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Felisberto Figueiredo
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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João Brás
Qual a ligação que têm com o mundo dos cogumelos?
Pertenço a um projeto, sou a fundadora, na verdade, do Amaninta Bunker. Um projeto que serve de divulgação e desmistificação do mundo dos cogumelos.
De onde surgiu o interesse ?
Foi uma reativação de uma atividade que em criança fazia com a minha avó. Íamos para as matas apanhar cogumelos no outono. Gostava muito de ir com ela. Mais tarde, surgiram umas saídas para ir recolher cogumelos, e isso desencadeou outra vez o bichinho pela descoberta deste mundo maravilhoso. Uma pessoa entra na floresta e vê inúmeros cogumelos, há muitos mais que aqueles dois ou três básicos que apanhava com a minha avó. Foi um deslumbramento. Desde então, já vão 20 anos.
O que a levou a procurar formação na área?
Eu sou enfermeira, mas, quando despertou o interesse por esta área, decidi iniciar formação. O conhecimento foi-se desenvolvendo cada vez mais e, à medida que sabia mais, o interesse também aumentava. Senti a falta de estudos em português sobre esta área e, por isso, também começámos por desenvolver o nosso próprio projeto. Pretendemos que se fale de cogumelos e se divulgue a importância que têm na nossa saúde e bem estar. Portugal é um país que consome poucos cogumelos, seja em quantidade ou diversidade. Só se fala desta área quando há notícias sobre possíveis intoxicações por cogumelos silvestres. Por isso, há muito trabalho a ser feito em Portugal para educar os portugueses para este mundo fantástico.
Quais os cogumelos mais dominantes na região de Viseu?
Os mais conhecidos na região de Viseu são o Tricholoma equestre, que é o conhecido míscaro amarelo. Mas há dezenas de espécies que muitas pessoas nem conhecem. E também é por isso que são importantes as ações de divulgação e identificação para potenciar o consumo de outras espécies comestíveis. O famoso míscaro até é protagonista de festas em sua honra (risos). Essa espécie frutifica no outono/inverno. Estamos em plena época de frutificação do míscaro amarelo, que aparece nas nossas florestas, especialmente em pinheiro.
Quais os fatores que justificam que este ano haja menos abundância?
Um dos principais fatores para haver escassez é a colheita inadequada e o desrespeito de boas práticas. Os cogumelos são o fruto de árvores que estão no subsolo, portanto, por baixo dos nossos pés. Se danificarmos o que está por baixo dos nossos pés, quando essa zona é muito perturbada pode comprometer as certificações futuras. Nos últimos anos, observamos fenómenos de vandalismos florestal, em que as pessoas vão de baldes enormes e remexem toda a floresta. Levantam a caruma e deixam o terreno sem capacidade para produzir novamente. Muitas vezes, também recolhem os cogumelos num estado muito juvenil, o que não os permite libertar os poros necessários para assegurar a continuidade da espécie. As alterações climáticas sem dúvida que também não ajudam.
Quais as condições para o bom desenvolvimento do míscaro?
A humidade é essencial. Eles não frutificam se não houver humidade. No caso específico do míscaro, precisam também de algum frio para frutificar, e ainda não veio assim frio intenso. Há cada vez menos humidade, verões prolongados e temperaturas extremas. Nos últimos anos, o valor comercial dos cogumelos aumentou, como tudo o resto. Apesar de ser um recurso que está disponível na natureza, é algo que dá trabalho. É preciso cuidado com a recolha, identificação e conservação. Não podem ser expostos ao calor, pois estragam facilmente.
Os incêndios afetaram a produção de cogumelos na região?
Sem dúvida. Perdemos muita mata com os incêndios. Se não há árvores, também não há cogumelos. Devemos ter atenção ao local onde se recolhem, porque os cogumelos são verdadeiras esponjas e absorvem tudo o que está no ambiente. Por exemplo, nos sítios onde ardeu, é preciso ter alguma atenção na recolha.
Como é feita a identificação de cogumelos comestíveis?
Podemos identificar as espécies comestíveis a olho nu. Não há truques, como as pessoas mais velhas acham. Aquela ideia de colocar um anel de prata no tacho isso é um mito. Também não tem nada a ver com a cor ou dimensão. É preciso analisar o cogumelo na sua totalidade, desde o chapéu até à base do pé. Cada cogumelo tem uma ficha técnica com todas as características descritas para cada espécie. Por isso, o nosso trabalho é importante, pois ao conhecerem bem cada espécie, é mais fácil identificar se são comestíveis ou não.
É possível produzir cogumelos em casa de forma controlada?
Sim, já existem várias empresas em Portugal que fornecem o material necessário. Também há formações nesse sentido. Há empresas que comercializam os substratos que, depois de tratados, permitem a reprodução do cogumelo em casa. Há várias espécies disponíveis. O kit já vem com tudo o que é necessário. É preciso ter um nível de humidade e temperatura que favoreça a frutificação. Esta é uma ótima solução para quem não tem tempo ou não vive num ambiente que com regularidade possa recolher cogumelos para consumo. Acho melhor do que comprar no supermercado, porque é uma produção que é controlada e acompanhada.
O míscaro tem alguma particularidade em relação à sua preparação ou consumo?
Há imensas receitas e formas de preparação, mas o míscaro está associado ao tradicional arroz de míscaros. É importante e necessário chamar à atenção que não deve ser consumido em excesso, pois está identificado como tóxico ou com algum nível de toxicidade. Uma prática que talvez tenha protegido as nossos antepassados é a de retirar a cutícula do cogumelo, ou seja, a pele separa-se muito bem do chapéu. Estes cogumelos são um superalimento. Não servem de tratamento, mas têm muitos benefícios para a saúde.