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Que bom que fora ter sido ela a ter a iniciativa daquele desabafo, daquela visão da vida, porque eu, durante o almoço, também reconhecera, oculto, subterrâneo, um certo incómodo que não soube na altura identificar e verbalizar.
Ela beijou-me, devagar, os lábios, prendendo-os dentro dos seus. E abraçámo-nos mais fortemente. Por fim, saímos dali, não como quem foge da peste, não, apenas porque sentíramos que bastara de vida burguesa. Tudo aquilo era bom, tudo aquilo era bonito, mas a nossa exigência era de uma beleza mais chã, mas também mais metafísica, e fomos procurar outras paragens. Descemos para a cidade antiga, que percorremos vagarosamente, imbuídos de uma nostalgia medieval. Entrámos num café, e foi aí, com um ar sério, que a Fátima me perguntou se, para além do amor, da poesia, da visão de vida que partilhávamos, se estaríamos conscientes e preparados para os defeitos de cada um, sobretudo dos dela, porque ela achava que o meu defeito era a minha melhor qualidade, a de respirar, comer e viver poesia. E defendeu-se que nem achava que isso fosse defeito, talvez só atrapalhasse no pragmatismo do quotidiano.
Sentados ao fundo do café, tão concentrados na nossa intimidade, que mal dávamos pelo sussurro à volta, conversámos então sobre os nossos possíveis defeitos. Perguntei-lhe que imperfeição ela reconhecia em si própria. Riu-se. Não sabia. Uma colega dizia-lhe que ela era perfeita como um chocolate, os patrões chamavam-lhe lieb, ou schatz, isto é, doce ou doçura, raras vezes pelo nome. Outras colegas, de várias nacionalidades, chamavam-lhe nette, boazinha. Acrescentou, em jeito de justificação, que achava uma perda de tempo envenenar a vida com mesquinhices, invejas, ressentimentos. Disse também que depois de se ler Novalis, Hölderlin, e outros poetas da ética do infinito, que o mínimo que se exige é uma certa elegância de atitudes.
Confesso que escutar a Fátima é cada vez mais uma surpresa. Esta conexão necessária entre a poesia e a ação, entre a poética e a ética não é uma filosofia corrente hoje em dia. Os antigos gregos, como Platão, estabeleciam essa ligação. Para ele, até a política era a arte ou o exercício de formar melhores cidadãos. Tão longe estamos dessa perspetiva no nosso tempo, em que se exige dos governantes apenas melhores serviços e mais bem estar material, que até eu próprio assimilara um tanto este espírito da época.
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