Paloma Padilha, de 17 anos, deixou o Brasil, há dois anos e oito meses.
“A minha família já tinha planos de sair do Brasil desde 2012”, conta. Chegou a Portugal em 2018, com os pais, “pela oportunidade de expandir a empresa”.
É estudante e está no último ano de um curso profissional de Comunicação. “Também trabalho como modelo e na organização e produção de eventos musicais”. No Brasil também era estudante.
Sobre a mudança, que “no geral, foi tranquila”, a jovem natural de Curitiba, no Paraná, conta que a família já está habituada à distância e à saudade, “que é o mais difícil quando se deixa a terra Natal”.
“Já morávamos no Rio de Janeiro quando decidimos vir para Portugal”, diz.
“O processo de aquisição de residência foi muito longo e cansativo, por exemplo, a nossa marcação no Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) demorou um ano e meio e a aquisição da residência dois anos devido a burocracia dentro do SEF”, lembra Paloma.
Também o choque cultural “foi grande”. “A língua, por exemplo, é muito diferente. Nós não falamos mal, falamos outro dialeto do português. Uma coisa que sempre me chateou foi ouvir dizer que nós, brasileiros, falamos “brasileiro”. Nós falamos português. A língua oficial do Brasil é o português”, ri.
Paloma diz que foi “muito bem-recebida e acolhida” pela maioria dos portugueses, assim como pela comunidade brasileira em Portugal”, ao contrário de muitos brasileiros que conhece e que diz já terem passado por situações de preconceito e xenofobia.
“Por ser mulher acho que o que mais senti e sofri foi nesse sentido, o conceito de “mulher brasileira” que Portugal e o mundo têm é muito errado”, lamenta.Sobre o que mais gosta e menos gosta em Viseu e em Portugal, a jovem de 17 anos diz “amar o cenário da cultura portuguesa, como a música, a dança, cinema, as artes em geral, as paisagens e o vasto património histórico que Portugal possui”.
“A qualidade de vida, principalmente, em Viseu é maravilhosa, porém tudo tem os seus aspetos positivos e negativos. O país, em geral, é muito atrasado em diversos aspetos, como por exemplo, a maioria do povo português continua com ideias completamente retrógradas em relação a coisas que no Brasil e em vários lugares mundo já são completamente normais, tanto no aspeto da tecnologia, como no sentido social”, diz.
Voltar para o Brasil não faz parte dos planos. Mas viver “para sempre” em Portugal também não.
“Tanto o Brasil como Portugal, vão ter sempre um lugar especial no meu coração e na minha história, mas quero conhecer o mundo”, revela.
Sobre os últimos tempos de pandemia, que foram “complicados e difíceis”, Paloma diz que “sem a rotina que estava habituada, a ansiedade e falta de vontade nunca estiveram tão fortes”. “Com o ensino à distância as coisas só pioraram, mesmo tendo a autonomia e o privilégio de ter as ferramentas para estudar sozinha, o online nunca foi a mesma coisa. Tenho a perspetiva que aos poucos a vida vai voltar ao normal, sempre com os devidos cuidados, mas não podemos viver para sempre assim”, diz.
Já a família foi muito afetada com a pandemia. “A nossa empresa é da área dos eventos socioculturais. Nunca ponderamos voltar para o Brasil, mas se a situação não melhorar e o cenário da cultura continuar parado, há a possibilidade de deixarmos Portugal”, conclui.