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Fios condutores

 Fios condutores
12.06.21
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Comecemos por Ana Luísa Amaral (Lisboa, 1956) recentemente galardoada com o Prémio Rainha Sofia de Poesia Ibero-Americana, considerado a maior distinção para a poesia no espaço literário ibero-americano.

Fragmento de poema in “Imagias (Um pouco só de Goya: Carta a minha Filha)”
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«E o que queria dizer-te é dos nexos da vida,?de quem a habita para além do ar.?E que o respeito inteiro e infinito?não precisa de vir depois do amor.?Nem antes. Que as filas só são úteis?como formas de olhar, maneiras de ordenar?o nosso espanto, mas que é possível pontos?paralelos, espelhos e não janelas.»
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Continuemos comigo. Quando vivia no Porto, costumava ir ao Museu Soares dos Reis passar a tarde a ver pinturas dos naturalistas portugueses, e percorrer aquelas salas cheias de quadros dava-me tranquilidade. Anos depois, já em Viseu, fui ao Museu Nacional Grão Vasco falar com o Dr. Agostinho Ribeiro, que então era o diretor, para pedir a sua colaboração no âmbito da minha tese de mestrado, e que me recebeu no seu gabinete. Na parede, um magnífico quadro de um pintor naturalista português. Senti-me logo em casa, e disso me lembrei agora ao visitar a exposição «Identidades Portuguesas – Pintura de Viagens» que lá está e vai ficar até fins de setembro.

Costumo dizer que parte significativa da minha formação artística e cultural, independentemente da passagem pelas universidades, aconteceu nas minhas visitas à Fundação Calouste Gulbenkian e às exposições marcantes que aí vi. Agora a fundação colocou na internet todas as exposições que efetuou, e isso permite recuperar parte da história da arte em Portugal e vai dar-me a oportunidade de revisitar o meu passado. Por exemplo, foi lá que pela primeira vez vi uma exposição de mobiliário nórdico (julgo que da Finlândia) e de objetos decorativos e mobiliário vernacular americano. Espero um destes dias navegar no site da fundação à procura destas minhas memórias…

A nossa vida é feita, em parte, destes fios condutores que nos permitem dar-lhe sentido. O tema da banca não é muito bem aceite entre nós, no entanto eu tenho uma longa relação (platónica…) com algumas fundações ligadas a bancos. O Novo Banco, atualmente, é quase sinónimo de discussões sobre transferências de verbas. Mas eu recordo também a sua excecional coleção de fotografia contemporânea e o seu prémio, ou a Fundação Ricardo do Espírito Santo Silva e a sua importância para os ofícios tradicionais e as artes decorativas em Portugal (que me perdoe a senhora deputada Mariana Mortágua, que aliás muito admiro).

Ou a Fundação Millenium BCP, com extensa ação de mecenas ligada à arte e cultura, e um espaço expositivo na Baixa Lisboeta por onde já passaram exposições únicas. Bem como a Fundação La Caixa ligada ao BPI, muito ativa na divulgação cultural e apoio social. É justo lembrar que sob o lema #TodosJuntos, 10 bancos do sistema financeiro português e mais de 30 empresas, juntaram-se para organizar uma iniciativa de solidariedade centrada no apoio alimentar às famílias (rede de emergência alimentar).

Voltando à literatura, uma das obras que prefiro (entre todas) é “A Cidade e as Serras”, de Eça de Queiroz. Já vem da adolescência e de comprar o livro no Círculo de Leitores. Fechado no meu quarto, em Lisboa, sonhava com aquela canja que o Jacinto comeu em Tormes. Falta-me visitar a Fundação Eça de Queiroz – a viagem até já esteve marcada pelo Grupo de Amigos do Museu Grão Vasco (GAMUS), mas chegou a pandemia e trocou-nos as voltas. Preciso mesmo de ir lá ao restaurante comer uma canja ou um arroz de favas e conversar com o Eça…

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