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Lamego, o tempo de o ser é agora

 Lamego, o tempo de o ser é agora - Jornal do Centro
10.07.25
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 Lamego, o tempo de o ser é agora - Jornal do Centro

por
Sara Rodrigues

Ser de Lamego é mais do que nascer ou viver aqui. É sentir que se pertence a um lugar que tem alma, história e legado. É subir as escadarias dos Remédios com um misto de orgulho e reverência, é reconhecer cada pedra do castelo como parte da nossa identidade, é ver no outro, mesmo que desconhecido, um pedaço de nós. Em Lamego, há um sentimento de comunidade que resiste ao tempo. Um sentimento que une gerações, que atravessa aldeias e bairros, e que se manifesta em pequenos gestos: na entreajuda, na memória que partilhamos, na forma como nos apresentamos ao mundo. É esse sentimento que nos deve mobilizar profundamente, porque Lamego tem tudo para ser mais, e o tempo de o ser é agora.

Estamos no coração do Douro, num território com posição estratégica, acessível, com paisagens únicas e uma identidade cultural e histórica riquíssima. No entanto, continuamos a ver jovens partir, oportunidades a escaparem-nos, empresas a escolherem outros destinos, freguesias que se sentem cada vez mais afastadas, não só e apenas em quilómetros, mas principalmente em oportunidades.

Isto é indicador que algo falta, que algo não está a ser feito. Falta-nos ambição política, falta-nos visão económica, falta-nos coragem para fazer. Não basta sabermos que Lamego tem potencial é preciso agir para o concretizar. A nossa localização devia ser argumento decisivo para atrair empresas e novas indústrias, mas por si só isso não chega. Precisamos de zonas industriais bem preparadas, de incentivos ao investimento, de uma Câmara Municipal capaz de dialogar com os empresários com abertura, compromisso e acima de tudo visão. Só assim conseguimos criar emprego, fixar população e dinamizar a economia local.

O turismo, apesar do crescimento tímido, está longe do que podemos verdadeiramente oferecer. Lamego não pode viver apenas do seu nome. Precisamos de qualificar a nossa oferta e integrar o turismo num projeto mais amplo de valorização do território, onde o património, a gastronomia, o vinho, os eventos e a cultura se cruzem numa estratégia sustentável, pensada com quem cá vive e para quem nos visita. E isso passa por reconhecer e integrar o que é verdadeiramente identitário no nosso concelho, sendo exemplo: os caretos e máscaras de Lazarim, a cereja da Penajóia, o espumante, o vinho cheirante de Lamego, o artesanato, as lendas, as tradições populares. Passa por saber contar melhor a nossa história, e também os nossos mitos, em eventos como a Feira Medieval, que, ano após ano, nos devolve a memória e nos remete a outros tempos. Mas vai muito além disso: passa por apoiar quem faz cultura todos os dias. As associações que animam as freguesias, os grupos que mantêm vivas as danças e os cantares, os cidadãos que, de forma generosa e apaixonada, se juntam para organizar festivais, exposições, encontros. São eles que provam, todos os dias, que Lamego tem talento para ir mais longe basta que estejamos dispostos a ousar, juntos.

Mas nenhum plano terá sucesso se deixarmos as nossas freguesias para trás. Há zonas do concelho que continuam praticamente isoladas. Falta transporte público digno, regular, que permita às pessoas deslocarem-se à cidade com facilidade, seja para trabalhar, estudar, ir ao médico ou simplesmente participar na vida comunitária. A mobilidade não pode ser um privilégio dos que têm carro ou recursos, tem de ser prioridade, pois é condição básica para a coesão territorial, para a justiça social e para o futuro do concelho.

Quanto ao território físico, falo com propriedade: sei bem como o espaço que habitamos influencia a nossa vida coletiva. Lamego tem um centro histórico belíssimo, mas cada vez mais fragilizado. Há edifícios degradados, ruas descaracterizadas, intervenções que ignoram a memória do lugar e projetos que esquecem o espaço público como lugar de encontro. Precisamos de um urbanismo humanista, com critérios claros, com desenho, com respeito profundo pela nossa identidade. Um urbanismo que reabilite com responsabilidade, que valorize o que é único, que recupere opatrimónio e o integre na vida contemporânea, pensando sempre a cidade como um lugar para as pessoas. Não podemos continuar a improvisar nem a intervir de forma avulsa, é urgente um novo Plano Diretor Municipal, assente num conjunto de premissas: que ligue o centro às freguesias, que contenha o crescimento desordenado, que promova habitação acessível, que valorize o espaço público e o património edificado como bens coletivos.

Mas se futuro é o tema que aqui levanto, é impossível não falar de juventude. O nosso maior desafio é demográfico: perdemos população, perdemos jovens a cada ano, perdemos vitalidade. Mas isso não tem de ser o nosso fado. Precisamos de criar condições para que os jovens queiram ficar e sintam vontade de voltar. Onde possam imaginar o seu futuro sem medo de serem forçados a partir.

Para isso, precisamos de emprego digno, de habitação acessível, de espaços de encontro, cultura e desporto, de transportes que aproximem as freguesias e liguem o concelho ao país e ao mundo.

Precisamos de programas que apoiem quem quer criar e investir, de políticas que tragam vida às nossas aldeias e dinamismo às nossas ruas. Quando os jovens sentem que têm futuro aqui, toda a comunidade ganha: ganham as famílias que os veem crescer, ganham os amigos que não se perdem, ganha o comércio, ganha a cultura, ganha o concelho. No fundo ganhamos todos nós, que queremos um concelho vivo e capaz de cuidar de quem cá está e de quem virá. O tempo urge. Este é o momento de construir um lugar onde todos possam ficar, viver e ser felizes.

Lamego será sempre aquilo que formos capazes de construir juntos. Está nas nossas mãos romper com a resignação e abrir caminho a um novo tempo. Fazer do concelho de Lamego um lugar onde se escolhe viver e não apenas onde se nasce por acaso.

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