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Quando uma peça de roupa se veste de igualdade e autoestima

 Quando uma peça de roupa se veste de igualdade e autoestima
12.11.22
fotografia: Jornal do Centro
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 Quando uma peça de roupa se veste de igualdade e autoestima
12.12.24
Fotografia: Jornal do Centro
 Quando uma peça de roupa se veste de igualdade e autoestima

Quando estava a tirar Gerontologia, Tânia Nogueira idealizou que um dia havia de adaptar roupas às condições físicas mais debilitadas dos idosos. A ideia passou à prática há poucos meses e hoje já ajuda seis pessoas. O objetivo é que Tânia Mar seja a ajuda à qual recorre quem atravessa uma fase difícil. “Passei por alguns lugares no estágio e vi as dificuldades dos idosos, quer estivessem acamados, quer tivessem perdido a mobilidade. Mais tarde, como trabalhei em ortopedia, verifiquei não só a dificuldade e a necessidade no idoso, mas também nos jovens, tetraplégicos, amputados, uma série de pessoas que poderia incorporar”, conta.

 Quando uma peça de roupa se veste de igualdade e autoestima
É na casa de Tânia, em Fragosela, Viseu, que com a sogra, Amélia Marques, as roupas são pensadas, desenhadas e fabricadas. O objetivo aqui, dizem, é fazer diferente. “Eu sou contra a ideia de que qualquer coisa serve. Acho que nós, independentemente da idade, deveremos ter sempre conforto ao longo da nossa vida. Isso faz parte da dignidade do ser humano”, sustenta. E da ideia à prática, a roupa pode demorar dois dias a ser feita. Tudo porque é a própria Amélia, costureira toda a vida, quem o reconhece: qualquer peça que daqui saia, tem de ir perfeita. “Gosto de ter os acabamentos perfeitos e não fico contente se não for assim. Até acho que sou demorada demais, mas para mim, a fazer tem de ser perfeito. Fazemos tudo para que as pessoas não se magoem, trabalhamos a peça por dentro e por fora. É uma responsabilidade. Nunca tinha feito estas roupas e esta perfeição também veio com o tempo”, justifica. Além de práticas e de seguras para cuidador e quem as vai vestir, as peças de roupa de Tânia querem transmitir alegria. “Os padrões são muito vivos: com cores, xadrez, flores. É o que precisamos hoje em dia: alegria. Não só para nós, no geral, mas muito mais para as pessoas que se veem em situações, já por si delicadas”, descreve. Enquanto acerta novos padrões com a sogra, Tânia explica que as roupas que saem da sua casa adaptam-se a várias situações. “Nos acamados temos mais cuidados com o tecido, independentemente se for pijama ou camisa de dormir. A roupa é construída de forma que não cause grande esforço ao cuidador. É feito à medida e personalizado. Há pessoas que nos dizem, por exemplo, “pode colocar o fecho no ombro?” e nós fazemos. Nós vamos ao encontro da pessoa, tiramos medidas”, assinala. “A roupa é sinónimo de igualdade. O que fui verificando ao longo dos anos é que as pessoas têm um determinado padrão de escolha, digamos. Os idosos acabam por ter sempre as mesmas cores e tecidos, os jovens, infelizmente, se tiverem dificuldades, também não têm uma calça de ganga adaptada, por exemplo. Acabam por usar fatos de treino, roupa mais enfadonha, digamos”, explica. Até porque, lembra, as situações de menor mobilidade física podem afetar qualquer pessoa em qualquer idade. “Tivemos o caso de alguém que ficou tetraplégico devido a um mergulho. Alguém bastante ativo, que se viu numa cadeira de rodas. Quando lhe colocámos uma calça de sarja e uma camisa, que foi vestida em dois minutos… A alegria dele foi… extraordinária e magnífica. Estamos a dar um bocadinho de vida, esperança e fé a estas pessoas. Podem sair à rua e dizer ‘também estou aqui, muito bem aperaltado, bonito e pronto para conquistar o mundo independentemente da minha situação'”, afirma, visivelmente emocionada. O jovem a que se refere Tânia, é António Silva. Hoje com 44 anos vive em Vilela, na freguesia de São João de Lourosa, em Viseu. Agarrado a uma cadeira de rodas, mas com força para enfrentar o presente e o futuro, como o próprio o diz, revela que a roupa de Tânia o tem ajudado. “A pessoa veste-se de forma muito fácil e ágil, permite ser independente e facilita o dia a dia”, confirma. A sonda que tem de usar é um entrave, mas como a roupa é prática, deixa de ser um problema. “Esta roupa é salvadora. Mesmo eu, tetraplégico, é muito fácil fazer a abertura com o fecho e também vestir a camisa”, assinala. O acidente aconteceu há quatro anos e meio. Há uns meses, desde janeiro, estas roupas melhoraram o dia a dia. “Limitava-me a fatos de treino, que era o que havia no mercado. Agora não, visto-me como era antes. A roupa ajuda a enfrentar a vida de uma outra forma, até mesmo psicológica e socialmente, encaramos a vida de uma outra forma. Sentimo-nos bem”, conclui. António é a prova de que a idade é um fator pouco a ter em conta quando pensamos em pessoas com mobilidade reduzida. Também Rosa Louro precisou e ainda precisa de usar roupas práticas. Foi operada recentemente à coluna e mover-se foi algo que fez e ainda faz com alguma limitação. “Tinha muita dificuldade em vestir-me. Tive conhecimento das roupas da Tânia e a partir daí comecei a usar. Dá mais jeito para me vestir e despir. Estou mais liberta. As roupas ajudam: só têm os fechos. São fáceis de vestir e de despir”, confidencia. Daqui em diante, conta Tânia Nogueira, o foco está em continuar a missão de ser a resposta nas alturas mais difíceis da vida de alguém. “Quero dar-lhes jovialidade, cor, ânimo”, confessa. Veja a reportagem aqu.

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