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10 de 10 de 2021, 08:28

Lifestyle

Ainda há santos no altar

São Teotónio é o padroeiro da Diocese de Viseu, mas recusou dela ser bispo

Santos

Fotógrafo: Igor Ferreira

Há santos trovadores, há os que queriam ser os “reis da juventude” e aqueles que ficaram cravejados com setas. São os Santos da Igreja Católica que em junho são mais lembrados (festas populares), mas a quem, a toda a hora, lhes são pedidos favores.

E Santos são aqueles que, através da canonização, a Igreja Católica reconhece como pessoas que tiveram uma “vida admirável” e servem de modelo.

Quando se escolhe um patrono, é, precisamente, pelo exemplo da sua vida. Os santos mártires ganharam uma enorme projeção nas comunidades cristãs dos primeiros séculos e pelos séculos seguintes. Era recorrendo aos seus exemplos que se espalhavam a fé e a doutrina.


Portugal também tem os seus santos, alguns antes do início da nacionalidade, e outros que foram “importados” mas que têm “honras de Estado”.



S. Sebastião




É o caso de S. Sebastião. Padroeiro da Diocese de Lamego, este é, talvez, o santo com mais representação iconográfica nas capelas da região. É a ele que se recorre por causa da guerra, da peste, da doença. Em tempos de pandemia, as preces são para ele.
De soldado para defender os cristãos, passou a “soldado de Cristo”.



Reza a lenda que S. Sebastião nasceu em Narbonne, no sul de França, filho de uma família nobre. Já adulto foi para Roma, onde se alistou no exército romano e onde chegou a ser capitão da guarda pretoriana.
Mas, a sua fé e conduta para com os prisioneiros atiçaram o ódio do imperador que o considerou traidor e o condenou à morte. O seu corpo foi cravejado de setas e o corpo atirado ao rio. Foi resgatado por uma mulher que se chamaria Irene. “Levou-o para casa e curou-lhe as feridas. Ainda não completamente restabelecido, mas já com algumas forças e persistência voltou junto do imperador para defender os cristãos, condenando-lhe a impiedade e injustiça” (J. H. BARROS DE OLIVEIRA (2003). Santos de todos os Tempos, Apelação: Paulus Editora).


Diocleciano mandou que fosse chicoteado até à morte e o corpo atirado aos esgotos de Roma. Foi de novo, outra mulher, Luciana, que tratou dele, depositando o corpo do santo nas catacumbas da cidade.



E porquê mártir? Para a Igreja Católica, “a sua fé confrontou-se com a perseguição, ajudando aqueles que estavam próximos de desanimar”. É assim que chega a Padroeiro Principal da Diocese de Lamego e cuja festa se assinala a 20 de janeiro.




Sabia que:

Há uma capela em Viseu dedicada a S. Sebastião. Foi edificada no século XVI. A sua atual configuração artística e estilística nada deve a esse período uma vez que a decoração da fachada remete para uma linguagem de transição entre o rococó e o neoclassicismo (séc. XIX), estilo que predomina na decoração dos retábulos interiores do templo.





S. Frei Gil

Nasceu em Vouzela em finais do século XII e morreu em Santarém. Foi médico e com ele há um sem número de lendas e histórias à volta da sua vida. Há quem conte que Dom Gil Rodrigues de Valadares entregou a sua alma ao demónio na juventude, assinando um documento com o próprio sangue. Em Toledo (Espanha) Frei Gil, durante sete anos, segundo reza a lenda hagiográfica, frequentou uma espécie de Universidade Infernal, em cavernas, onde teria aprendido as ciências necromantes e diabólicas (Rui Lopo - Licenciado em Filosofia pela Faculdade de Letras de Lisboa)

Após a estadia em Toledo, seguir-se-ia o arrependimento, a entrada na Ordem Dominicana e a adopção de uma atitude existencial marcada pela humildade.
Depois da sua conversão passou a ter “poderes” de até ressuscitar os mortos.

“Frei Gil dedica-se a Deus e aos doentes do hospital, lavando-os, dando-lhes de comer, rezando por eles. E ia obrando muitos milagres: a uns livrou de morrer com espinhas cravadas na garganta, a outros de ossos entalados na glote, a outros de tumores na boca. A uns curava impondo as mãos, a outros rezando. E ainda fazia milagres por interposta pessoa, se muito lhe rezasse, ou tocasse o enfermo com um objecto seu. Um dos milagres bem conhecidos dele são a salvação de dois meninos caídos numa fonte de águas termais. Sabendo-se que um deles, além de morto havia horas, tinha ficado cozido na água a ferver”, assim conta Maria Estela Guedesna monografia “S. Frei Gil, um santo carbonário”.


Sabia que:

Os primeiros passos conhecidos que terão sido envidados pela hierarquia eclesiástica portuguesa para a canonização de Frei Gil datam de 1627, aquando da intervenção de Frei Agostinho da Cruz, enviado a Roma pelo Bispo de Viseu, D. Fr. João de Portugal. Por morte do bispo, o processo não terá prosseguido, pelo que a devoção se terá mantido restrita aos lugares onde a tradição o estabelecera. Já Clemente VIII (1592-1605) terá beneficiado a confraria do santo, na sua pretensa terra natal, Vouzela, mas o seu culto só terá sido definitivamente confirmado pelo Papa Bento XIV em 9 de Maio de 1748, para as dioceses de Lisboa e Viseu e, no geral, para o interior da Ordem dos Dominicanos. A sua festa era celebrada a 14 de Maio. Dia em que terá morrido, no dia em que se assinalava a festa da Ascensão.



S. Teotónio

São Teotónio foi o primeiro santo português a subir ao altar e teve um papel muito importante nos primórdios da nação. Esteve ao lado de D. Afonso Henriques contra a sua mãe. É o padroeiro da Diocese de Viseu, mas recusou dela ser bispo.



Nasceu em 1082, em Ganfei, concelho de Valença. Aos dez anos foi para Coimbra. Em 1098, veio para Viseu, onde deu continuidade aos estudos e foi ordenado sacerdote. Por volta de 1110 assumiu o cargo de Prior da Sé de Viseu, do qual abdicou para ir em peregrinação à Terra Santa. Morreu em 1162, tendo sido canonizado um ano após a sua morte.
São várias as virtudes que caracterizaram a vida São Teotónio. Desde a inteligência, ao espírito de obediência e humildade, é o serviço aos humildes e o auxílio ao próximo, em paralelo com uma existência dominada pela oração e rigor, que o caracterizava.
Contam os historiadores que cada função que desempenhava, era colocado imenso empenho. Era tão zeloso que não conversava ou até mesmo confessava nenhuma mulher sem que houvesse outra testemunha da confiança da mesma. Citando o hagiógrafo: «Amava todas as mulheres como se fossem suas irmãs, mas com tal cuidado como se fossem suas inimigas»

Mas o seu papel é também destacado por ter sido o conselheiro do rei D. Afonso Henriques. Aliás, antes de uma batalha importante, D. Afonso Henriques pedia-lhe sempre a sua opinião e a sua oração.



Sabia que:

As várias imagens do Santo são quase sempre representadas com uma mitra de Bispo a seus pés. Mas porquê? 
De acordo com os vários teólogos e estudiosos, é a representação do momento em que S. Teotónio recusou o convite que lhe foi feito para bispo de Viseu. Optou pela missão de abade. Fez duas peregrinações à Terra Santa. No regresso da segunda, fundou o mosteiro da Santa Cruz em Coimbra

Uma reportagem Viseu International