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No contexto de formações e explicações, costumo dizer que a Economia não é Matemática. Usa a matemática, como usa também outras ferramentas. A Economia é uma ciência social, muito mais abrangente e muito mais interessante. Aliás, é apenas uma das ciências sociais, interdependente, complementar, pois todas elas são necessárias para o entendimento de cada fenómeno social.
Se há fenómeno que nos tem “ocupado” os últimos tempos, é a inflação. E se há matéria que nos tem preocupado, é a forma de acabar com ela. Neste caso, as decisões tomadas, ou seja, a política económica.
Em 1956, Jan Tinbergen definia política económica como a “manipulação deliberada de certos meios para atingir determinados fins”.
Em 1991, Xavier Greffe dizia que era o “conjunto das decisões dos poderes públicos com vista a orientar a actividade económica no sentido considerado desejável aos olhos de todos”.
Em 1996, João Ferreira do Amaral, referia-se à “actuação dos poderes públicos em domínios económicos destinada à obtenção de resultados previamente escolhidos”.
Em 1998, Nicola Acocella falava da “disciplina que estuda a acção pública no domínio económico, examina o processo através do qual as preferências sociais são formadas, a escolha das instituições e decisões tomadas pelo governo”.
Parecem definições iguais, mas não são. Contudo, há algo em comum claramente: o Estado, a intervenção pública, o seu peso, a despesa pública.
Estamos rodeados de decisões relevantes de política económica. E todos os dias olhamos para as notícias e reparamos em exigências feitas ao tal Estado. No fundo, para que ele cumpra as suas funções. Tanto na afectação de recursos ou eficiência, para que ele faça aumentar o potencial de crescimento da economia; como na estabilização macroeconómica, para que reduza os desvios face ao equilíbrio; e ainda na equidade ou redistribuição, para que faça reduzir a desigualdade, com igualdade de oportunidades e distribuição da riqueza.
E o Estado analisa. As reivindicações continuam. E o custo de vida aumenta. O Estado decide. As greves agendam-se. O salário não chega. O Estado actua.
Em princípio, o objectivo de qualquer política económica é maximizar o bem-estar dos cidadãos. Será sempre o caso? Quem está nas entidades públicas? Que poder têm? Tentam também maximizar o seu bem-estar individual? Questões legítimas.
Como conseguimos medir a utilidade das decisões? O que se deve ter em conta nas decisões de política económica? O presente ou o futuro? Mais impaciência ou mais paciência? Como avaliamos decisões com efeitos no futuro? Como ignoramos hábitos, vícios, pontos de referência? A utilidade é igual para todos? Mesma que seja igual, as circunstâncias são ou não diferentes? Questões válidas, pois há heterogeneidade e a política económica tem efeitos diferentes sobre os indivíduos.
Conseguimos representar as preferências do conjunto da sociedade? Como as ordenamos? Que critérios devemos usar? Deverão servir como orientação geral ou ser usados de forma precisa?
Talvez sejam já perguntas a mais, mas tento “cumprir” o título deste artigo: ajudar a compreender a dificuldade de escolher e tomar decisões.
Na prática, as decisões de política económica (sentimo-las e temos estado cada vez mais atentos a elas) acabam por ser tomadas com base nos efeitos esperados sobre certas variáveis. No caso das políticas macroeconómicas, os indicadores tradicionais são a taxa de inflação (lá está ela!), a taxa de desemprego, a taxa de crescimento do produto, eventualmente o saldo da balança corrente.
Portanto, criam-se modelos, escolhem-se (ou não) os valores dos objectivos, faz-se uma análise histórica, realizam-se previsões, avaliam-se decisões.
Já dizia George Box: “todos os modelos estão errados, mas alguns são úteis”. E assim, com tudo isto em conta, decide-se. A decisão chega até nós. Afecta-nos. Reagimos com intolerância e insatisfação. Medida desadequada. Inaceitável. Desproporcional. Injustificável. Insuficiente. Medida muitas vezes injusta. Quantas vezes assistimos à “destruição” de uma medida, poucos minutos depois da mesma ser anunciada?
Vivemos no tempo da “pressa”. Temos pressa, não aprofundamos. Não admitimos que quem decide tenha dificuldades em fazê-lo, e mesmo quando o faz, exigimos mais justiça. Sem pressa, esta questão da justiça ficará para o próximo artigo.
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