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A ciência por detrás da ficção

 A ciência por detrás da ficção
04.02.23
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 A ciência por detrás da ficção

Os filmes e séries mais assustadores são frequentemente aqueles cuja história é baseada em fatos verídicos e na realidade – desde assassinos em série psicopatas a fenómenos sobrenaturais inexplicáveis ou indivíduos alegadamente possuídos por demónios. Os apocalipses zombies normalmente não constam desta lista, por razões óbvias. Contudo, a nova série da HBO e sensação do momento intitulada The Last of Us, vem mostrar que talvez as histórias de zombies possam ter uma pontinha de verdade.

A premissa da série, que é baseada no jogo de vídeo para a consola Playstation com o mesmo nome, é a típica história de terror pós-apocalíptico: os humanos lutam para sobreviver depois de um fungo infecioso transformar pessoas comuns em zombies. Na série, Joel e Ellie atravessam cidades dos Estados Unidos da América completamente tomadas por zombies, lutando pela sua sobrevivência, enquanto o fungo controla as mentes dos zombies e os obriga a infetar as pessoas saudáveis.

A inspiração para a série, contudo, advém da natureza e de zombies reais – os criadores da franquia de sucesso basearam-se numa espécie de fungo que infeta insetos e realiza uma espécie de controlo da mente nos seus hospedeiros. Ophiocordyceps unilateralis, o fungo do género Cordyceps conhecido comummente pelo nome do género, infecta insetos tais como formigas ou aranhas. Semelhante a outros endoparasitas, o cordyceps esgota por completo os nutrientes do seu hospedeiro antes de produzir esporos em quantidades elevadas que permitirão a reprodução do fungo. O mais impressionante é o fato de cérebro permanecer funcional enquanto o fungo controla aos poucos as estruturas musculares do hospedeiro, que continua com suas atividades instintivas, com toda a noção espacial, mas perdendo o domínio dos seus movimentos à medida que o fungo toma conta do sistema nervoso central. Este processo demora em média duas semanas após a infeção. Em seguida, o fungo obriga o inseto hospedeiro a procurar um local elevado e aí permanecer, antes de expelir os esporos e infetar outros insetos próximos de si. Todo este processo pode levar mesmo meses, ao contrário do que ocorre em The Last of Us, onde tudo parece acontecer de imediato.

A ciência ainda não parece ter uma resposta plena de como o cordyceps é capaz de ter este efeito sobre os insetos, embora existam algumas teorias. Uma delas aponta para a possibilidade de existir alguma combinação de manipulação física das fibras musculares, com possível crescimento para o próprio cérebro, que pode ter impacto no seu comportamento. Outra possibilidade aponta para o provável o ataque bioquímico ao hospedeiro, quer por pequenas moléculas, quer por proteínas, que acabam por manipular o comportamento do cérebro. Outra grande diferença entre a forma como o fungo é retratado na série televisiva e na vida real é o facto de o cordyceps não infetar outros hospedeiros através da boca e os infetados não estarem ligados uns aos outros através de uma “rede”.

Portanto, o fungo é real e pode transformar os insetos em zombies. Mas será que constitui uma ameaça para nós? A resposta traz algum conforto – não, o fungo não pode infetar humanos. Isto deve-se ao fato da temperatura corporal do ser humano ser mais alta que a dos insetos, o que leva a que as proteínas dos fungos desnaturem e estes não consigam sobreviver num hospedeiro humano. Mas há espécies de fungos que são capazes de suportar temperaturas mais elevadas, e por isso infetar os seres humanos. As alterações climáticas estão a munir certos fungos com a capacidade de resistir a temperaturas mais elevadas, o que poderá levar a que no futuro possam mesmo existir fungos com capacidades semelhantes de controlo da mente a infetar seres humanos. Improvável, contudo. Pelo menos para já…

 A ciência por detrás da ficção

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