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“Terão sido amigos a fazer este tipo de coisas, se são amigos estou tranquilo”, diz ex-secretário de Estado

 "Terão sido amigos a fazer este tipo de coisas, se são amigos estou tranquilo", diz ex-secretário de Estado
29.11.23
fotografia: Jornal do Centro
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 "Terão sido amigos a fazer este tipo de coisas, se são amigos estou tranquilo", diz ex-secretário de Estado
04.10.24
Fotografia: Jornal do Centro
 "Terão sido amigos a fazer este tipo de coisas, se são amigos estou tranquilo", diz ex-secretário de Estado

O ex-secretário de Estado da Juventude e do Desporto garantiu esta quarta-feira (29 de novembro) estar de consciência tranquila e disponível para colaborar com as autoridades no âmbito da operação “Arrangements”, uma investigação onde em causa poderão estar crimes de participação económica em negócio, abuso de poderes por titular de cargo político e usurpação de funções.

na sua habitação em Viseu e em Lisboa e durante a tarde Operação “Arrangements”: Ex-secretário de Estado já se apresentou na Polícia Judiciária, mas não foi constituído arguido.

Um dos processos em que o ex-governante é visado diz respeito à celebração de um contrato de natureza pública, através de ajuste direto, com uma pessoa sem habilitação legal, no âmbito do Projeto PRID – Programa de Reabilitação de Infraestruturas Desportivas, de acordo com o descrito no comunicado da Polícia Judiciária. A suspeita recai em João Paulo Rebelo e Luís Junqueiro. O contrato foi feito com o Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ), organismo tutelado pela secretaria de Estado da Juventude e do Desporto.

Luís Junqueiro terá sido contratado para prestar serviços para auxiliar o IPDJ na análise de candidaturas, entre 2019 e 2020. Segundo o que está escrito na rede social LinkedIn, Luís Junqueiro iniciou a licenciatura em Engenharia Civil em 2015 e terminou o mestrado em 2019, no Instituto Superior Técnico,

Ao que foi possível apurar, durante o período em que prestou serviços ao IPDJ, Luís Junqueiro não terá realizado nem assinado projetos. Ainda no currículo do Linkedin, é descrito que realizou um estágio na Mota-Engil, entre 2017 e 2018, e que, atualmente, se encontra a trabalhar na Irlanda, como engenheiro civil.

O Jornal do Centro apurou ainda que os laços familiares de Luís Junqueiro estavam descritos nos mandados de busca que levaram os inspetores da PJ à casa deste em Viseu. Nos documentos constava, por exemplo, que Luís Junqueiro é filho de José Junqueiro, militante do PS, ex-presidente da Federação do PS, apoiante da candidatura de João Paulo Rebelo em 2020 e deputado na Assembleia da República nas VII, VIII, IX, X e XII legislaturas.

Computador e telefone de ex-secretário de Estado nas mãos da PJ
O alvo desta operação é João Paulo Rebelo, que durante as buscas realizadas pela PJ estava em Madrid, em representação da Assembleia da República. Nas declarações feitas esta quarta-feira aos jornalistas, o também deputado na Assembleia da República, eleito pelo círculo de Viseu do PS, disse que, tal como há três anos, vai colaborar com a justiça no desenrolar das investigações.

João Paulo Rebelo esclareceu ainda que não lhe foram dados mais detalhes sobre a investigação e que deixou o telemóvel e o computador nas instalações da PJ para serem copiados os dados.

“Fui contactado pela Polícia Judiciária, por um inspetor, que me telefonou e disse que já tinha conhecimento que eu estava em Madrid e que o objetivo era aceder ao meu telemóvel e ao computador no âmbito da investigação. Eu disse que sim e que assim que chegasse a Lisboa estaria disponível, como estive há três anos e meio, como estive ao longo do tempo e como estarei no futuro a prestar todos os esclarecimentos necessários”, disse em declarações aos jornalistas na Assembleia da República.

O ex-secretário de Estado espera agora que “o mais depressa possível cheguem conclusões”. “Não estou acusado de coisa nenhuma. Mais, não sou sequer arguido, há uma investigação em curso e o que eu desejo, como vocês todos desejariam se estivessem a passar pelo mesmo, é que o mais depressa possível cheguem conclusões”, frisou.

João Paulo Rebelo rejeita favorecimentos
Outro dos processos que envolve o ex-secretário de Estado da Juventude e do Desporto diz respeito a análises de testes Covid, caso que já tinha sido noticiado em 2019. Segundo João Paulo Rebelo, já na altura deu “explicações mais do que suficientes para o sucedido”.

Tudo começou com uma denúncia que dava conta da contratação do laboratório ALS, com sede em Tondela, para a realização de testes Covid na região Centro, quando João Paulo Rebelo era coordenador regional no combate à pandemia.

O ex-governante voltou a recusar qualquer intenção de favorecimento e afirmou que tudo não passa de “raciocínios muito delirantes”.

“Recuso, como recusei há três anos e meio e tive até oportunidade de o dizer na altura. Só raciocínios muito delirantes é que o podem achar e numa reunião em que estou acompanhado de entidades que ajudavam no combate à Covid, com 14 pessoas numa videoconferência. Parece-me um bocadinho inverosímil”, afirmou.

João Paulo Rebelo disse ainda que, na altura, apenas sinalizou a existência dessa possibilidade. “Vivíamos em estado de emergência, uma emergência sanitária, todos éramos poucos para ajudar a ultrapassar os problemas. Fiz diversas reuniões, com diversos organismos, entidades, câmaras municipais e há uma específica, que acontece com a Comunidade Intermunicipal Viseu Dão Lafões, circulo pela qual sou eleito e onde tenho a minha residência”, começa por contar.

“Havia várias empresas e laboratórios a fazer análises e havia o conhecimento de uma empresa que já estava, antes mesmo de eu iniciar as funções de coordenação, a fazer 100 testes diários à Covid ao Hospital de Viseu. Era uma empresa privada, que não se dedicava a este tipo de análises, mas que tinha equipamentos e recursos para o fazer. Aliás, na altura foi bastante noticiada a generosidade dessa empresa. Sinalizei isso junto dos senhores presidentes de câmara, 14 presidentes do PS e do PSP. Não tive mais envolvimento no processo”, reforçou.

Buscas domiciliárias e não domiciliárias em Viseu e Lisboa
Ao todo, no âmbito da operação foram realizadas nove buscas domiciliárias e não domiciliárias. Além das casas do ex-secretário de Estado da Juventude, de Luís Junqueiro e da ALS, os inspetores estiveram no Centro Hospitalar Tondela Viseu, nas instalações de Viseu do Instituto Português do Desporto e da Juventude, na Cruz Vermelha Portuguesa e no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

Entretanto, a empresa ALS já confirmou a presença da PJ nas inalações de Tondela. “Face aos pedidos de esclarecimento recebidos, a ALS vem informar que recebeu a visita de uma equipa da Polícia Judiciária nas suas instalações de Tondela relacionada com a testagem Covid-19 no ano de 2020. Os colaboradores da ALS presentes prestaram todos os esclarecimentos solicitados”, comunicou a administração da empresa.

A investigação, que está delegada na PJ, foi lançada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP). Na Operação “Arrangements” participaram 60 Investigadores Criminais e Especialistas de Polícia Científica da Polícia Judiciária, 5 Magistrados do Ministério Público, 2 Juízes de Instrução Criminal, 5 Peritos do Núcleo de Assessoria Técnica (NAT) da PGR e 2 Representantes da Ordem dos Médicos.

“A Polícia Judiciária, no presente inquérito dirigido pelo DCIAP, prosseguirá a investigação com a realização subsequente da análise à prova agora recolhida, de natureza documental e digital, visando o apuramento integral de todas as condutas criminosas, o seu cabal alcance e, bem assim, a sua célere conclusão”, referiu em comunicado.

João Paulo Rebelo e a candidatura de Pedro Nuno Santos
Questionado se vai manter-se na candidatura de Pedro Nuno Santos à liderança do PS, e de quem é apoiante e faz parte da direção de campanha, João Paulo Rebelo não desenvolveu muito.

“É com alguma tristeza que digo isto, há data era candidato a uma função do PS, estava candidato à Federação Distrital do PS, agora não sou candidato a nada. Mas o senhor investigador disse que terão sido amigos a fazer este tipo de coisas, se são amigos estou tranquilo porque não virá nada de mal”, disse.

O ex-governante afirmou ainda que continua “otimista” e a acreditar numa sociedade e num país melhor.

“Já sei que os nossos adversários ficam sempre satisfeitos em verem-nos nestas circunstâncias. Não deviam, porque qualquer dia é com outro. Continuo otimista, um progressista, a acreditar que podemos ter uma sociedade melhor, um país melhor, um mundo melhor. Farei a minha parte”, acrescentou.

 "Terão sido amigos a fazer este tipo de coisas, se são amigos estou tranquilo", diz ex-secretário de Estado

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