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Home » Notícias » Concelho » Viseu » Filipe Raposo apresenta “Variações do Branco” no Teatro Viriato

Filipe Raposo apresenta “Variações do Branco” no Teatro Viriato 

O pianista e compositor Filipe Raposo regressa ao Teatro Viriato, em Viseu, no dia 23 de maio, para apresentar “Variações do Branco”, o terceiro e último volume da “Trilogia das Cores”. Em entrevista, fala sobre o simbolismo das cores, o percurso criativo e o diálogo entre geografias e culturas que atravessam este novo trabalho

 Filipe Raposo apresenta “Variações do Branco” no Teatro Viriato - Jornal do Centro
23.05.25
fotografia: Abel Andrade
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 Filipe Raposo apresenta “Variações do Branco” no Teatro Viriato - Jornal do Centro
23.05.25
Fotografia: Abel Andrade
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 Filipe Raposo apresenta “Variações do Branco” no Teatro Viriato - Jornal do Centro

O que é que apresenta em Viseu, tendo em conta que em 2020 também apresentou o primeiro álbum da trilogia?

Vou apresentar, no dia 23, o final desta trilogia, que é o Volume III, que se chama Variações do Branco, e esta trilogia começa em 2019 com o Ocre, depois em 2022 o Obsidiana, o Volume II, e o Volume III Variações do Branco.

Porquê “Trilogia das Cores”?

A ideia inicial parte desta ideia das três cores de Orfeu, que são precisamente o vermelho, o preto e o branco. Estas três cores são também cores arquétipas, relacionadas ou enraizadas em antigas tradições e estão presentes em muitos códigos culturais que muitas vezes nem sequer estamos conscientes deles.

Todos nós sabemos que quando morre alguém há a tendência de vestir o preto, que é a cor socialmente aceite para o luto, mas no entanto, esta mesma cor, noutras culturas e no Oriente não é a cor do luto. A cor do luto é precisamente o branco.

Consoante o sítio ou posição geográfica onde estamos, as cores enquanto códigos vão ganhando também simbologias diferentes. Ainda há pouco tempo, a propósito das cores e a propósito da escolha do novo Papa, quando o Leão XIV apareceu a falar, apresentou precisamente as vestes brancas e as vestes vermelhas. Tudo isso desencadeou uma série de análises à volta do que aquilo significaria.

Essa trilogia pode então ser entendida como uma reflexão sobre a simbologia das cores?

Este ensaio sonoro, a Trilogia das Cores, é precisamente uma reflexão artística sobre a cor ao longo da história. Tem o domínio sociológico, na análise social, na análise da literatura, mas também tem um domínio artístico, porque as cores sempre estiveram intrinsecamente ligadas à arte e ao próprio nascimento da arte.

O que representa a cor ocre no Volume I?

A Trilogia das Cores começa no Volume I, com o Ocre, associado ao nascimento da arte e que está presente também até nos grandes ritos da existência. Sabe-se que pintavam os corpos dos recém-nascidos, na Antiguidade, estamos a falar de Paleolítico, com esse pigmento, com o ocre, para proteger a criança de picadas de insetos, ou até quando alguém morria, também pintavam o corpo com essa lama, com essa cor ocre, que simbolizava o sangue e a vida após a morte.

E no Volume II, o que representa o Obsidiana?

No Volume II, no Obsidiana, de certa forma, saímos deste vermelho magma para uma solidificação. A rocha Obsidiana é uma rocha ígnea, chamada a Pedra do Fogo, e é precisamente a fase de solidificação desse magma, dessa explosão, que dá origem a essa rocha chamada Obsidiana.

É interessante porque o preto, por exemplo, já foi, na estratificação social, a cor ligada às classes mais baixas, às classes que trabalhavam a terra, o branco associado ao clero e o vermelho aos guerreiros. A partir do século XVI, o preto ganha ali um estatuto superior e passa a ser uma cor luxuriante, uma cor sofisticada, introduzida pela reforma protestante. Ao mesmo tempo que demonstrava uma certa retidão, porque a pessoa que vestia preto seria uma pessoa simbolicamente reta.

Essas transformações continuam a ter impacto no presente?

Ainda hoje, há certas ordens eclesiásticas que vestem o preto, e nós associamos Tanto o branco imaculado, mas o preto é uma pessoa justa. Há muitas considerações à volta do preto e, metaforicamente, à volta da rocha obsidiana.

Chegamos agora ao branco… 

Finalmente em 2025 chegamos ao branco, que é este álbum que vou apresentar em Viseu. Este branco é um diálogo, de certa forma, entre duas geografias, o norte e o sul.

Quando pensamos em branco, muitas vezes pensamos naquelas planícies geladas, planícies imensas, invernais, mas, também, esse branco eu associo muitas vezes aos desertos imensos de areia. Há aqui um diálogo entre este norte e este sul, em que, basicamente, todo o disco se dirige em direção ao sul.

Há uma faixa chamada “A Idade do Pão”. O que simboliza este título?

O disco começa com uma composição que se chama A Idade do Pão. O pão, neste caso, tem dois domínios, enquanto alimento ancestral dos mais antigos – há quem diga que o pão é o alimento processado mais antigo, com cerca de 10 mil anos de história. E, portanto, a Idade do Pão, o pão branco, normalmente, associamos ao pão de trigo, essa brancura do pão. Mas que nos ajuda, também, a entrar nesta viagem em direção ao sul e em direção ao Mediterrâneo.

Depois, há várias composições que abordam este sul. Uma delas chama-se Entre a Cal e o Sul. A cal, que é o branco do nosso sul, quando pensamos no Alentejo, no Algarve. Se vamos para território mais a sul, como existe em Marrocos, em todo o Mediterrâneo, a cal, de facto, é a brancura. Parece que todo o Mediterrâneo espelha essa luz através da cal.

Outras relações, também, com o solstício de verão, que é o dia mais longo, com mais luz, com as manhãs de São João, tem a ver com esse dia mais longo do ano.

Há ainda uma referência ao vento Suão. Porquê essa escolha?

Encontro também uma outra relação com o sul, com o vento, o vento Suão. Um vento que vem do sul e que, por exemplo, na própria Palestina, está aqui uma dimensão política, também, ao escolher este tema, porque na Palestina este vento suão simboliza casa, regresso. De certa forma, era importante mencionar, tendo em conta o contexto político, há aqui este pensar, também, nesse oriente próximo através do vento.

Que outras imagens o branco evoca no disco?

O alinhamento do disco vai avançando com o linho, com a cor do linho, com a noite branca, a noite mais curta do ano, o fogo que ilumina e dá conhecimento. Há todo um universo simbólico que a luz e o branco trazem.

Como é regressar ao Teatro Viriato? Que sentimento lhe traz?

O Teatro Viriato, enquanto edifício arquitetónico é belíssimo, é uma escala perfeita para a cidade, depois desde a primeira vez tem sempre uma equipa técnica incrível, sempre muito prestável, muito profissional. De certa forma eu sinto-me muito em casa. Depois há alguns amigos, ao longo de tantos anos, que é sempre uma oportunidade de reencontrar, e outros, espero que também seja uma boa surpresa para eles se não conhecem a Trilogia.

Lanço o desafio de virem conhecer a Trilogia. É o final desta viagem, mas todo este ciclo que começou em 2019 tem uma unidade que eu espero mostrar em concerto.

Como se define enquanto músico e criador?

Eu costumo dizer que aquilo que eu sou enquanto músico, herdei apenas uma parte da música. Normalmente pensamos que um escritor escreve porque lê muitos livros, mas não só. Um cineasta, por exemplo, herdou toda a sua imagética visual a um pintor, das imagens, em movimento ou paradas, mas não só.

Na música é a mesma coisa. No meu caso há uma parte que eu herdei, obviamente, da música, porque tem a ver com uma experiência académica, dos anos de aprendizagem, mas isso é tão importante como todos os filmes que eu vi, todos os livros, todas as partilhas humanas que vamos fazendo ao longo da vida, as viagens, os sabores.

Viver é experienciar isto tudo com os sentidos todos que temos. Depois eu acho que os artistas têm esta possibilidade de traduzir, através da sua arte, tudo aquilo que vão vivenciando.

Além da música, que outras áreas influenciam o seu trabalho?

Este disco e a minha música tentam traduzir a experiência que eu vou tendo. Há outros gostos paralelos que eu acho que estão presentes nesta Trilogia, tem a ver com a antropologia, com a etnologia, com a ciência ligada ao estudo da humanidade.

Quanto mais conhecimento estiver envolvido e eu consiga traduzir isto de uma forma simples, eu acho que mais rico será o produto final, o disco, o concerto, e o público que assistir.

Além do concerto em Viseu, onde poderá ser ouvido ao vivo este novo trabalho?

O foco neste caso será dado ao concerto de lançamento no dia 23 de maio. No dia 13 de junho estarei no Centro Cultural Raiano, em Idanha a Nova, e depois no dia 19 de junho, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. O livro-disco é distribuído pela Tinta da China, e estará nas livrarias, lojas e também nas plataformas digitais.

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 Filipe Raposo apresenta “Variações do Branco” no Teatro Viriato - Jornal do Centro

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