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Margarida Benedita
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Rita Mesquita Pinto
Antes de mais, devo-te um agradecimento. Não pelo valor artístico da obra que deixaste nas paredes de Viseu, nem pela sua pertinência filosófica. Agradeço sinceramente pelo facto de confirmares que temos de continuar atentos à tua existência. Temos de continuar a ser melhores professores, melhores cidadãos, melhores legisladores. A existência do crime de racismo obriga a que não baixemos os braços e continuemos a legislar para te ensinar e limitar a dimensão dos teus atos amedrontados.
Após esta nota sobre o que me fizeste sentir, aproveito para tecer mais alguns comentários sobre o teu uso de tinta.
Temos vários racismos feios em Portugal; o racismo das maiorias sobre as minorias, o das minorias sobre as maiorias e temos ainda as xenofobias, as homofobias e todas as outras perversões fóbicas de gente ignorante e medrosa.
Desde novo que me fui habituando tristemente às piadas entredentes e às tiradas nas conversas de café sobre mãos e pescoços e nós e eles… Lembro-me de ser mais novo e não pensar que o assunto fosse muito importante, até porque vinha de pessoas que não eram necessariamente más… Era só uma piada generalizada.
A piada perdeu-se.
Perdeu-se qualquer piadinha quando crescemos e aprendemos que uma democracia obriga a perceber o lado do outro. Perdeu-se a graça, quando percebemos que não deve ser fácil ver sapinhos de louça nas lojas a dizer-nos que não somos bem-vindos. Perde-se o sorriso quando percebemos o horror de viver uma vida inteira a não conseguir o aluguer de casa ou as compras que precisamos porque temos um determinado tom de pele.
Acrescento a esta falta de comédia um outro elemento. Durante muitos anos, conseguimos ir pondo debaixo do tapete todos os efeitos colaterais de décadas de ditadura fascista. Uma das principais estratégias dessa ditadura era a “Política do Espírito”, assente num conjunto elaborado de ferramentas de repressão, comunicação e inculcação ideológica. Ensinou um povo inteiro a obedecer sem duvidar e a acreditar que há humanos melhores que outros. Obviamente que esse passado não é a única razão para a existência de racismo em Portugal… Infelizmente, esse flagelo grassa por todo o mundo. No entanto, o nosso racismo anda a par com esse sedimento fascista. Geralmente, onde está um racista, encontramos um salazarista em potência. Esse fenómeno tem sido agora evidenciado com o aparecimento de forças políticas associadas à extrema-direita mundial.
Acredito que essas forças políticas estão a conseguir trazer para a luz aquilo que andou no campo da piadola durante décadas. Aquilo que era dito nas mesas dos cafés de forma envergonhada passou a ser dito na praça pública.
Não passa a estar certo por ter tempo de antena. Não passa a ser legal por ser dito publicamente aos berros. Uma idiotice é sempre idiotice, tal como um crime é sempre um crime.
A nossa capacidade democrática de aceitar todas as opiniões não é confundível com a aceitação do crime e da violência. A grande ignorância do senhor pintor de paredes só pode ser combatida com grande conhecimento e mão firme sempre que a piadola surja.
Esta é uma boa altura para explorar uma ideia importante para a democracia: votar em racistas é ser racista. Votar em xenófobos é ser xenófobo. Votar em homofóbicos é ser homofóbico. E isso é viver com medo, pois só é agressor aquele que tem medo de ser agredido.
É por isso que apelo a ti, caro artista mural da cidade de Viseu: não tenhas medo. Vai correr tudo bem. Tenta ver o teu mundo de forma mais luminosa, pois a nossa morte é certa e só interessam os sorrisos que vivemos neste mundo. Cada dia perdido com ódio é um dia perdido. Experimenta ler e aprender mais sobre o holocausto nazi e lembra-te que tu e a tua família também poderiam ter sido vítimas do racismo de Hitler, considerando que não deves ter um passaporte alemão, nem estar filiado no partido Nazi. Lê mais sobre Direitos Humanos e sobre a tentativa que todos fazemos desde a década de 40 para termos um mundo mais justo. É uma luta difícil que não acabará cedo, mas é o lado certo, por mais que te digam que ser racista é ser do bem… Até podes achar que não és mau, mas não estás do lado das pessoas livres e felizes.
Enquanto isso, continuaremos a ser um dos melhores países do mundo para viver na ótica do imigrante. Continuaremos a trabalhar para termos saúde, educação e habitação para todos. Não será um trabalho fácil, mas será muito mais fácil se decidires juntar-te a nós em vez de estares à procura de coisas para ter medo.
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Margarida Benedita
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Diogo Pina Chiquelho