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Diogo Pina Chiquelho
A mesma realidade não é vista da mesma maneira por todos nós. O poeta António Gedeão diz isso de uma forma notável no poema Impressão Digital: Os meus olhos são uns olhos/E é com esses olhos uns/que eu vejo no mundo escolhos/onde outros com outros olhos/não veem escolhos nenhuns/. Ver é apenas um dos nossos sentidos e os olhos só deixam entrar a luz, porque a imagem é uma criação do cérebro. Precisamos refletir sobre tudo o que entra em nós, seja a vida em sociedade ou a política, porque elas já nos chegam mediatizadas e a quererem substituir o nosso pensamento. Vem feitas de urgências, porque querem ser as primeiras a chegar.
A questão já nem está nas diferentes leituras da política, mas porque os seus agentes já se afastaram da realidade e entraram numa realidade paralela. É impressionante ver como os interesses partidários se estão a afastar dos interesses do país; a ausência de propostas e alternativas concretas; a ambiguidade tática que apenas se centra na conquista do poder. Como avaliar a qualidade dos políticos, quando nem sequer há política? É isto que merece discussão e reflexão! Foi aí que regressei a um livro que trago na memória, porque ler ajuda a pensar.
O livro é o Principezinho de Saint-Exupéry! Quando a raposa se cruza com o pequeno príncipe, ele pede-lhe para brincar. A raposa diz-lhe que não pode, que ainda ninguém a cativou. Ele pede desculpa e pergunta-lhe o que quer dizer cativar? Ela responde que é uma coisa que toda a gente esqueceu, quer dizer criar laços! É isto que já foi esquecido na política partidária, já não se criam laços com o país. Vive-se de casos como se fossem golos e num jogo em que ninguém ganha, tudo é tática sem estratégia. Mas o eleitor não é um gravador que se liga para o voto e desliga no dia seguinte. Ele gosta de comparar ideias, ligar-se a uma delas, criar uma relação tal como a raposa!
Acontece o mesmo quando comparamos a prova do vinho e a política. Vota-se no vinho mais caro ou no partido melhor vestido; no vinho que nos sabe melhor ou partido que nos encanta os ouvidos, o mais populista. Quando preço e sabor são iguais votamos no rótulo ou símbolo partidário. É isto que acontece quando não há política e nem laços! O poeta termina a dizer: Onde Sancho vê moinhos,/D. Quixote vê gigantes./Vê moinhos? São moinhos./ Vê gigantes? São gigantes. Este parece ser o retrato da nossa política!
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