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Maria da Graça Pinto: a história de um percurso resistente

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 Maria da Graça Pinto: a história de um percurso resistente - Jornal do Centro
14.08.21
fotografia: Jornal do Centro
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 Maria da Graça Pinto: a história de um percurso resistente - Jornal do Centro
14.08.21
Fotografia: Jornal do Centro
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 Maria da Graça Pinto: a história de um percurso resistente - Jornal do Centro

Bem vinda ao Espelho Meu, Magaça. Porquê este nome?
É o diminutivo de Maria da Graça. A minha mãe contava que, quando comecei a falar, não conseguia dizer o meu nome e só saía “Magaça”.

Estamos diante de um dos símbolos de resistência. A casa de Aristides. Diz-lhe muito a figura do antigo cônsul, calculo…
Sim, foi uma figura de dimensão maior. Quer pela coragem, quer pelo desprendimento de poder. A atitude, o facto de ter contrariado as decisões do Governo no sentido de, enfim, não criar problemas com os alemães… Apesar disso ele, sendo cônsul e pondo em causa a sua carreira como viria a acontecer, não hesitou em salvar dezenas de milhares de vidas, tirando-as das garras do nazismo.

O percurso da Magaça tem também muito de resistência. Mas já lá vamos. Nasce em Moçambique…
O meu pai era militar de carreira e estava lá colocado. Nasci mais precisamente em Vila de Manica.

Que memórias há de Moçambique?
Poucas, porque aos dois anos vim para Portugal. Mas regressei lá já com 16 anos. Fi-lo porque o meu pai foi novamente lá colocado e a família acompanhou-o. Estive lá mais um ano.

Sendo militar, o seu pai passava por vários sítios. Logo, a Magaça estudou em vários lugares…
Sim, era praticamente uma escola para cada ano. Andávamos sempre com a casa às costas.

E esse desprendimento, esse ter de largar as coisas passado poucos meses, trouxe-lhe o quê?
Olhando para trás vejo isso como uma mais valia. Deu-me uma visão de diversidade do mundo, das pessoas, das culturas e do facto basilar de que somos todos iguais. Somos gente, somos pessoas, independentemente do sítio onde vivemos somos todos iguais por dentro. E isso ajudou a relacionar-me com facilidade com as pessoas.

E de as largar passado pouco tempo…
Era a parte menos agradável. Mas julgo que o balanço foi positivo…

Que valores os seus pais lhe passaram?
Tanto um como outro eram pessoas de grande coragem e integridade. O meu pai teve vários problemas no Exército por causa das posições políticas que assumiu: esteve na campanha de Humberto Delgado e foi penalizado na sua carreira por causa disso. A minha mãe também teve problemas por ser ativista antifascista e por ser uma mulher de cultura. Acabou por ter problemas, nomeadamente com a PIDE.

O que estamos a fazer aqui seria impossível antes de Abril…
Completamente. Uma conversa aberta sem o lápis da censura…

Qual foi a primeira manifestação em que participou?
Já era adolescente, tinha 18 anos e fui contra a Guerra do Vietname. Foi convocada por malta estudante. Fui toda aperaltada. Avisaram que poderia haver carga policial e então levava um casaco para aparar bastonadas. Pensei que fosse útil. E levei também um jornal embebido em cola para me defender se for preciso. A palavra de ordem era ninguém fugir. E eu estava nas filas da frente. Consegui escapar à polícia. Empoleirei-me com uma amiga numa casa até os polícias passarem. Foi o primeiro contacto que tive com a repressão.

E há um dia em que é presa…
Sim, a primeira vez foi uma passagem breve. Estive dois dias. Fui presa porque fui acusada de ter entregue uns panfletos a convocar manifestação do 1º de Maio. Ao fim de vários interrogatórios, um amigo confessou quem lhe tinha dado os panfletos e acabei presa. Fui depois julgada e como pena tive a perda de direitos políticos. O que é irónico porque, nesse tempo, direitos políticos não existiam.

Mas houve uma outra detenção que durou mais tempo…
Tinha 20 anos. Foi em 1971. Estava a estudar Direito e o meu nome foi dado depois de um interrogatório, com tortura de sono incluída, a um outro amigo. Uns conseguiram saltar a fronteira e fugir. E fui presa a 24 de março. Nunca se esquece esse dia. É difícil esquecer um dia desses. O meu pai ainda tentou opor-se. A ideia que se tinha era de tentar que toda a gente se apercebesse que haveria ali uma prisão política. Tentaram arrombar a porta… Foi um festival imenso e cumpriram o objetivo: toda a gente ficou a saber que a Magaça tinha sido presa.

Esteve quanto tempo presa?
Nove meses. Em Caxias. A tortura do sono foi a mais complicada. O objetivo era que denunciasse colegas. Mas eu consegui não o fazer.

Tem ideia de quantos dias esteve sem dormir?
Sem fechar os olhos, estive quatro dias e quatro noites… Havia um pequeno descanso e retomava durante mais não sei quantos dias e quantas noites. Sentávamo-nos numa cadeira, às vezes ficávamos de pé, castigavam-nos assim. Havia uma luz forte. Os agentes revezavam-se de quatro em quatro horas para estarem sempre fresquinhos. Os interrogatórios eram feitos aos gritos e cheios de ameaças. Entretanto a minha saúde estava um pouco fragilizada, estive internada durante um mês.

Depois de tantas lutas que já travou, quais é que ainda existem aos 70 anos?
Todas. Aquelas com que eu me identificar, enquanto tiver energia e for útil. Não quero ser aquela velhota que não quer deixar o palco… É preciso plantar o futuro, vivendo o presente.

Que sonhos há?
Contribuir para que isto não volte para trás. Há indícios no plano social, económico e político em Portugal, na Europa e no Mundo a tentar cavalgar o descontentamento, por vezes legítimo, das pessoas. Nós batíamo-nos pelos amanhãs que cantam e o presente não canta muito. Em muitos aspetos defraudou expectativas das pessoas. A melhor maneira de defender Abril é lutar para que essas expectativas continuem a ter razão de ser.

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