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Outro fim de semana com a jovem do castelo. Acabo de a acompanhar ao autocarro. Ocorreu desta vez uma cena. Reveladora da ambiguidade dos meus desejos, da complexidade dos meus demónios interiores.
Na sexta-feira, esperava-a com todos os sentidos apurados por um único objetivo. Ao chegar, mal lhe dei tempo para arrumar a mochila, falar, mostrar a sua alegria, fumar um cigarro. Dificilmente lhe ocultava o que me ardia no corpo, embora a tenha deixado acabar o cigarro e a narrativa da viagem. Depois, fizemos o que desde o início me motivava, desde ontem, desde toda a semana. E foi bom, e senti-me, sentimo-nos tão bem que nos vestimos e fomos passear pela vila, contentes, harmonizados com a vida. Jantámos fora, bebemos um copo num bar, fugimos aos conhecidos, e regressámos ao quarto.
Sábado, ao acordar, e ao vê-la deitada a meu lado, algo se rasgou interiormente. Não suportei a minha fragilidade, repugnou-me esta submissão aos instintos primários. Um sentimento de culpa pela minha leviandade angustiou-me com uma violência que me fez chorar. Chorei, incapaz de conter as lágrimas que me lavaram o rosto, silenciosas. Vesti-me rapidamente e saí de casa. Apetecia-me bater nas paredes das casas, bater-me a mim próprio, abandonar a vila, desaparecer no horizonte. E caminhei num passo de marcha forçado pelas ruas, sem parar, sem pensar, tão só atazanado comigo próprio. Ao fim de umas duas horas descansei o desconforto interior numa mesa de café. Comi qualquer coisa, fumei mais um cigarro, refleti. Pensei que entretanto em casa estava alguém inocente dos meus desvarios, e, a esta hora, decerto preocupada e sem saber do que se passava. Levantei-me, e ao passar por uma feira de domingo com mil e uma coisas expostas, decidi-me por um urso de peluche, quase gigante, de que eu sabia que ela ainda apreciava apesar da idade.
Quando cheguei, estava sentada numa cadeira, ao lado da mochila, pronta para partir. Contudo, por gentileza, esperava que eu regressasse. Disse-lhe que por vezes me desesperavam demónios incontroláveis. Que me perdoasse. E ofereci-lhe a prenda, que a surpreendeu e a reconciliou comigo. Mas a verdade é que uma certa tristeza lhe ficou a marcar o modo como me olhava, no que me dizia. Não seria só tristeza, também uma interrogação existencial sobre mim, sobre nós. Fiz tudo para a desanuviar, mas sem mentiras, sem falsas promessas. Sobretudo, desvelando-lhe uma serenidade e um carinho que eu sabia verdadeiros.
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Clara Gomes - pediatra no Hospital CUF Viseu
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