Com o lema “20 anos de História a olhar para os Próximos…
A taróloga Micaela Souto Moura traz as previsões do Tarot, na semana…
Com a chegada do outono, é altura de saborear os ingredientes da…
por
Clara Gomes - pediatra no Hospital CUF Viseu
por
Pedro Escada
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
E fomos. A um restaurante no jardim das Rosas, em alemão, Rosengarten, com uma vista lindíssima e preços caríssimos. Mas o dia era nosso, e o amor merece o melhor do mundo. Demorámos a refeição, aproveitando o gozo de cada instante, de cada garfada, de cada olhar, de cada palavra e de cada gesto. Disse-lhe que não merecia tanta dádiva. Nem sabia se a merecia. Do restaurante fomos caminhar para o jardim, com a vista da cidade a acompanhar-nos. Pouco depois de avançarmos uns passos, ela comentou que apesar de ter gostado, não era o seu ideal aquele tipo de restaurante nem até o próprio jardim e cidade. Reconhece que é tudo muito bonito, limpo, organizado, mas falta-lhe uma alma, uma outra poesia, mais interior, menos superficial, mais romântica, daquele romantismo que se respira na visão mística de um poeta como Novalis. A maioria das pessoas acharia tudo o máximo, mas ela perceciona aquela aparência como se de um postal ilustrado se tratasse. Disse que se sentia mais ela mesma na intimidade do anexo que habita e no jardim, menos cuidado, mais desleixado, que o rodeia. Continuei a escutá-la. Disse-me que deve ser uma loucura confessar estas coisas, mas que este panorama majestoso que se vislumbra a enche de uma tristeza incompreensível. Parece o cenário de um teatro, de um filme cor-de-rosa, não de uma vida que se deseja plena, vivida no suor de uma alegria maior. Para gente como ela, oriunda da antiga zona designada saloia de Lisboa, esta cidade, estes jardins, estes restaurantes, estas artérias de pessoas bem vestidas, deveriam ser o paraíso. Mas ela sentia-se deslocada, não por perceber qualquer discriminação, acreditava mesmo que ninguém lhe notaria algo de diferente, passava sempre por suíça, até pelo domínio perfeito do alemão, talvez o único sinal distinto fosse a sua cor mais morena. Não, o que ela queria dizer situava-se a um outro nível, existencial, poético, filosófico. Preferiria uma aldeia perdida na serra da Lousã, no centro de Portugal, convivendo com pastores e agricultores, a cuidar de meia dúzia de ovelhas, a viver para sempre na Suíça. Apesar do agradecimento que devia a este país.
Sentámo-nos numa zona da relva em declive sobre uma das ruas que, mais abaixo, circundava o parque. Tinha-lhe pegado na mão, acariciando-a devagar. Ela calara-se. E eu disse-lhe, olhando-a nos olhos, que ela era eu, uma alma gémea, já não sabia dividir a nossa identidade em duas partes, como se nos tivéssemos fundido numa unidade originária. Onde acabava o seu eu e começava o meu?
por
Clara Gomes - pediatra no Hospital CUF Viseu
por
Pedro Escada
por
Joaquim Alexandre Rodrigues
por
Jorge Marques
por
Helena Barbosa