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Caídos do céu

 Caídos do céu
17.09.22
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 Caídos do céu

1. É muito raro mas às vezes caem rãs do céu. Sapos também.
A primeira vez que ouvi falar de chuva de rãs foi num episódio de “O Mundo Misterioso de Arthur C. Clarke”, em que era dada a explicação científica para o fenómeno.
A chuva de sapos aparece em “Magnolia”, o genial filme de Paul Thomas Anderson que pega em todas as culpas das personagens e revira-as por dentro e por fora, enquanto, na banda sonora, Aimee Man lhes vai cantando que a dor “Não vai parar / Não vai parar / Não vai parar / Enquanto não melhorares”, “It’s not going to stop / It’s not going to stop / It’s not going to stop / ‘Til you wise up”.
Há um Tom Cruise misógino e testosterono, há uma bela Julianne Moore deprê, há muitas e retorcidas personagens, e, a certa altura, há – para regressar ao tópico desta crónica – sapos que caem do céu, muitos sapos, gordos, viscosos, grandes, a precipitarem-se com fragor, a partirem vidros.

2. Na primeira metade deste ano da graça de 2022, os lucros das Cinco Grandes dos petróleos atingiram 160 mil milhões de dólares. A BP, a Chevron, a Exxon, a Mobil, a Shell e a Total têm feito um festim com aquele dinheiro caído do céu. Por todo o mundo, a mesma cena em todas as Eléctricas que não dependem do gás natural.
Cá, no nosso rectângulo à beira mar plantado, o mesmo filme: no primeiro semestre, caiu do céu muito dinheirinho em cima da EDP, da Galp Energia e da Edp Renováveis. Foi uma enchurrada de 846 milhões de euros de lucros, o dobro do período homólogo de 2021.
Perante isto, os governos começaram a lançar impostos especiais sobre este dinheiro caído do céu. Para eles, estas receitas extra são um maná, quer do ponto de vista material (mais receitas), quer do ponto vista social (os povos precisam de Schadenfreude, para um bom oleamento da máquina colectiva os poderosos têm, uma vez por outra, de levar alguma porrada, seja ela real ou encenada).
Este assunto das “Windfall Taxes”, dos “Impostos sobre Lucros Extraordinários”, está a ser falado em todos o lado. António Guterres pô-lo na agenda, o pioneiro Mario Draghi aplicou uma taxa dessas logo em Março em Itália, muitos países imitaram-no ou vão imitá-lo. Não vale a pena, pelo menos para já, entrar aqui em grandes detalhes.
Prefiro chamar a atenção para um assunto de que ninguém fala: estamos com inflações de 9% e os bancos, caladinhos que nem ratos. Quando é que eles começam a remunerar, com juros decentes, as poupanças dos portugueses?

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