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Joaquim Alexandre Rodrigues
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Joaquim Alexandre Rodrigues
Gostaria de fazer da minha vida um ato poético. Descobrir caminhos, caminhar sem esta sensação pesada de ir gastando sem alegria os dias, de caminhar como quem canta e põe o seu corpo e a sua alma nesse ato.
Preparo-me para dar um passeio. Levo nos bolsos as cartas da Fátima e com elas irei até o jardim público, encostado às muralhas do castelo e sobranceiro à paisagem alentejana. Fui mas nem uma carta li, logo interrompido por conhecidos, alunos, colegas. Regressei assim que pude, furibundo. Agora, deitado na cama, vou dedicar-me ao meu exercício dileto, o da literatura epistolar. Vou ler as epístolas aos carentes de amor.
13 de Março 1984,
Estou mesmo ferido de saudades. É mais grave que das outras vezes. Vivo momentos de um desencanto permanente que me incapacita para a normalidade dos dias. Moura fica longe de tudo, sobretudo longe de mim mesmo. Estou aqui, não por opção, mas por efeito de um concurso. Não me queixo da vila, queixo-me da lonjura. Estou aqui duplamente desterrado, do meu amor e da Beira Alta. Não posso disfarçar que aqui vivo como que num outro universo, ou numa prisão, à espera que o tempo passe. E ele passa e por passar me dói também, porque é tempo roubado à alegria e ao amor.
Escrever? Mas para quê? Dizem que um computador já o faz e se calhar melhor. A poesia sempre foi algo muito humano que tinha a ver com o que há em nós de mais nobre, profundo, e é um desânimo saber que uma máquina já nos usurpou esse instrumento de expressão. Resta-nos ainda ser os únicos capazes de vivências poéticas.
E por falar em vivências poéticas, a jovem do castelo de Mourão já me visitou mais vezes. Algumas delas, vem diretamente para Moura, não vai a casa dos pais. Passa as noites de sexta e sábado comigo. No domingo, regressa a Lisboa. É bom estar com ela. Divertimo-nos, sobretudo sexualmente. Sei que não é a ela que quero. Não tenho dúvidas. E porque não as tenho, consigo estar com ela numa atitude descomprometida.
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Raquel Costa, presidente da JSD Concelhia de Tarouca
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