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E, ontem, a convite da jovem do castelo para um almoço, assisti, na sua aldeia, a uma tourada. O propósito não era exatamente esse, mas acabou por acontecer, apesar das minhas reservas em relação a este tipo de espetáculo. Não sinto nenhuma afinidade com o que quer que seja ligado ao sofrimento. Mesmo de um animal. Não é tanto uma questão de princípio, mas sobretudo de sensibilidade. Mas não resisti à doçura do pedido dela. E fui. Durante o almoço, quer ela quer o pai tentaram explicar-me que o que estava em causa se prendia sobretudo com emoções, e com o talento do jogo entre os intervenientes na arena. O objetivo do evento em nada se compaginava com algum deleite na crueldade ou no sofrimento. Não me esforcei na argumentação, não queria de modo algum suscetibilizá-los. Acompanhei-os. Ela disse-me, no entanto, que sairíamos a meio, não pretendia traumatizar-me logo na primeira sessão. E piscou-me um olho, maliciosa. Deste espetáculo tauromáquico ficou um registo fotográfico, em que me vejo com um ar pouco satisfeito ao lado da jovem do castelo.
E, como prometido, ao fim de pouco mais de uns quarenta minutos, retirámo-nos. Ela, passou pelo pai, sentado um pouco mais acima, segredou-lhe algo e veio ter comigo à saída. Feliz, alegre, de bem com a vida. E não se conteve de me dizer, num largo sorriso, que tínhamos casa e carro ao serviço dos nossos desejos. Das palavras aos atos foi um ápice. No quarto abriu as portadas por onde o bafo da tarde e os ruídos da tourada entraram em borbotão. E foi com um jeito desinibido, em contraste com o meu embaraço, que se despiu, ajudando-me de seguida a desembaraçar dos meus bloqueios em seguir-lhe o exemplo. Nunca me acontecera fazer o ato de amor ao som confuso dos olés e outras exclamações tauromáquicas. Ela mesma as imitava, sem receio, solta como um animal bravio.
Mas o mais insólito veio depois. Ainda nus, levou-me ao quarto dos pais, e, abrindo uma gaveta do fundo de um guarda roupa, expôs-me o enxoval que a mãe lhe preparava. Ela confidenciou-me, e pareceu-me um pouco receosa, que não se deveria mostrar estes segredos antes do tempo aos namorados. Perguntei-lhe por que o fazia. Ela disse porque me amava. Sem palavras, sem reação, apenas a observava, comovido e admirado com as múltiplas facetas desta minha amiga, deste meu amor marcado pelo desencontro da vida.
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