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Dias intensos

 Dias intensos
23.04.22
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Anteontem, enquanto o PCP se punha, mais uma vez, ao serviço da propaganda putinista, Volodymyr Zelensky discursava no parlamento português. Amanhã, vota-se na França. Depois-de-amanhã, é o dia da liberdade. 25 de Abril sempre!
Abril intenso este.
Já não há “políticas patrióticas de esquerda”, já não há “políticas patrióticas de direita”, embora ainda haja quem venda e quem compre esse gambozino político. Os problemas não respeitam fronteiras. Um vírus aos saltos no mercado de Wuhan põe um vice-almirante a picar os braços dos portugueses. Os delírios imperialistas de Putin atiram a gasosa acima dos dois euros, armam a Alemanha e metem a Finlândia e a Suécia na Nato.

Este assunto fia mesmo muito fino. Repito o que escrevi aqui logo no início da invasão russa: a UE não pode nem deve dormir descansada à sombra do guarda-chuva norte-americano. Os EUA estão em perda, deixaram de poder ser o polícia do mundo e querem virar-se para a Ásia. Putin, e o seu império-zombie, é muito mais um problema europeu do que norte-americano.
Vêm aí sarilhos e despesas. Músculo militar custa muito dinheiro que vai faltar depois para salários e políticas sociais. Precisa-se de um consenso político na “Europa” entre os democratas-cristãos, os conservadores, os liberais, os sociais-democratas e os verdes.
E, já se sabe: os comunistas e a ultradireita, ambos farinha do mesmo saco putinista, vão querer sabotar todo e qualquer investimento em defesa. Tem que se explicar aos eleitores a natureza daqueles dois, para quem eles trabalham, e derrotá-los não com perseguições ou truques de secretaria, mas com os votos das pessoas. Foi o que tentou fazer Emmanuel Macron nesta campanha eleitoral. Esperemos que amanhã derrote Marine Le Pen.

Como se costuma dizer, “em tempo de guerra não se limpam armas”. Para já, há que apoiar o mais possível os ucranianos. Depois, quando chegar a altura, vamos ter que nos defrontar com problemas antigos que esta guerra agudizou e com problemas novos criados por ela:
(i) os petroestados dirigidos por autocratas são fonte de sarilhos perpétuos que só cessarão quando houver fontes abundantes de energia verde;
(ii) o mundo online é um faroeste sem lei nem ordem, em ciberguerra permanente; para além disso, é um refúgio de dinheiro sujo, por exemplo, em criptomoedas;
(iii) a peste adoeceu a globalização, a guerra da Ucrânia pô-la nos cuidados intensivos;
(iv) há que restabelecer, no mercado global, a confiança no dólar e no euro muito abalada depois do corralito — melhor dito, corralão — que foi feito a activos do banco central russo;
(v) há demasiadas armas à solta, em mãos erradas, em todo o lado, e agora também na “Europa”;
(vi) esta guerra fez regressar o fetichismo militarista; isso é visível na moda, na comunicação social, até nas metáforas que a minha ironia está a usar neste texto; aí vai mais uma: este fascínio pelo mundo militar é “um barril de pólvora com rastilho curto”, basta lembrarmo-nos das guerras identitárias entre as tribos woke da esquerda radical e as tribos nacionalistas e religiosas.

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