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O tabagismo é um hábito multifatorial, principalmente pela nossa predisposição fisiológica para a dependência da nicotina – um estimulante psicomotor nos novos utilizadores, que induz tolerância, ou seja, torna necessário o aumento das doses consumidas para obter um efeito cada vez menor -, e comportamentos adquiridos ao longo da vida, no meio cultural, social, familiar.
O fumo de tabaco é composto por mais de quatro mil substâncias, muitas com efeitos tóxicos e irritantes e cancerígenos (algumas radiotivas).
O tabagismo é a principal causa evitável de morte a nível mundial, provocando cancro, doença cardiovascular, respiratória, entre outras, com mais de 7 milhões de mortes por ano no mundo. A exposição passiva ao seu fumo é também nociva. Filhos de pais fumadores têm problemas respiratórios com maior frequência. Não existe um limiar de exposição segura. É importante deixarmos de fumar, para nós e para quem nos rodeia, sendo tão mais benéfico para todos quanto mais cedo o fizermos.
Qualquer pessoa pode deixar de fumar sem ajuda. A evidência científica demonstra que, com ajuda especializada em consulta de desabituação tabágica intensiva – sendo um processo estruturado – a eficácia da cessação é maior. Nessa consulta o fumador é avaliado para uma melhor compreensão global do seu contexto pessoal, familiar e profissional, motivações e barreiras sentidas no processo de mudança, sendo proposto um conjunto de abordagens de natureza comportamental e medicamentosa, que potenciam a desabituação e cessação. A multidisciplinaridade desta consulta – médico, enfermeira, psicóloga e nutricionista – permite acautelar as necessidades do fumador na área comportamental (promovendo uma entrevista motivacional que aumente a importância dada à desabituação, aumenta a auto-eficácia ou auto-confiança do fumador em atingir esse objetivo), farmacológica (minimizando a síndrome de abstinência de nicotina, e reduzindo a vontade e o prazer de fumar, reduzindo ansiedade), ultrapassando também as barreiras que mais frequentemente podem preocupar a pessoa e comprometer a mudança (por exemplo: ligeiro aumento de peso, ansiedade).
Uma vez finalizado o consumo de tabaco os benefícios são imediatos, e após 1 ano o risco de doença cardíaca coronária desce 50%, aos 5 anos o risco de acidente vascular cerebral normaliza, aos 10 anos o risco de cancro do pulmão reduz 50% e o risco de cancro da boca, faringe, esófago, bexiga, rim e pâncreas baixa, aos 15 anos o risco de doença cardíaca coronária normaliza.
Em consulta os fumadores são avaliados para qualquer suspeita de doença que decorra da exposição ao tabaco, e a partir dos 50 anos, mediante critérios de elegibilidade, poderão ser propostos para deteção precoce de cancro de pulmão com Tomografia Computorizada torácica de baixa dose.
O nosso papel é mostrar ao fumador o caminho para uma vida mais saudável, suprindo-o de ferramentas que lhe permitam “caminhar” da forma mais eficaz e confortável que a evidência atual permite.
Jorge Gonçalves, Especialista em Medicina Geral e Familiar no Hospital CUF Viseu – consulta de cessação tabágica
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