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29 de 06 de 2022, 11:30

Diário

Dez mil pessoas sem médico de família só em Viseu

O aumento do número de utentes sem médico de família é um dos motivos da vigília esta quinta-feira no Rossio, Viseu. O Agrupamento de Centros de Saúde Dão Lafões tem praticamente 12 mil pessoas sem médico de família.

Manif contra o encerramento do centro de saude em cabanas de viriato

Fotógrafo: Igor Ferreira

O Rossio, em Viseu, recebe na noite de quinta-feira (30 de junho) uma vigília para sensibilizar as pessoas e o governo na necessidade de mais vagas para que "todos os utentes tenham um Médico de Família".

Em causa, está o número diminuto de vagas para colocação de novos especialistas em Medicina Geral e Familiar na zona Centro no novo concurso. O objetivo principal é o de sensibilizar a população e o governo face a esta situação, que deixará o centro do país ainda mais carenciado relativamente ao elevado número de utentes sem médico de família.

Em declarações ao Jornal do Centro, Inês Laia, médica no Agrupamento de Centros de Saúde Dão-Lafões (ACES Dão Lafões) na CIMGFZC (Comissão de Internos de Medicina Geral e Familiar da Zona Centro) justifica a vigília considerando que “o ACES neste último concurso formou 11 médicos de família e, infelizmente, nove deles não vão ficar por cá, por não ter sido aberto vaga. No último concurso, neste mês de junho, abriram apenas três vagas sendo que nenhuma delas foi na cidade de Viseu”.

A representante refere dados atualizados que comprovam a necessidade da abertura de mais vagas, assinalando que o número de utentes sem médicos de família é cada vez maior. “Acontece que, neste momento, com dados de 31 de maio de 2022, contamos na ACES Dão Lafões com 11.716 utentes sem médico de família, dos quais 9.811 apenas na cidade de Viseu", concretiza a médica.

Inês Laia entende que está a criar-se "um efeito bola de neve, porque para além de não ser benéfico para os profissionais de saúde que acabam por ficar sobrecarregados, também não é para os utentes que acabam por ter de ser visto por vários médicos diferentes e assim não há uma prestação de cuidados continuados ao longo do tempo”.

A média diz ainda que, aliada à questão de existirem cada vez mais pessoas inscritas no Serviço Nacional de Saúde, há um outro fator que tem agravado a falta de médicos de família. “Além de cada vez mais termos pessoas a inscreverem-se e a pedirem médico de família aqui na cidade de Viseu e termos um grande aumento populacional, temos também ao mesmo tempo, tido muitas pessoas a ficar sem médico de família em virtude das reformas que se têm verificado nos últimos meses e que se vão continuar a fazer sentir nos próximos anos.”, detalha.

A centralização dos serviços médicos para uma região está a conduzir para uma redução dos funcionários de saúde em outras, que cada vez mais ficam carentes de cuidados de Medicina Geral e Familiar. “A verdade é que a maioria das vagas que abriram a nível nacional foram para a região de Lisboa e Vale do Tejo, numa tentativa de centralizar os recursos para uma região que admito que está carenciada, mas que não considero mais necessitada do que a região Centro”.

A vigília está marcada para as 18h00 desta quinta-feira (30 de junho) na Praça da República (Rossio) em Viseu. O objetivo é abrir um espaço de debate e conversa entre profissionais de saúde e utentes sobre aquilo que consideram ser uma necessidade de cada utente ser acompanhado por um médico de família.

*Margarida Almeida (em estágio curricular)