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As Obras Sociais de Viseu e a fundação espanhola Cuidados Dignos assinaram recentemente um protocolo de cooperação e estão agora a trabalhar na criação de um “movimento social” que visa mudar a cultura dos cuidados, intitulado “Cuidar Sem Amarras”.
As duas entidades organizaram a conferência “Cuidado Digno: Caminho Para a Longevidade Feliz”, que contou com a participação de vários especialistas nacionais e internacionais. As Obras Sociais destacam as dez ideias-chaves apresentadas no evento, entre elas o facto de ser “urgente e imperioso mudar a cultura de cuidados vigente”.
“Os trabalhadores de cuidados diretos recebem pouca ou nenhuma formação, os benefícios laborais estão desadequados, os salários são baixos e há uma elevada rotatividade. É fulcral tornar os cuidados visíveis, dar voz aos representantes de quem cuida e de quem recebe apoio e aumentar o valor social e económico dos cuidados. Os cuidados devem ser: compassivos, eficazes e seguros”, realçam.
A instituição também entende que é preciso “mudar o olhar, ver a pessoa, pessoalizar o cuidado, deixar de estar centrado no serviço e passar a estar centrado na pessoa”, bem como eliminar as contenções físicas e farmacológicas que são aplicadas aos seniores que vivem em lares.
“Não temos que convencer as famílias da importância da eliminação das contenções. Temos que explicar o nosso trabalho que deve respeitar os direitos humanos e a dignidade de cada pessoa cuidada”, salientam as Obras Sociais que, por isso, propõem substituir o conceito de cuidador pelo de “parceiro de cuidados”.
“É necessário estimular a presença dos familiares junto das pessoas institucionalizadas. Devemos caminhar para modelos que permitam a visita, por exemplo nas Estruturas Residenciais Para as Pessoas Idosas, em qualquer momento do dia e não em determinados momentos restritos e castradores do potencial de contacto”, acrescentam.
A instituição alerta ainda para a “enorme carência de formação dos médicos em geriatria” e para a necessidade de se impor “uma ética centrada no cuidar”.
O presidente das Obras Sociais, José Carreira, lembra estudos da OCDE que apontam que Portugal “é o terceiro país da União Europeia com mais população idosa, representando, em 2021, 23,4%” e que, em 2050, o valor pode aumentar “para um terço da população (33,7%)”.
“Estamos na presença de uma conquista fabulosa da humanidade que devemos celebrar, não deixando de considerar os desafios intergeracionais que advêm desta realidade demográfica, bem como a maior necessidade de cuidados. Importa analisar o decréscimo dos indicadores referentes à esperança de vida com saúde, tendo-se registado em 2012 os 63,9 anos e em 2021 os 58,3 anos”, realça.
As Obras Sociais também salientam a “necessidade crescente de serviços profissionalizados na prestação de cuidados, aos quais se torna difícil dar uma respostas em qualidade e em quantidade”, lembram que há uma “escassez” de cuidadores informais e defendem uma mudança no modelo de cuidados, promovendo o “valor social e económico” e garantindo os direitos dos utentes.
“Para dar resposta aos desafios, precisamos de articular as políticas públicas e alinhá-las com a Estratégia Europeia de Cuidados que incentiva os países membros da UE a investir mais em cuidados, criar novos empregos, e a melhorar a qualidade e acessibilidade dos cuidados de longa duração”, remata a nota da instituição.