ruas, garantiu que Viseu vai mesmo para a Águas do Douro e Paiva, quer os municípios vizinhos sigam ou não o mesmo caminho.

"Temos é que avançar. Isto é uma lição importante. Por causa destas situações é que chegámos de 2016 a 2022 com uma mão cheia de nada", lamentou.
Fernando Ruas referia-se ao facto de, em junho de 2016, ter sido celebrado um protocolo entre os municípios de Viseu, Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo, Sátão, Vila Nova de Paiva, S. Pedro do Sul e Vouzela para a constituição da Empresa Intermunicipal Águas de Viseu. Para o efeito, foram realizados estudos no valor de 226.959 euros (com IVA) mas, em setembro de 2018, os municípios de Mangualde, Nelas e Penalva do Castelo enviaram um ofício à Câmara de Viseu a informar que não pretendiam aderir à empresa, o que inviabilizou a sua constituição.

Assim, em julho de 2019, os municípios de Mangualde, Nelas, Penalva do Castelo, Sátão e Viseu assinaram um protocolo para a constituição de uma empresa plurianual de captação, tratamento e fornecimento de água. Neste âmbito, foram realizados estudos no valor de 87.822 euros (com IVA).

"A empresa não teve nenhum passo. A oito (municípios) morreu, a cinco nunca foi formalizada. Por isso é que eu digo: se por acaso não queriam que este presidente ou outro qualquer tivesse outra posição, que agora contestam, tivessem andado", afirmou Fernando Ruas.

O autarca insistiu que esta é a melhor solução e garantiu que a Águas do Douro e Paiva se compromete a meter no concelho água em três anos e a fazer os respetivos investimentos. Fernando Ruas não escondeu todavia que a fatura da água vai aumentar, ainda assim a subida, disse, vai ser menor do que com os tarifários previstos na empresa intermunicipal de Viseu.

"Isso para mim é importante, mas é secundário. Eu quero é que daqui por dois, três anos, haja água em Viseu. Porque se houver uma seca como aquela que houve em 2017 ninguém está a perguntar se ela é mais cara dez cêntimos ou onze cêntimos, temos é de garantir a água a Viseu" considerou.

Por outro lado, esta será uma solução que se concretizará "entre dois a três anos", enquanto com a empresa plurimunicipal "nem daqui por seis", acrescentou.
Às críticas de que com a solução agora encontrada se deitou dinheiro fora, Fernando Ruas respondeu: "deitou, porque se encomendou um estudo que custou este montante para oito municípios e depois, exatamente por iniciativa de Mangualde, de Penalva do Castelo e de Nelas, desfizeram isto".

No que respeita ao estudo para a constituição da empresa dos cinco municípios, considerou que os cerca de 87 mil euros não foram deitados fora, porque ainda poderá ser aproveitado, visto tratar-se de um plano geral de abastecimento de água.

"Os outros (226.959 euros) deitaram-se fora e têm responsáveis", sublinhou.
Fernando Ruas disse que está disponível para constituir uma empresa que agregue os cinco municípios, ainda que ela só sirva para "fazer pressão" junto do Governo para a construção da nova Barragem de Fagilde.

"Não se percebe porque é que a APA (Agência Portuguesa do Ambiente) não anda com a barragem, porque a barragem é sempre necessária. Ou com a Águas do Douro e Paiva ou com a empresa intermunicipal, a barragem de Fagilde é sempre necessária e é da responsabilidade da APA", frisou.