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Jorge Marques
A Turquia arde. A Grécia arde. A Argélia arde. A Rússia arde. A Califórnia arde.
Nas filmagens que nos chegam, vemos frequentemente as populações locais a reclamarem dos seus governos e da falta de meios, como se estas ocorrências fossem um problema de política nacional de proteção civil.
Por outro lado, vemos que os media portugueses globalizaram o assunto e associaram estes últimos incêndios ao aquecimento global, coisa que não fizeram com os nossos incêndios… Pode ter sido uma aprendizagem nova, ou resultado do relatório da ONU, ou apenas um defeito de visão…
Penso que se trata aqui de um problema de perspetiva que aparentemente perpetuará o aumento do aquecimento global… Acredito que há aqui um defeito de visão que nos tem impedido de atuar adequadamente sobre a necessária ação política. Isto obriga-me a falar de um assunto que já aqui trouxe há quase quatro anos, mas que agora pode ter outro esclarecimento.
Em 15 de outubro de 2017, numa só noite, foram consumidos entre 200 000 a 300 000 hectares de floresta e habitações, consoante os estudos consultados. Morreram dezenas de pessoas.
Vamos fazer as contas por baixo e usar o número de 213 630 hectares do relatório da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Tal valor corresponde ao raio de destruição que seria causado por 170 bombas atómicas de Hiroshima (little boy). 170 bombas de Hiroshima numa só noite no centro de Portugal. Não foi no pico do calor de um dia de verão: foi numa noite de outono… De noite; no outono; 170 bombas atómicas…
O discurso mediático da altura conseguiu um dos maiores feitos da história da comunicação: resolver uma hecatombe natural com uma demissão política. Após a demissão da ministra, o país seguiu a sua vida. Conseguiram transformar um fenómeno climático inacreditável e único num evento político. Conseguiram impedir o país de agir, mesmo perante a evidência de que nada será como dantes…
Caíram 170 bombas atómicas em Portugal numa noite e demitimos a ministra. Não falo aqui de um incêndio que durou 3 semanas, mas de uma ocorrência de uma só noite. É estúpido acreditar que, perante a explosão de 170 bombas atómicas se possa culpar os bombeiros, ou os meios, ou alguém sentado em Lisboa. Trata-se de algo muito maior que exige uma nova atenção, uma nova perspetiva.
Um jornalista de uma das principais cadeias televisivas nacionais, quando confrontado com esta minha opinião, não respondeu ao meu repto sobre as razões deste ângulo jornalístico e afirmou publicamente que eu devia estar a assistir aos incêndios a partir dos bares da cidade… Não me referirei sequer à incapacidade de insultar em vez de argumentar… Senhores jornalistas: 170 bombas de Hiroshima; numa noite. Não defendam o indefensável. Assumase o falhanço coletivo da opção pelo ângulo sensacionalista. Fazer cair um ministro é sempre mais imediato do que obrigar a mudanças sociais efetivas… Não compreendo em que se possam sustentar para considerar que foi feito um bom trabalho jornalístico quando a narrativa que sobra é a de mais um factóide político. O vosso trabalho ficou aquém do desejado, a partir do instante em que decidiram que este era um assunto politizável. Fomos obrigados a fugir de casa, perdemos habitações e morreram pessoas e só se ouvia falar da ministra… Senhores jornalistas: a vossa voz tem responsabilidade e não há perdão para todas as omissões narrativas que nos afastam da verdade. O clima já se alterou e temos de nos unir. Não se resolve uma tempestade de fogo com uma demissão política: a natureza não tem cor política nem descansa aos fins de semana com horários de expediente.
Não assumo aqui uma crítica ligeira à ação jornalística. Muito pelo contrário. Assumo o seu poder efetivo e apelo à continuada mudança de paradigma dos profissionais de comunicação que trabalham pela construção da verdade e por um mundo mais justo. Acredito que os espaços de opinião e comentário são lugar de reflexão e de análise essenciais para a melhoria da comunicação.
Se o mundo arde, o aquecimento global que ataca os outros é uma ameaça distante, mas somos incapazes de ver o fim do mundo no nosso quintal. Este fenómeno de distanciamento é compreensível, uma vez que tentamos sempre medir o mundo à luz das nossas competências. Ainda assim, é esta distância que temos de expurgar das linhas noticiosas. Os incêndios dos outros países são os incêndios do nosso. Já não há lugar para fronteiras e redutos. As doenças da China são as doenças de Portugal…
Acredito que nos temos em demasiada boa conta, como se as alterações climáticas e as tempestades pudessem ser controladas… Pelo contrário, estes fenómenos terão tendência para aumentar, pois, a cada ocorrência responsabilizamos os governos pela falta de bombeiros, ocultando sempre as verdadeiras razões por trás da catástrofe. Obviamente que precisamos de mais bombeiros, médicos, enfermeiros e professores… No entanto, isso não pode fazer esquecer que devemos responsabilizar os governos pela falta de legislação que proíba as emissões, pela falta de legislação que reduza o consumo, pelas políticas economicistas que apelam ao crescimento desmesurado das economias nacionais… Se crescemos economicamente, obviamente aumentaremos a produção e o consumo, responsáveis pelas alterações climáticas.
Os media continuam a mesma toada discursiva imediatista, perdendo a visão mais alargada. Quando o incêndio é longe, é um problema global; quando o incêndio é cá, é um problema do governo… Deste modo, nunca teremos um país que decida iniciar a mudança. Temos de alterar a perspetiva jornalística e garantir verdadeiras mudanças. Acredito que a solução passa por travar a lógica de consumo, reduzindo o impacto humano nos ecossistemas. Acredito que podemos deixar de ser escravos consumidores reduzidos ao lugar de vírus que apenas procriam, destruindo o hospedeiro. A finitude é a nossa única certeza. Não precisamos de correr para ela num desenfrear suicida.
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