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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Jorge Marques
Vim para casa e escuto Bach neste final rútilo da tarde. Depois de um mês de chuva e manchas cinzentas, esta luminosidade é uma bênção. Ainda de manhã, em conversa com uma minha colega de filosofia, confessava eu a alegria de se estar vivo por motivos tão simples como este de sermos banhados pela luz solar. Acrescentei a visão das flores do campo, a leitura, a música e o cinema. Ela é mais cética. Inteligente, culta, mas cética. Confrontada com a questão da morte, não se revolta, não se sente agredida por esta ideia, aceita-a. Ainda ontem revelou que, caso tivesse sido consultada previamente sobre a opção de nascer ou não, teria optado pela negativa. Fico estupefato com estas declarações. Sobretudo tendo em conta pessoas como ela, saudável, instruída, bonita, com salário. Este menosprezo pela vida confrange-me. Nem sei o que dizer desta gente tão mal agradecida.
Acabei de ler duas obras, em inglês, de Isaiah Berlin. Considero-as fundamentais na minha formação de ideias. A licenciatura em Filosofia assentou exclusivamente em autores da ortodoxia racionalista. Convenci-me por isso da possibilidade de uma verdade absoluta, fundada na lógica racional. Sócrates era o filósofo tutelar. Por ele comunguei da ideia que os conflitos políticos, morais, estéticos e outros encontrariam uma solução nos quadros da racionalidade. Um pouco mais de lógica, uma pouco mais de reflexão crítica e a luz iluminaria todos os aspetos obscuros da situação humana.
No entanto, há muito que conspiravam em mim algumas suspeitas. Não é em vão que se lê Nietzsche e Freud. Ou os novos retóricos e os pragmatistas. Mas nunca as coisas foram tão claras como nas exposições de Berlin. Talvez devido ao estudo que faz de autores não iluministas como Herder.
Há teses mais plausíveis. Há argumentos mais consistentes. Há ideias verdadeiras que poderão ser incompatíveis. Há conceitos que não passam de novos mitos, de um novo senso comum. A racionalidade não é inocente, pura, até porque pode legitimar autoritarismos ideológicos. O importante é o exercício crítico sempre em diálogo com a sensibilidade, a imaginação, o mistério.
Mas mais importante é o amor. Interrompi a escrita por ser a hora do carteiro passar. Havia uma carta da Fátima. Ainda a não abri. Primeiro fecho o diário, e preparo-me para os instantes de plenitude.
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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Jorge Marques
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Magda Matos
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Pedro Escada