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03 de 10 de 2023, 14:50

Diário

Viseu: Ativistas criticam 'postura conservadora' da Câmara em relação à comunidade LGBTQIA+

Plataforma Já Marchavas lançou manifesto a poucos dias de mais uma edição da Marcha que junta esta comunidade a 14 de outubro

Marcha LGBT em Viseu

Fotógrafo: Igor Ferreira

A plataforma Já Marchavas acusa a Câmara de Viseu de manter uma “postura conservadora” para com a população LGBTQIA+. O movimento lançou um manifesto a poucos dias da Marcha que vai ter lugar na cidade, e que está marcada para 14 de outubro. Esta vai ser a sexta edição do evento, com início às 15h30 no Parque da Cidade.

O grupo organizador da manifestação lembra que, nos últimos seis anos, “foram várias as tentativas de contacto e colaboração com o município de Viseu de forma a criar sinergias que beneficiassem a comunidade em torno de questões de igualdade e não discriminação”.

“Os encontros com o atual executivo municipal aconteceram, as promessas à construção de instrumentos de política local que garantam a proteção, segurança e defesa dos direitos de pessoas LGBTQIA+ também, no entanto, chegamos quase ao final de mais um ano e está tudo por cumprir. A Câmara Municipal de Viseu persiste em ter uma postura conservadora, sem querer dialogar e ouvir as reivindicações das pessoas LGBTQIA+”, refere a plataforma.

Os organizadores da Marcha LGBTQIA+ de Viseu defendem que a política autárquica deve promover “a igualdade e diversidade dos seus munícipes” e lembram que a concentração visa celebrar o orgulho da comunidade Queer.

Frisam ainda que a luta LGBTQIA+ representa também “a luta por uma sociedade livre de preconceitos onde toda a gente possa viver com dignidade contribuindo significativamente para a sociedade”.

“A respeito da celebração do orgulho LGBTQIA+, existem mais que razões para o continuarmos a celebrar. Razões para nos reunirmos em coletivo e relembrarmos, partilharmos e celebrarmos as nossas múltiplas experiências, desafios e conquistas contra o estigma da orientação sexual, da identidade de género, dos corpos ‘falhados’ ou ‘monstruosos’ que continuam a ser patologizados, encarcerados, mercantilizados e invisibilizados pela lógica reprodutora do hétero-patriarcado”, acrescentam.

No entanto, dizem, ainda há “razões” para continuar a luta e o caminho para a igualdade tarda em cumprir em áreas como o trabalho, a habitação, a saúde e a educação, considerando que as escolas devem ser “espaços de excelência para o desenvolvimento individual e intelectual”, mas que revelam elevados índices de insegurança e violência física de jovens LGBTQIA+.

Na saúde, defendem, devem ser garantidos “todos os cuidados médicos e terapêuticos necessários para a garantia da integridade física e psicológica de todas as pessoas”. A Já Marchavas alerta também para os problemas no acesso ao mercado de trabalho regulado e carreira profissional, onde existe “o risco de um coming out (saída do armário) forçado”, e também no acesso à habitação, onde a comunidade LGBTQIA+ está “mais vulnerável a situações sem abrigo”.

“Estes são só alguns dos inúmeros obstáculos que pessoas LGBTQIA+ têm de enfrentar todos os dias. Todos os dias se debruçam com as mesmas dificuldades, com a hostilidade de uma sociedade que as tenta invisibilizar, mas ainda assim continua a erguer e lutar. Não será esta uma boa razão para celebrar?”, questionam.

Na marcha de 14 de outubro, os manifestantes vão protestar por uma justiça “que seja inclusiva e que reconheça e lute contra as múltiplas formas de violência e opressão que as pessoas LGBTQIA+ enfrentam, pelas suas identidades e expressões de género e características sexuais”.

“A luta contra esta opressão estrutural deve ser feita de variadas formas, sendo uma delas as ações de rua da luta cidadã, com marchas politizadas. E a marcha de Viseu é uma marcha política. A força transformadora das marchas tem vindo a ocupar as ruas em Portugal, desde 2000, agora com 27 cidades, que lutam com consciência e resistência pela liberdade e igualdade”, sublinha o Já Marchavas.

A plataforma destaca também o trabalho dos poetas Judith Teixeira e Luís Miguel Nava, naturais de Viseu, cujo reconhecimento da obra “é premente para a desconstrução de tabus em torno da criação artística e literária Queer”.