“Sport has the power to change the world” (Nelson Mandela (1))
Os verdadeiros valores do desporto têm vindo a perder o seu protagonismo devido à comercialização do mesmo. Com esta mudança, surgem ameaças que põem em causa os princípios que o desporto promove, tais como o fair play, o respeito e a tolerância. Estas ameaças estão relacionadas com as pressões comerciais, através do comércio de direitos desportivos e de imagem dos atletas, a exploração de desportistas jovens, o consumo de doping, o racismo, a violência, a corrupção e o branqueamento de capitais. Estas ameaças derivam de uma sociedade igualmente egoísta, discriminatória, e onde se verifica uma procura desmensurada pela vitória, independentemente das circunstâncias em que ocorra a derrota do outro. Pelo menos o desporto pode dar resposta ao problema que nele mesmo se instalou, através da possibilidade de restruturação dos princípios deste domínio mais competitivo, com o intuito de se atingir uma reorganização da sociedade.
O carácter educativo do desporto permite a criação e o fortalecimento das relações sociais, promovendo assim a inclusão social de jovens em risco.
A exclusão social é considerada pelas ciências sociais como um problema complexo, sendo ainda considerado extremamente difícil o fim do seu ciclo. Esta dificuldade leva os indivíduos, na maioria dos casos, a entrar numa espiral de comportamentos desviantes, como o abandono escolar, o consumo de álcool e de estupefacientes, a delinquência, entre outros.
Tal como a sociedade, também o desporto tem vindo a ser fustigado por uma profunda crise de valores éticos e morais. Hoje em dia, o desporto é visto pela maioria das pessoas como um espetáculo lucrativo, capaz de desenvolver as economias e um mecanismo de fomento do sentimento de pertença a um grupo, consoante os gostos e os ideais de cada um. Este carácter individualista presente no desporto e todos os problemas a ele associados, como a discriminação, o egoísmo, a intolerância, e a competitividade obsessiva, alastram-se para a esfera social motivando o surgimento de ruturas no tecido social. Estas ruturas estão associadas à problemática da exclusão social, que acompanha a sociedade desde os seus primórdios, mas que atualmente e muito por culpa dos problemas já referidos, se tem vindo a agravar, alastrando-se por todas as esferas da sociedade. E é na franja social mais baixa que este processo se reproduz com maior facilidade.
É através da valorização e da implementação de estratégias de educação que está a chave para o desenvolvimento saudável da aprendizagem dos valores inerentes à sociedade. O desporto pode ser considerado uma dessas estratégicas educativas, contribuindo para estimular o processo de aprendizagem, permitindo a abordagem de temas sensíveis de uma forma mais subtil e indireta o que motiva os jovens a interessarem-se mais por tais temas.
Pode parecer contraproducente, mas o desporto, apesar de ter todos estes problemas associados, constituí um campo de aprendizagem para os valores que ele mesmo, a par da sociedade, tem vindo a perder.
Este processo de inclusão inicia-se com a socialização e é tido como um processo mediante o qual os indivíduos aprendem os conhecimentos básicos, as atitudes, os valores e os comportamentos que lhes permitam adaptar-se à sociedade em que vivem. Neste sentido, os conhecimentos, as atitudes, os valores e os comportamentos podem
ser trabalhados através do desporto, de forma a que os indivíduos em situação de exclusão possam estar mais bem preparados para se reintegrarem na sociedade.
Podemos concluir que o futebol não é apenas um desporto popular de grandes multidões, mais sim uma grande estratégia no combate à exclusão social. É possível verificar a influência do futebol como fator de inclusão social, que contribui em retirar crianças carentes dos rumos equivocados que possivelmente possam vir a tomar até chegarem à idade adulta.
É através do desporto e do futebol em particular que se promove a socialização de forma simples e eficiente.
(1) Nelson Mandela foi o primeiro Presidente negro eleito na África do Sul. Ganhou o Prémio Nobel da Paz em 1993 após ter contribuído para o fim do Apartheid, para o fim da violência e do racismo naquele país, e para a reconciliação e saudável convivência entre a população branca e negra.
