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A 7 de novembro último, António Costa pedia a demissão das suas funções na sequência de uma nota do gabinete de imprensa da PGR que divulgou, publicamente, estar o Primeiro-Ministro sob suspeita e investigação. Muito terá o Ministério Público de explicar para sustentar tão demolidora atitude e a razão é simples: terá de conseguir encontrar-se, sem equívocos, entre os factos e a verdade objetiva a que as pessoas, naturalmente, têm direito e obrigação cívica de conhecer a fim de ajuizarem sobre a natureza das coisas.
Dias mais tarde, o Presidente da República, contra a vontade do Conselho de Estado, decidiu convocar novas eleições diluindo assim a surpreendente maioria absoluta que o PS obtivera nas urnas, há menos de dois anos, e da qual se constituira fiel depositário. Afinal, e não é coisa pouca, tratou-se de um voto de confiança do eleitorado na estabilidade que o país necessitava. O PS, no entanto, levou vida atribulada, como já aqui escrevi, e descaracterizou-se num somatório de episódios, inimagináveis, a que não soube ou não conseguiu reagir, em tempo útil, como deveria.
“Quid pro quo” – ou não – as eleições vão acontecer no próximo dia 10 de março e os indizíveis resultados deixam-nos numa expectativa confrangedora. E porquê? Porque, pelo andar da carruagem, nada se vislumbra de consequente com o comum desejo de estabilidade. O PS quer ganhar e construir uma maioria à esquerda; e o PSD quer ganhar e construir uma maioria à direita, mas sem o Chega, contra a vontade dos velhos falcões laranja, sublinho! Até a Fénix renascida, plena de artroses, aconteceu sob a forma de uma nova AD. Tudo coisas simples como se constata. Bem sei que no dia a seguir, a 11 de março, a “realpolitik”, alimentada pelo desejo de poder, optará pelos caminhos disponíveis, mesmos aqueles que, por agora, todos consideram intransitáveis.
Por ora, a preocupação é outra: reorganização interna dos partidos e definição de estratégias para o embate político. Em escassos sessenta dias, de 7 de novembro a 7 de janeiro, o PS disputou a liderança interna e consagrou em Congresso Pedro Nuno Santos como novo Secretário Geral e candidato a Primeiro-Ministro. E fê-lo com alguns cuidados, evitando considerações abrasivas entre socialistas candidatos ao mesmo lugar e apresentando-se aos vários órgãos em listas de unidade com José Luis Carneiro a incluir 35% dos seus apoiantes.
E, chegados às listas, é aqui que, por ora e até ao próximo dia 19, todos se concentram. Os problemas do país seguirão dentro de momentos. No PSD um dos deputados revelação terá dificuldade em continuar. A competência e bom desempenho não sintonizados com o “aparelho partidário” valem zero. É assim para todos, membros do Governo incluídos.
No PS a dúvida centra-se no cabeça de lista: João Azevedo ou João Paulo Rebelo? Um era o político com que António Costa tinha maior proximidade e afinidade; o outro, com Pedro Nuno, goza agora desse estatuto. O Presidente da Federação, José Rui Cruz, até pode achar que poderia ser a terceira via, mas o já assumido candidato do PS à câmara de Viseu, João Azevedo, num enquadramento político racional, terá vantagem estratégica, sem dúvida! A João Paulo Rebelo poderão estar reservados outros voos, junto do novo Secretário Geral e com projeção nacional. É um político da sua total confiança, com uma experiência de Governo bem-sucedida. Pode muito bem acontecer que Pedro Nuno queira dar um sinal e João Paulo outro, articulados e no mesmo sentido: ser parte da solução e não parte do problema. No entanto, em política, prognósticos ….!!!
Finalmente, não me parece que Elza Pais, recém-eleita Presidente das Mulheres Socialistas, regresse a Viseu, porque com o atual estatuto o círculo de Lisboa será o que melhor se articula com as suas responsabilidades nacionais. Assim, Lúcia Silva, deverá ser a número dois e José Rui Cruz o terceiro. E não se fala em muito mais por razões que o tempo descodificará. No PS distrital, a disputar um círculo com oito deputados, a convicção que parece ganhar peso é a de que só conseguirá eleger três, menos um do que é habitual. Talvez esteja errado na minha perceção.
Se é por causa do crescimento do Chega, o meu desacordo não poderia ser maior. Não é ao PS, mas à direita que este partido pode retirar eleitores. A eleger um deputado, acredito que as dores de cabeça devam ser do PSD. Caso contrário, o PS só poderia concluir, como Governo que ainda é, que os eleitores não se reconheceram nas suas políticas e na materialização dos seus compromissos. Ora, para além dos momentos em que “se pôs a jeito”, o Governo deixa um legado de investimento, de desenvolvimento, da economia e do emprego, de restituição de rendimentos e de contas certas, tal como é reconhecido por todas as agências de rating.
JJ 2024.01.10
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