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04 de 08 de 2021, 13:00

Autárquicas'21

“Não tenho nada contra a comunidade LGBT. Mas se não houver mato não há incêndios”, esclarece candidato do Chega

Chega à política pela mão de André Ventura, depois de uma longa carreira militar. Pedro Calheiros lamenta que haja medo nas pessoas, mas acredita que o Chega, partido pelo qual se candidata à Câmara de Viseu, vai ter uma votação surpreendente

Coronel Calheiros candidato para as autárquicas  pelo Chega

Fotógrafo: Igor Ferreira




No lançamento da sua candidatura disse que queria pôr a Câmara de Viseu a servir os cidadãos e com o lema servir de mãos limpas. O que está mal e quais as propostas do Chega?
Há muita coisa que se pode criticar só pelo gosto de fazer críticas. As câmaras têm feito alguns trabalhos que até se verificam bons, mas há aqui uma série de outras coisas, sobretudo no que diz respeito aos gastos, que não estão tão bem.

Há muitos gastos em quê nesta autarquia?
Em coisas que eu acho supérfluas

Como por exemplo?
A bonecada que aí anda em cima das rotundas…

Chama bonecadas às esculturas que adornam as rotundas?
Para quem é muito amante da cultura, é capaz de achar que é muito bonito e é absolutamente necessário. Eu entendo que na nossa vida, na gestão das coisas da casa, como numa autarquia e num país, a gestão tem de ser feita desta forma: em primeiro lugar as coisas importantes e depois se sobrar vamos ao que é menos importante. Tem de se priorizar necessidades e essas necessidades não passam por aí.

Foi dinheiro mal gasto, é o que está a dizer?
Lá está, eu não estou a dizer que foi mal gasto. Eu penso é que poderia ter sido gasto de outra maneira.

Onde, por exemplo?
É uma necessidade absoluta dar qualidade de vida às pessoas e é uma coisa que normalmente vem de dentro para fora. Ou seja, o centro da cidade vai estendendo as suas necessidades para o exterior e são sempre os mesmos a ficar de fora. Há um trabalho muito grande feito aqui para a cidade em termos urbanísticos e turísticos, mas quem vive nas periferias acaba por ficar de fora.

Diz que as freguesias não estão no centro da cidade. Esse é um dos problemas que aponta à gestão autárquica ou há outros mais graves?
Não são graves… é o que eu digo…

Mas pergunto-lhe se há?
Graves, graves não há.. aliás, pode ser apontada a parte ambiental. Há um fechar de olhos a algumas coisas que sã conhecidas, como por exemplo as estações de tratamento de águas. Sabemos que não estão a fazer descargas como deve ser.
De alguns anos para cá também se assiste a uma quantidade de monstros depositados perto dos rios, nas valetas, à beira de estrada. Podemos culpar, antes de mais, as pessoas por falta de educação cívica, mas depois falta a fiscalização. E mais, deveria haver uma ação da própria autarquia para pegar nestes monstros e metê-los no ecoponto.

Diz que o seu programa é um documento aberto, um plano de intenções. Tem pedido contributos? E que contributos lhe são dados? Em que áreas?
Naturalmente que há sempre gente que conhece bem a cidade, que se prontificou a dar uma ajuda na elaboração do programa autárquico. Algumas pessoas, que não lhe vou dizer quem são, ajudaram muito.

Não diz porque as pessoas não querem estar ligadas ao Partido?
Porque estão noutros partidos. Há muita gente que pertencendo a outros partidos sabemos que vota em nós

Vai buscar votos ao CDS e PSD?
E ao PS.

Essa confiança porquê?
Porque conheço as pessoas. São afetas a outros partidos há muito tempo, mas que... olhe… conhecendo-me devem achar que tenho algo de bom.


Que medidas de caráter social e de segurança propõe para o concelho?
Há coisas mais importantes da que lhe vou dizer, mas acho que esta é fundamental. Ao preço que a justiça está, se tiver um problema com o Estado e não tiver dinheiro para levar o Estado a Tribunal o que se faz é que se desiste. Mas eu pergunto: e se a câmara tiver um gabinete jurídico aberto aos munícipes para os ajudar?

E em termos de segurança? Viseu é uma cidade segura?
Ainda não é uma cidade insegura, mas caminhamos a passos largos para lá?

Porquê?
Porque não há por parte das polícias autoridade. Ela é conferida, mas não é legitimidade. A lei estabelece com algum rigor os limites da autoridade, mas depois não é legitimada pelas pessoas.

A polícia deveria ser mais eficaz na sua atuação?
Sim, porque esta coisa das pessoas estacionarem ad hoc, de fazerem o que querem no trânsito de terem uma linguagem [imprópria] na rua… tudo isto foi uma perda de valores.

Sem quebrar a liberdade do cidadão, a polícia deveria ter uma atuação mais musculada?
A atuação da polícia não precisa de ser mais musculada, o que é preciso é revisão dos códigos processuais e penais. Se as polícias prenderem um indivíduo, se tiverem de ter uma ação mais musculada porque ele resistiu, a primeira pessoa a sair da secretaria do tribunal é o indivíduo que prevaricou. O polícia fica lá a tratar do expediente e a responder a perguntas como se não terá exagerado na força.


Se for eleito, pro exemplo, acabaria com manifestações como as que existem em Viseu da comunidade LGBT?
Eu não tenho nada contra a comunidade LGBT. Mas se não houver mato não há incêndios.

Isso quer dizer o quê?
Se houver necessidade de pôr a arder qualquer coisa vão lá pôr o mato. Se não houvesse pobres havia socialismo? Eu acho que não, porque não havia necessidade. Da mesma forma que se não andassem permanentemente com esta coisa, por exemplo, do “black lives matter” e não sei quê.. as pessoas alimentam isso… não há necessidade

As pessoas ou partidos como aquele que representa?
O Partido que eu represento diz que temos de ser todos iguais. Direitos iguais, deveres iguais. A base de uma sociedade tem de ser isto, caminhar para isto...

A comunidade LGBT existe, mas não precisará de se mostrar porque ainda não tem os seus direitos em pleno?
Nós escusamos é de andar a deitar foguetes a dizer que existem… As pessoas existem porque existem

Portanto ser homossexual não há problema nenhum desde que não se manifestem?
Eu penso que é uma utopia alimentar este tipo de coisas. Porque faz de conta que ela não existem, mas precisam de existir quando elas existem de facto. Sempre houve maricas, desde a Grécia em que os soldados tinham um rapazinho que era a pessoa que lhes fazia tudo e favores sexuais.

São pessoas com direitos. Volto a perguntar se na sociedade atual têm os seus direitos plenos?
Eu acho que sim.

O Chega é um partido com pés de barro?
Sim. O Chega tem uma existência recente, tem, de facto, problemas de crescimento. Houve gente que aqui chegou não se sabe muito bem vinda de onde. Os filtros ainda são fracos, não nos dão a dimensão das pessoas que se aproximam para de alguma forma, explorar as fraquezas do Partido.

É preciso uma purga?
Tem de ser feita de uma forma natural. Temos de estar todos muito atentos e perceber que o Partido não é aquilo que as pessoas pensam que é.

Foi fácil constituir as listas em Viseu?
Não. Houve várias coisas que não ajudaram. A primeira das quais é o espaço temporal em que se acreditou que seria possível fazer listas. Nenhum de nós tinha experiência nisto, não sabíamos o que iria demorar. Estávamos também convencidos que as pessoas estavam mais abertas em entrar em listas. Depois a lei da paridade veio trazer problemas enormes porque se há muitos homens que dão a cara, com as senhoras é diferente. Todos os partidos têm este problema. Mas nós temos de ver as coisas à sua dimensão.
Agora enquanto que os outros partidos têm a máquina montada, nós chegámos agora.

Por onde passa a campanha do Chega? Rua ou redes sociais?
Rua muito pouco. O Chega não tem subvenções e não sei se terá porque há tanta forma de gastar dinheiro bem mais gasto do que em cartazes…

Qual vai ser a melhor votação?
Acredito que será uma surpresa muito agradável. Enquanto temos o feedback das pessoas que têm medo de entrar nas listas porque têm medo de perder o emprego e arriscar porque sabemos que os grandes empregadores podem barrar portas… há muitas situações desta… mas há muita gente que diz que não entra na lista mas que vai votar em nós. Acreditamos que vamos ter aqui uma votação que vai ser surpreendente.