Geral

12 de 01 de 2023, 12:50

Diário

Morreu a mulher mais idosa do país que vivia em Moimenta da Beira

Isabel Gomes Sarmento morreu esta quinta-feira aos 112 anos. Nasceu no Brasil no ano da implantação da República, mas vivia na Vila da Rua, Moimenta da Beira. Funeral está marcado para esta sexta-feira

Isabel Gomes Sarmento idosa centenária 2

Fotógrafo: Câmara de Moimenta da Beira

A mulher mais idosa de Portugal morreu esta quinta-feira. Isabel Gomes Sarmento tinha 112 anos completados a 27 de dezembro. Nasceu no Brasil em 1910, ano da implantação da República, mas as suas raízes estavam na Vila da Rua, no concelho de Moimenta da Beira, onde vivia.

Isabel Sarmento já passou por pandemias, guerras, mudanças de regime e catástrofes climáticas durante a sua vida. A mulher teve cinco filhos, 16 netos e bisnetos e ainda uma tetraneta. Até completar os 111 anos, tinha ido apenas duas vezes ao médico, a última foi por ter caído e que resultou numa anca partida.

Devota de Nossa Senhora de Fátima, adorava comer pizza, lasanha e comidas com natas. Detestava peixe e não resistia a um café ou um vinho do Porto se não for muito forte, mas nunca gostava de andar de carro.

Isabel Sarmento era filha de Ayres Gomes Sarmento e de Maria Cândida Gomes, emigrados no Acre (Brasil), onde nasceu o irmão Francisco. O pai era natural de Prados, também em Moimenta da Beira, e fez-se carpinteiro no Brasil, onde trabalhava no Cruzeiro do Sul. Segundo os relatos dos filhos, chegou a ter uma grande casa com um padeiro e um pescador por sua conta.

O pai morreu com problemas pulmonares quando Isabel tinha sete anos. Mais tarde, a mãe Cândida regressou com Isabel e Francisco a Vide, uma povoação de Moimenta, onde estavam mais três filhos que nunca chegaram a emigrar: Manuel, Carlos e Luís, que permaneceram sempre em casa de uma tia.

Isabel aprendeu suficiente para aprender a ler e escrever, mas não prosseguiu nos estudos. De resto, também aprendeu a costurar e a fazer croché e as lides domésticas. Gostava de dançar e de conversar e tornou-se costureira.

Com o marido António, que foi alfaiate, teve cinco filhos: quatro raparigas e um rapaz. Juntos, vendiam roupas de feira em feira numa carroça. Também trabalhavam por encomenda para outras ocasiões mais solenes. Já mais tarde, António foi pedreiro juntamente com um tio e depois com um sobrinho.

Dois dos filhos do casal morreram precocemente: Ayres faleceu com apenas quatro anos e Ester aos 18, vítima de uma paralisia que terá sido causada por um acidente vascular cerebral num acontecimento que, segundo Otília Loureiro – a filha mais nova –, abalou a mãe.

“A minha mãe sofreu muito com a morte da Ester, a minha irmã parecia que tinha um dom, pois ela soube o que lhe ia acontecer. Previu a sua morte”, recordou Otília.

O marido morreu aos 73 anos. As filhas Otília e Gorete optaram por levar a mãe à Suíça, mas esta não se adaptou e volta à sua terra, onde recebeu visitas da prima, da comadre, da sobrinha e de amigas, fazia paninhos e via televisão.

Quando a família a visitava, Isabel chegava a interromper as refeições para ver os seus programas favoritos, para espanto dos que ficavam na mesa. Só quando Otília e, mais tarde, Gorete e o marido regressam da Suíça é que Isabel saiu de casa.

“A minha mãe começou a ter medo e, às vezes, até ligava à noite a dizer que ouvia barulhos”, disse a filha mais nova. A partir daí, as filhas passaram a recebê-la de vez.

Mesmo com uma idade muito avançada, Isabel observava tudo o que está à sua volta e estava lúcida mesmo estando de cadeira de rodas.

O funeral está marcado para amanhã, sexta-feira (13 de janeiro), às 15h00 no cemitério de Vila da Rua.