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Fragmentos de um Diário: 13 de Abril de 1986

 Fragmentos de um Diário: 13 de Abril de 1986 - Jornal do Centro
23.03.24
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13 de Abril de 1986

Espalho as cartas da Fátima sobre o sofá e uma a uma as releio. Devagar, frase a frase, ensimesmado no universo íntimo que desvelam. Sigo a linha de pensamento que ela expõe, numa atenção por pormenores, pelas franjas de uma ideia, por aqueles traços ínfimos que nas primeiras leituras são secundarizadas. Dedico o fim-de-semana a este exercício hermenêutico. Nenhum motivo especial fundamenta este ato. Tão só o desejo de me aproximar mais dela, de a compreender até ao osso da alma. Preciso impedir que o sentimento obscureça as outras dimensões. Não basta o afeto. O amor pode ser uma cegueira. O amor, sem querer, pode obnubilar-nos a pessoa amada, deixamos de a ver na sua realidade, no seu ser, para nos fixarmos numa imagem por nós fabricada. Passamos a amar uma representação. E eis-nos a mudar de cenário, a entrar num outro teatro, em que duas pessoas se desacertam no sentimento porque se entregam a um jogo de figurações. E eu, consciente disso, preparo-me para o grande encontro, a aventura cujo início está para breve. Em setembro, a Fátima regressa de vez. Está tudo tratado com os patrões. O hotel fecha para remodelação no fim de agosto. Com o que recebe de indemnização, resolve praticamente os empréstimos contraídos com os apartamentos. Se ficarmos uns tempos na Costa da Caparica, já sondei e me convenci de que a Fátima poderá dedicar-se a explicações de alemão. Foi ela que pediu que me informasse. Ela prefere esta opção a qualquer outra, pela margem de liberdade que teria de gerir o seu tempo.
Mas o seu sonho é a serra da Lousã. Uma casinha numa encosta com a natureza a envolver-nos e algumas cabras e ovelhas a conviver connosco por ali. Eu digo que sim, mas lembro-lhe que estou dependente das vagas e de um concurso. Mas ela acredita. E eu acredito na sua fé.
Mas gosto da Costa da Caparica. Gosto deste mar, desta praia que se espreguiça numa serpente de areia até ao cabo Espichel. São uns trinta quilómetros de distância. Que é como se dissesse de liberdade, de um abraço interminável de vento, arribas e água. Ainda não percorri de uma só vez esta largueza. Basta-me a bebedeira do olhar perdido no horizonte.
Enchi os bolsos do kispo com algumas cartas da Fátima e fui para a praia lê-las, acomodado num dos paredões que avançam para o mar. Ali, abrigado do vento pelas pedras volumosas, deixei-me estar na leitura até adormecer um pouco, embebido das palavras que vinham de longe e me traziam a presença da minha amada.

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